Embora consideradas ainda complexas e com risco de alta volatilidade para movimentos de curto prazo, criptomoedas lastreadas no agronegócio brasileiro têm potencial para movimentar bilhões de reais nos próximos anos, segundo empresas que apostam nesse mercado. Três ativos foram lançados desde julho e podem ser uma opção para quem quer apostar no setor sem ter uma fazenda ou para agricultores que desejam comprar insumos e pagar com produção, em operações parecidas com o “barter”.
De acordo com Jean Carbonera, CEO da AgroVantagens, que lançou a AgroBonus em agosto, as criptomoedas podem oferecer maior autonomia a setores ou segmentos em relação ao mercado financeiro tradicional. No caso do agro, ele lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor avança ano a ano, mas o câmbio tem encarecido os insumos – o que afeta o poder aquisitivo dos produtores – e, muitas vezes, a valorização dos alimentos não acompanha o ritmo. Ao lançar um programa que vincula a cotação da moeda digital ao PIB do campo, a empresa espera criar um ambiente propício a investimentos.
Ainda em testes, o novo programa da AgroVantagens já tem uma lista com 200 empresas que aceitarão pagamento com AgroBonus e oferecerão a cripto como “cashback”. A projeção é que a moeda poderá movimentar o equivalente a US$ 1 bilhão em cinco anos.
A cooperativa Minasul, por sua vez, já colocou no mercado 60 mil tokens da Coffee Coin, sua criptomoeda lançada em julho. Cada unidade da moeda, avaliada hoje em R$ 19,67, equivale a um quilo de café presente nos estoques da entidade. Logo, há quase R$ 1,2 milhão em circulação. Ao fim do primeiro ano, a Minasul espera movimentar cerca de R$ 20 milhões.
Isso significa que uma saca de 60 quilos vale R$ 1.180,20. No entanto, a cotação da saca usada pela cooperativa está em R$ 1.045. A diferença, segundo o diretor de novos negócios da Minasul, Luis Albinati, deve-se ao aumento da procura pelo ativo, o que faz ele se valorizar em ritmo superior ao valor real da saca. Mas, caso a procura despenque, a criptomoeda poderá ficar abaixo do valor de mercado, evidentemente, mas o executivo defende que no longo prazo a curva será ascendente.
A cooperativa estuda agora como transformar o Coffee Coin em um meio de pagamento. Além de estudar uma tecnologia própria para isso, Albinati afirma que a moeda é aberta e pode ser integrada a outras plataformas. Carbonera afirma que a AgroVantagens, por sua vez, está montando uma tecnologia de carteira digital que permitirá transacionar outras moedas digitais – como a Coffee Coin – em sua plataforma.
A cripto agrícola mais recente é a Cultecoin, lançada pela startup Culte, com foco em pequenos produtores rurais. A empresa projeta movimentar US$ 10,5 milhões em cerca de cinco anos (mais de R$ 50 milhões). Ela já lançou tokens que equivalem a 10% desse total e planeja novas rodadas ao longo de 50 meses. Outros 20% foram separados para operação em bolsa, prevista para começar em 2022.
No marketplace da Culte, os agricultores familiares podem negociar sua produção em troca de unidades da cripto, que são usadas para comprar insumos, equipamentos e outros itens, também na plataforma.
Vale realçar, porém, que o forte crescimento de ativos criptográficos no mundo, que superaram a marca de US$ 2 trilhões em setembro, preocupa muitos especialistas. “Muitas entidades [que apostam no ramo] carecem de fortes práticas operacionais, de governança e de risco. Bolsas de criptomoedas enfrentaram interrupções significativas durante períodos de turbulência de mercado. Existem também vários casos de hackers roubando fundos de clientes. Até agora, esses incidentes não tiveram impacto significativo na estabilidade financeira. Mas, conforme os ativos criptográficos se tornam mais convencionais, sua importância em termos de implicações potenciais para a economia deverá aumentar”, alerta um relatório recente do FMI.