Credit Suisse vê deterioração dos fundamentos para ações da XP
Segundo relatório enviado a clientes, assinado por Marcelo Telles e Daniel Vaz, o que costumava ser um negócio de crescimento acima do setor convergiu para um ritmo em linha com a indústria financeira
As perspectivas de taxas de juros estruturalmente mais altas e um ambiente competitivo mais desafiador levaram à deterioração dos fundamentos da XP Inc., segundo atualização de análise do Credit Suisse. A casa tem indicação “undeperform” (abaixo da média do mercado) para as ações da companhia, com preço alvo de US$ 15,00.
Segundo relatório enviado a clientes, assinado por Marcelo Telles e Daniel Vaz, o que costumava ser um negócio de crescimento acima do setor convergiu para um ritmo em linha com a indústria financeira. Eles citam que a participação de mercado dos ativos sob custódia no varejo ficou estagnada nos últimos seis trimestres.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
O crescimento da base de assessores de investimentos (IFA), apesar de significativo, também ficou abaixo do ritmo do segmento, segundo os analistas, e a evolução de novas linhas e produtos diminuiu significativamente. “A resilência histórica da ‘take rate’ [medida pelas receitas sobre os ativos em custódia] parece ter sido quebrada, atingindo as mínimas recentes, com a redução ainda maior da ‘take rate core’ [varejo].
A lucratividade do IFA medida pelo ROA [rentabilidade sobre os ativos] também está baixa e pode representar desafios adicionais. O Credit Suisse calcula que o ROA desse tipo de distribuição caia de uma média de 0,71% em cinco anos para 0,59%. Isso pode afetar o crescimento da base de profissionais do canal, aumentando a atratividade relativa da proposta de valor dos bancos para atrair equipes para suas plataformas de investimentos. Pode também levar a uma maior concentração dos escritórios existentes, com uma onda de consolidação.
Últimas em Economia
O relatório do Credit Suisse aponta que o crescimento dos ativos sob custódia no varejo convergiu para a média do setor, atualmente em 16% ao ano, e que espera desacelerar para os 12%, pela expansão nominal mais lenta do PIB e pelo esgotamento do excesso de poupança construído durante a pandemia de covid-19.
Declínio da participação dos assessores
“Acreditamos que uma combinação de fatores estruturais e transitórios tenha contribuído para o menor crescimento e a estagnação da participação de mercado: o declínio da participação dos assessores, dos ativos em ações, a migração para a renda fixa e a maior atratividade dos instrumentos de captação bancária num ambiente de juros mais altos estruturalmente.”
Segundo a análise, a participação de mercado da XP em assessorias de investimentos vem caindo nos dois últimos anos, passando de 63% no segundo trimestre de 2020 para 53% no quarto trimestre de 2022, “uma clara indicação de um ambiente competitivo mais acirrado.”
No mercado como um todo, as taxas de juros altas por um período mais prolongado levaram a uma queda na participação da renda variável, de 17%, no segundo trimestre de 2021, para 12% no quarto trimestre de 2022 no segmento de varejo – excluindo-se a caderneta de poupança. Os instrumentos bancários passaram a representar 33% no último trimestre de 2022, ante 24% no segundo trimestre de 2021.
Dependência do negócio com ações
Para a XP, dada a dependência do negócio com ações, a fatia em bolsa caiu de 47% para 31% nesse intervalo. Olhando só para a custódia no varejo, a fatia de mercado em ações caiu 47% para 42%.
O Credit Suisse menciona a concorrência e um possível desengajamento da base de clientes. “Em outras palavras, a proposta de valor vencedora da XP do passado pode não ser a do futuro”, aponta o documento.
Novos produtos, como planos de previdência, cartões de crédito e empréstimos com garantia tiveram um aumento importante nos últimos anos, com a meta de atingir 25% de participação na receita do varejo em 2025 (de atuais 12%). Mas olhando-se para a evolução recente desses produtos, os ganhos de participação de mercado foram comprimidos ou mesmo achatados em algumas linhas, a exemplo da previdência, em cerca de 5,3% desde o segundo trimestre de 2022.
“Em nossa opinião, pode indicar que os incumbentes têm adaptado sua oferta de produtos e melhorado a experiência do cliente para retê-los.” Num ambiente de juros mais altos, a proposta de migração para carteiras menos tradicionais também perde apelo.