Deflação no Brasil é maior para os mais ricos, aponta Ipea

Levantamento mostra que o alívio nos preços é menor para as famílias mais pobres

(Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo)
(Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo)

A deflação registrada em agosto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu todas as faixas de renda, mas foi menor para os mais pobres, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O IPCA de agosto ficou em -0,36%, após queda de 0,68% em julho (menor taxa mensal de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 1980). Quanto maior a renda, maior foi a queda de preços registrada no mês de agosto, pelos resultados do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.

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A inflação do segmento de renda mais baixa caiu 0,12% em agosto (tinha sido de -0,34% em julho). Esta categoria considera as pessoas com renda domiciliar menor que R$ 1.726,01 (preços de janeiro de 2022). No caso das famílias de renda baixa (entre R$ 1.726,01 e R$ 2.589,02), a variação foi de -0,24% em agosto (-0,50% em julho). Entre as famílias de renda média-baixa (entre R$ 2.589,02 e R$ 4.315,04), houve queda de 0,40% em agosto, ante -0,82% em julho.

A maior deflação em agosto, de -0,51%, foi registrada para as famílias de renda alta (maior que R$ 17.260,14). Em julho, tinha sido de -0,42%. Nas famílias de renda média-alta (entre R$ 8.630,07 e R$ 17.260,14), a taxa foi de 0,47% em agosto, ante -0,82% em julho. No caso das famílias de renda média (entre R$ 4.315,04 e R$ 8.630,07), o recuo em agosto foi de 0,44% (-0,85% em julho).

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Segundo o Ipea, a deflação dos grupos transportes e comunicação foi o principal ponto de alívio inflacionário para todas as classes de renda. No primeiro grupo, a influência vem das quedas dos preços de gasolina (-11,6%), etanol (-8,7%) e passagens aéreas (-12,1%). Esse impacto afeta principalmente as famílias de renda média-alta e alta, em que o peso desses itens na cesta de consumo é maior do que nas demais faixas.

Já as maiores contribuições do grupo comunicação vieram das deflações nos planos de telefonia fixa (-6,7%) e móvel (-2,7%). No fim de junho, foi promulgada a lei que reduziu o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público.

Em sua análise, o Ipea também cita o recuo de 1,3% nas tarifas de energia elétrica, em agosto, como um fator para a redução da pressão da inflação. “Especialmente das famílias de menor renda, cujo percentual do orçamento gasto com este item é relativamente mais elevado”, aponta o texto.

Por sua vez, a alta de preços no grupo de saúde e cuidados pessoais impediu uma redução ainda mais significativa da inflação dessas famílias, sobretudo com o impacto do reajuste de 2,7% dos itens de higiene pessoal. Para os domicílios de renda mais elevada, a deflação só não foi maior devido à alta no grupo “despesas pessoais”, puxada pelo aumento de preços dos serviços pessoais (0,59%) e do fumo (1,2%).

No mês de agosto, os alimentos tiveram alta de preços menor que em julho. O Ipea destaca, portanto, que este pode ser apontado como um fator de descompressão inflacionário em agosto, especialmente para as famílias de menor renda.

12 meses

Quando se considera o resultado acumulado em 12 meses, as famílias mais pobres permanecem como as mais penalizadas com a inflação. A alta de preços para as famílias muito baixa é de 9,24% nos 12 meses até agosto. No grupo de renda baixa, essa alta é de 8,86%. Tanto as famílias de renda média-baixa quanto as de renda média têm taxas muito próximas em 12 meses: 8,56% e 8,59%, respectivamente. A inflação acumulada para as famílias de renda média-alta chega a 8,24% em 12 meses. A taxa para as famílias de renda alta ficou em 9,11%, próxima da obtida para a faixa mais pobre.

Em seu estudo, o Ipea ressalta a origem principal da pressão dos preços neste resultado acumulado em 12 meses. No caso das famílias de renda mais baixa, a maior influência vem de alimentação e bebidas, mesmo com a melhora de agosto. Os principais produtos são farinhas e massas (19,9%); tubérculos (18,9%); hortaliças (15,7%); frutas (32,0%); leite e derivados (39,2%); aves e ovos (16,2%); panificados (18,3%); e óleos e gorduras (19,3%).

Já nas famílias de renda mais alta, os principais pontos de pressão estão, sobretudo, no grupo transportes, refletindo os aumentos do transporte por aplicativo (43,9%), das passagens aéreas (74,9%), do seguro veicular (43,6%) e dos automóveis novos (15,1%).

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