Sem ganho de produtividade, PIB acima de 3% não é sustentável, diz economista-chefe do C6

Economista-chefe do C6, Felipe Salles vê PIB do Brasil desacelerando para 1% até 2026, mas mantendo ganhos sociais

Felipe Salles, economista-chefe do C6, mostrou descrença com relação à manutenção do crescimento do PIB do Brasil em patamares como o d 2024. Foto: Germano Lüders
Felipe Salles, economista-chefe do C6, mostrou descrença com relação à manutenção do crescimento do PIB do Brasil em patamares como o d 2024. Foto: Germano Lüders

O crescimento do PIB do Brasil, que deve fechar 2024 perto de 3,5%, derrubou todas as projeções do mercado, que previa níveis mais modestos. Contudo, essa situação, de crescimento acima do potencial (de 2%) não deve se estender pelos próximos anos por conta de um problema central: a produtividade do País.

É o que diz Felipe Salles, economista-chefe do C6. Para ele, o motivo principal da desaceleração é o pouco ganho de produtividade do Brasil em períodos de expansão do PIB. Isso inviabiliza a manutenção do crescimento em patamares mais altos durante anos consecutivos.

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“Então, manter um ritmo de crescimento em torno de 3% a 3,5% não é sustentável”, diz o economista. “Quer dizer, a desaceleração, em um momento ou outro, virá por causa disso (baixa produtividade)”, acrescenta.

Desaceleração do PIB do Brasil deve ter impactos sociais marginais

Para o C6, o crescimento do PIB do Brasil deve ter desaceleração acentuada, partindo de 3,5% em 2024 para 2% em 2025. Depois, 1% em 2026. Apesar disso, ele não crê em impactos sociais muito fortes.

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“Essa desaceleração não é suficiente para esfriar a economia. Quer dizer que o Brasil crescendo em torno de 2% em 2025 e 1% em 2026 deve registrar taxa de desemprego estável, salário com crescimento ainda forte e massa salarial em alta”, avalia.

‘Em algum grau’ Brasil já está em dominância fiscal, diz Salles

Salles diz que já vê um efeito reduzido dos juros sobre alguns indicadores importantes da economia. Para ele, o controle da inflação já não depende mais tanto do patamar de juros adotado pelo Banco Central.

“A gente acredita que o efeito dos juros na atividade econômica, na inflação e no dólar está menor. A alta dos juros tem pouco impacto nessas variáveis”, avalia.

Ele crê que isso se relaciona com o papel do governo. “A gente tem uma alta de juro, mas, por outro lado, existe também uma política fiscal ainda expansionista”, explica.

“Além disso, há políticas parafiscais um pouco mais fortes. Assim, a atividade se mantém num patamar ainda moderado. Isso desfaz um pouco o efeito do juro”, acrescenta.

Nesse sentido, ele crê que, “em algum grau, o Brasil já está em situação de dominância fiscal”.

Juros e o efeito sobre o dólar

Com relação ao dólar, o juro acaba tendo um efeito de soma zero. Ele avalia que a desvalorização do câmbio atrai capital para o País. Por outro lado, piora a dinâmica da dívida pública, o que aumenta o risco.

Assim, dado que o juro tem menos efeito na atividade e no dólar, consequentemente, tem menos impacto também na inflação. Assim, o juro tem pesado principalmente sobre o tamanho do endividamento público, sem outros efeitos notórios sobre a inflação.

“Para a gente controlar a inflação, seria mais eficiente fazer uma contração fiscal mais dura, principalmente pelo lado dos gastos. Mas, por ora, a gente não enxerga isso”, alerta Salles.

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