Desistência de Doria da disputa presidencial surpreende aliados próximos do governador
Dirigentes tucanos relataram que Doria avalia não deixar mais o cargo e não disputar a sucessão presidencial
A desistência do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de concorrer à Presidência surpreendeu até mesmo os aliados mais próximos do tucano. Até a noite de ontem, Doria ainda falava com interlocutores como pré-candidato à Presidência.
Um dos tucanos mais próximos de Doria, o tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, demostrou espanto no início da manhã desta quinta-feira sobre a decisão do governador e disse que não estava sabendo da desistência. “Ainda ontem à noite conversamos e ele estava animado com a campanha. Me perguntou inclusive quanto gastamos para a realização da prévia. Foram cerca de R$ 10,4 milhões”, disse o dirigente nacional do PSDB.
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O governador tinha previsto uma agenda intensa de eventos nesta quinta-feira, para marcar seu último dia à frente do cargo. Iria visitar as obras do Museu do Ipiranga, para fazer um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro; visitaria a favela de Heliópolis, para reforçar o discurso social; participaria da concessão de três parques, em aceno a investidores e, por fim, havia planejado um evento com mais de 500 prefeitos na sede do governo paulista. Fecharia o dia com uma coletiva à imprensa, para formalizar sua decisão de sair do cargo para concorrer à Presidência.
Doria publicou, inclusive, um artigo no jornal “Folha de S. Paulo”, despedindo-se do cargo de governador. “Atendo nesta quinta-feira (31) à convocação do meu partido, consagrada pelo voto de todos os filiados, para que o PSDB lidere um projeto de paz social e desenvolvimento sustentável capaz de oferecer emprego e oportunidades a todos os brasileiros. Cumpro o preceito legal, que determina a desincompatibilização do governo de São Paulo, para iniciar nossa caminhada rumo à Presidência da República”, diz o primeiro parágrafo do texto, intitulado “Obrigado, São Paulo”.
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A aliados, o governador tem se queixado do abandono e boicote de seu próprio do partido, que está dividido em relação à sua então pré-candidatura presidencial. Além de desistir de concorrer à Presidência, Doria poderá anunciar hoje sua saída do PSDB.
O governador paulista tem enfrentado dificuldades para se viabilizar eleitoralmente. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, o tucano tem 2% das intenções de voto e a terceira maior rejeição, de 30%, atrás de Jair Bolsonaro (PL), com 55% e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 37%.
Uma ala do PSDB, liderada pelo deputado federal Aécio Neves e pelo ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem boicotado a pré-candidatura do governador paulista e articulava a retirada de Doria na convenção partidária. Leite, que ameaçou ir para o PSD e concorrer à Presidência contra Doria, deixou nesta semana o cargo de governador para ficar à disposição do PSDB.
Doria venceu a disputa partidária realizada no ano passado para decidir quem seria o candidato do PSDB à Presidência. O governador paulista recebeu 53,99% dos votos, ante 44,66% de Eduardo Leite e 1,35% de Arthur Virgílio. Leite e essa ala anti-Doria do partido, no entanto, tem defendido que a convenção nacional da sigla, em julho, poderia alterar o candidato.
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