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Como memes e tweets abalaram o Credit Suisse, um dos bancos mais tradicionais da Suíça
Nos últimos dias, o jornal centenário norte-americano The New York Times, com 117 Pulitzers (o prêmio mais importante do jornalismo mundial) publicou uma matéria que mostra os bastidores do que vem acontecendo com o banco Credit Suisse.
O texto começava com o seguinte twitter: “O Credit Suisse está provavelmente quebrando.”
A afirmação era de Jim Lewis, que escreve para o Twitter frequentemente, usando o pseudônimo de Wall Street Silver. Ele fez essa afirmação para seus mais de 300 mil seguidores no dia 1º de outubro, um sábado. “Os mercados estão dizendo que ele está insolvente e provavelmente quebrado. Será que estamos próximos de um momento como o de 2008?”
O que está acontecendo com o Credit Suisse?
Lewis era um entre centenas de indivíduos – muitos investidores amadores – que vinham especulando a respeito do destino do banco suíço Credit Suisse. A instituição passa por uma reestruturação e tem se tornado alvo fácil após décadas de escândalos, tentativas fracassadas de reformas e problemas administrativos.
Parece não ter havido nenhum motivo imediato para o tweet de Lewis naquele sábado, a não ser um comunicado em que Ulrich Körner, o diretor executivo do Credit Suisse, informando aos funcionários que o banco estava em boa condição financeira.
Mas o tweet, que recebeu mais de 11 mil curtidas e foi retuitado mais de 3 mil vezes, foi um dos muitos posts que ajudaram a incendiar fóruns em redes sociais como Twitter e Reddit. O rumor de que o Credit Suisse estava em apuros ricocheteou pelo mundo inteiro, deixando perplexos os executivos do banco, forçando-os a telefonar para acionistas, parceiros comerciais e analistas para tranquilizá-los, garantindo que tudo ia bem, antes da reabertura dos mercados na segunda-feira.
Por meio de mensagens privadas no Twitter, Lewis disse à reportagem que tudo que tinha consultado antes do seu tweet tinha sido “o preço baixo das ações (do Credit Suisse) e memes no Reddit”. Reddit é uma rede social, como o Instagram ou Twitter, bastante usada pelo mercado financeiro.
No mesmo dia que Lewis tuítou que o banco poderia quebrar, Hunter Kikut postou: “Alta probabilidade do Credit Suisse falir. Venderei minhas posições na segunda-feira”.
Kikut, de 22 anos e morador de Charlotte, na Carolina do Norte, afirmou não se lembrar de ter visto o tweet de Lewis, mas que, em vez disso, um post da Unusual Whales – que se classifica como um serviço de corretagem que “empodera o pequeno investidor” – chamou sua atenção. “Foi por causa do Twitter que fiquei sabendo disso”, afirmou Kikut em entrevista. “Era fim de semana, a coisa simplesmente explodiu. E comecei a fuçar.”
Medo de investidores
Após os mercados abrirem, na segunda-feira, 3 de outubro, Kikut começou a vender a descoberto ações do Credit Suisse – ou apostar que o valor das ações do banco cairia. Naquela manhã, o preço das ações do Credit Suisse despencou quase 6%, retirando cerca de US$ 600 milhões de sua capitalização de mercado e baixando temporariamente o valor de uma ação cujo preço já havia caído mais que a metade desde o início do ano. Conforme se espalhou o medo entre investidores profissionais de que algo poderia estar acontecendo, o custo para segurar a dívida do Credit Suisse contra calote foi às alturas.
Não era a primeira vez que investidores individuais, agrupando-se em redes sociais, haviam deslocado o preço de uma ação tão significativamente. No ano passado, eles agiram de forma concertada para aumentar o valor das ações da GameStop, uma rede de lojas de videogames, determinados a passar a perna em fundos de hedge que haviam apostado que as ações da empresa cairiam.
Mas, desde então, o que começou como um esforço espontâneo para derrubar Wall Street se tornou uma presença comum no mercado. Milhões de investidores amadores entraram no jogo da corretagem de ações, incluindo com uso de estratégias mais sofisticadas como vendas a descoberto. Conforme demonstra o incidente do Credit Suisse, esses atos sublinham uma nova fonte de risco para empresas em apuros.
A história do Credit Suisse
Fundado na Suíça, em 1856, para ajudar a financiar a expansão das ferrovias no minúsculo país europeu, o banco com frequência teve dificuldades em manter a reputação limpa.
Desde a sua fundação, o Credit Suisse tem sido repositório de fundos de empresários sancionados, abusadores de direitos humanos e autoridades de inteligência. O governo dos Estados Unidos multou a instituição em bilhões de dólares em função de seu papel em ajudar americanos a solicitar declarações falsas de imposto de renda, vender valores mobiliários garantidos por hipotecas ligados à crise financeira de 2008 e ajudar clientes no Irã, no Sudão e em outros países a contornar sanções americanas.
Nos Estados Unidos, o Credit Suisse construiu seu banco de investimentos por meio de aquisições, começando pela compra, em 1990, do First Boston. Mas, sem um foco central, o banco – cujos mais graduados diretores trabalham na Suíça – com frequência permitiu que aventureiros perseguissem novos fluxos de renda e assumissem riscos desproporcionais sem supervisão adequada.
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