Curva de juros ganha inclinação com aumento da percepção de risco fiscal
Aumento das dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de resultado primário explica o movimento dos juros, diz diretor de investimentos
Os juros futuros tiveram alta ao longo de toda a curva na quarta-feira (30), puxados pela recomposição dos prêmios de risco fiscal após um déficit primário maior do que o previsto nas contas do governo central em julho. Analistas do mercado afirmam que o resultado sugere um rombo maior do que o previsto em 2023 e aumenta as dúvidas sobre a capacidade do Executivo de cumprir a meta de zerar o déficit já no ano que vem.
Assim, após passarem a manhã com viés de baixa devido ao crescimento mais fraco do que o esperado da economia americana, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) engataram alta à tarde, com destaque para os vencimentos mais longos. O resultado foi de ganho de inclinação para a curva, com elevação do spread entre as taxas para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 a 19,5 pontos-base, de 10,9 pontos no ajuste anterior.
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O gatilho para a virada dos juros futuros veio à tarde, quando o Tesouro Nacional informou que o governo central teve déficit primário de R$ 35,933 bilhões em julho – maior do que a mediana da pesquisa Projeções Broadcast, que indicava rombo de R$ 31,90 bilhões. À véspera da apresentação do projeto de lei orçamentária de 2024, o resultado foi visto como um novo fator que dificulta a zeragem do rombo já no ano que vem.
Esses temores se sobrepuseram a declarações da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que participou de audiência na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). Ela reforçou que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 tem “todos os números necessários” para se chegar a um déficit zero, mas reconheceu a necessidade de se aprovar medidas como o PL do Carf para cumprir a meta.
Dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de resultado primário
Para o diretor da Wagner Investimentos, José Raymundo Faria Júnior, o aumento das dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de resultado primário explica o movimento dos juros na sessão. Por isso, os contratos longos, mais suscetíveis ao risco fiscal, chegaram a mostrar até 11 pontos-base de alta durante a tarde, enquanto os DIs curtos, ligados à condução da política monetária, subiram cerca de 3 pontos.
“Os DIs curtos foram os que menos sofreram, e o contrato para janeiro de 2024 ainda mostra chance de um corte de 75 pontos-base da Selic na última reunião do ano”, observa o analista. “Já os DIs longos subiram mais, porque o governo central veio com uma despesa maior e uma queda da arrecadação, e acabou aumentando o tamanho do déficit esperado para este ano para R$ 110 bilhões, R$ 120 bilhões.”
Na comparação com o ajuste anterior, subiram as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 (10,461% para 10,495%), janeiro de 2027 (10,114% para 10,215%) e janeiro de 2029 (10,570% para 10,690%). Já o DI para janeiro de 2024 recuou de 12,384% para 12,380%.
Com informações do Estadão Conteúdo