Falas de Lula ‘dificultam ainda mais’ o trabalho do BC, diz Goldenstein

Para estrategista-chefe da Warren, nova meta de inflação de 4,5% seria contraproducente, além de afetar projeções do Banco Central

Sérgio Goldenstein, da Warren Renascença — Foto: Carol Carquejeiro/Valor
Sérgio Goldenstein, da Warren Renascença — Foto: Carol Carquejeiro/Valor

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a independência do Banco Central e as metas de inflação foram “infelizes” e dificultam ainda mais o trabalho da autoridade monetária, na avaliação do estrategista-chefe da Warren Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein.

“Na verdade, as falas podem afetar a credibilidade da política monetária e piorar o processo de desancoragem das expectativas de inflação. Nesse sentido, uma eventual queda na Selic neste ano poderia ser vista como fruto de uma pressão política”, afirma. Ele lembra que a meta de 3% está alinhada a outros países emergentes, como o México e o Chile e a fuga desse padrão seria uma sinalização bastante negativa.

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Nova meta de inflação seria ‘contraproducente’

Goldenstein chama a atenção, ainda, para o processo de deterioração nas expectativas de inflação de médio prazo no Boletim Focus, que já vem ocorrendo, com a mediana das projeções de IPCA para 2024 atualmente na casa dos 3,70% e de 2025 em 3,50% — ambas acima da meta perseguida pelo BC, de 3%.

“Sugerir uma meta de 4,5% seria contraproducente, já que haveria uma desancoragem ainda maior das expectativas de inflação, afetando as projeções do BC. Não necessariamente o mercado iria convergir para 4,5%. Ele poderia convergir para 6%, por exemplo, prevendo um menor comprometimento no combate à inflação”, avalia.

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Assim, segundo o estrategista, o aumento da meta poderia reduzir o espaço para cortes na Selic, em vez de ampliá-la.

CNM deve barrar alteração na meta do BC

Apesar dos ruídos de curto prazo das declarações de Lula, Goldenstein considera uma alteração na meta de inflação como improvável.

Ele lembra que o Conselho Monetário Nacional (CMN) é composto pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“O Roberto Campos e a Tebet devem ser favoráveis à manutenção da meta nos níveis atuais e acredito que até mesmo o Haddad dificilmente concordaria com esse tipo de proposta”, avalia o estrategista-chefe da Warren.

Caso aprovada, no entanto, a medida provocaria um aumento da inclinação da curva de juros, uma elevação das inflações implícitas e uma desancoragem adicional das expectativas de inflação no Focus. “Com o juro neutro real de cerca de 4,5% e uma meta também de 4,5%, teríamos uma taxa Selic neutra mais alta, em torno de 9%. Isso se traduz em um custo grande para a sociedade, além do próprio efeito negativo sobre as camadas mais pobres de uma inflação mais elevada”, conclui.

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