Cresce aposta de que juro nos Estados Unidos cai só no 2º semestre. E agora?

Recentes dados econômicos dos EUA e comentários de autoridades do Federal Reserve praticamente desmontaram expectativa de um corte breve das taxas

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Leah Millis/File Photo/Reuters
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Leah Millis/File Photo/Reuters

Nas últimas semanas dados de atividade econômica e da inflação nos Estados Unidos reforçaram a leitura do mercado de que o início do ciclo de corte de juros no país virá mais tarde do que se esperava.

Para quem ainda tinha dúvidas, a certeza veio na semana passada com dois episódios.

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Um foi a divulgação da ata da última reunião do FOMC (comitê de política monetária do Federal Reserve, banco central americano), na sigla em inglês.

Nela, os membros do órgão mostraram preocupação com o risco de começar a reduzir a taxa básica, hoje na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, cedo demais.

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O outro foram falas de diretores do Federal Reserve (Fed). Um dos mais incisivos foi o presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker.

Ele disse querer ver “desinflação em bens e serviços” e alertou os mercados contra a expectativa de cortes “agora e imediatamente”.

Outros citaram pontos mais específicos da composição dos preços, baixo nível de desemprego, mercado imobiliário forte, etc.

Sem clareza nessas dinâmicas, os membros do Fed consideram menos provável que a inflação continuará caindo o bastante para justificar um corte das taxas.

Inflação cai mais lentamente

Para dar uma ordem de grandeza, o índice oficial de inflação (PCE), o preferido pelo Fed, subiu 2,9% em 2023.

É bem menos do que os 4,8% que o índice chegou a atingir após a pandemia, maior nível desde os anos 1980.

Porém, ainda tem espaço para evoluir até os 2% ao ano, que é a meta de médio prazo a ser perseguida pelo Fed.

Na quinta-feira (29), será conhecido o PCE de janeiro.

E as notícias não são boas para quem está ansioso por corte de juros.

A previsão majoritária é de alta de 0,4% para o mês, o dobro das previsões feitas semanas antes.

Segundo para o Bank of America, a expectativa é de que o PCE seguirá caindo nos próximos meses, mas em velocidade bem menor.

Além disso, os diretores do Fed temem cortar o juro e a inflação dê um repique nos meses seguintes.

Isso passaria a impressão de que a autoridade monetária se precipitou e, com isso, perdeu as rédeas do mercado

Em outras palavras: “O Fed vê mais riscos em cortar muito cedo do que em cortar tarde demais”, escreveram o economista Michael Gapen e equipe.

Sim, e daí?

A expectativa de que o Fed começasse a cortar juro no mês que vem foi um dos fatores que fizeram os ativos de maior risco dispararem no fim de 2023.

Com isso, o Ibovespa subiu cerca de 17% no acumulado de novembro e dezembro.

Com o cenário de que os títulos do Tesouro dos Estados Unidos seguirão nos níveis atuais por mais tempo, em tese o apetite por ativos de maior risco diminui.

E segundo o FedWatch, uma ferramenta que mede as apostas do mercado para as próximas decisões do Fed sobre juros, o mercado praticamente enterrou a aposta em corte de juro em março ou maio.

A previsão para início desse ciclo de flexibilização monetária em junho ainda é majoritária, de 53%.

Mas a chance de que isso fique para julho já é uma possibilidade de 38%, segundo o FedWatch.

Para o Itaú BBA, porém, se houver uma inflação pelo PCE abaixo da prevista, isso pode aumentar a aposta de corte no mês de junho.

“Ou até mesmo colocar de volta a reunião de maio como uma possibilidade”, escreveu o estrategista de renda fixa para pessoa física no Itaú BBA, Lucas Queiroz.

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