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Análise: vídeo game EA FC 25 erra ao permitir que dinheiro e capitalismo sejam protagonistas?
A editora Mundaréu lançou este ano no Brasil um livro bastante interessante. Se chama ‘Futebol à esquerda’. E o autor, Quique Peinado, escreve minibiografias de vários futebolistas que se colocaram à esquerda no espectro político em todo mundo. No Brasil, há espaço para textos de personagens já conhecidos como Reinaldo, Afonsinho, Sócrates e Nando, o irmão de Zico.
O posfácio do livro seja talvez o ponto mais alto da obra – é difícil, mas acontece. Escrito pela jornalista e também escritora Milly Lacombe, o texto em certo ponto cita o City Football Group. Lacombe tenta identificar a quem pertence o conglomerado esportivo, mas isso na realidade não importa. Importa que o principal time do grupo é o Manchester City.
Coadjuvante no futebol inglês, o que não significa que o time não tenha uma história linda, o Manchester City se tornou protagonista do futebol europeu desde que recebeu rios de dinheiro. O dinheiro trouxe conquistas. E muitas.
Assim, só títulos da Premier League o City ganhou os últimos quatro. Já tem oito no total. A nova liga inglesa, hoje a maior do mundo, surgiu em meio à reinvenção do futebol inglês em um contexto de tragédias e muita violência no esporte.
E um bom livro para entender sobre esse período se chama ‘Among the Thugs’, de Bill Bufford. Mas esta seria outra análise.
Então, nesses quatro anos de prevalência, foram vice-campeões da Premier League times bem estruturados financeiramente mas sem o aporte de dinheiro do rival: Manchester United, Liverpool e Arsenal.
Corte para o mundo dos games e o capitalismo
Bem, foi com a leitura de ‘Futebol à Esquerda’ que liguei como todos os sábados o vídeo game para disputar algumas partidas de EA FC 25.
E pensei: é inútil pensar que vai haver mudança brusca no setor e games populares ao redor do mundo vão se tornar instrumentos de educação, socialização e aprendizado.
Não vão.
Mas vale a pena sonhar e imaginar que a realidade do futebol atual, onde parece que só o dinheiro importa, não se transportaria para o jogo mais famoso do mundo: o EA FC 25 – é a franquia que antes levava a logomarca da FIFA.
Por enquanto não é o que ocorre.
No FC 25 há um modo de jogo bastante popular que se chama Carreira.
Lá, o jogador pode escolher se cria um treinador com a sua feição ou se escolhe entre um dos famosos treinadores da Europa. Decide se cria um time de verdade. Ou um time do zero.
Decide até se quer que jogadores sejam punidos com cartões de advertência ou se eles se machucam ou não durante as partidas.
A injeção de dinheiro no EA FC 25
Assim, o jogador pode decidir também se injeta dinheiro no seu clube.
E aí está o problema de como a arte (no caso o game) imita a vida. Então, ao clicar em ‘incorporação financeira’, o jogador escolhe quanto de dinheiro coloca na equipe. A sequência de incorporações possíveis é de tirar o fôlego.
Dez milhões, cinquenta milhões, cem milhões, 200 milhões, meio bilhão… e mais recentemente: um bilhão.
Um bilhão de ‘dinheiros’ para o jogador gastar como quiser para montar o seu time dos sonhos. Assim, o resultado é inevitável. Criam-se verdadeiras seleções-monstrengas. E não importa o nível de dificuldade no qual você vai jogar. Você vai ganhar. E vai ganhar sempre.
Bem, não vou dizer que a fábula do dinheiro infinito não traga vinganças imaginárias saborosas
Assim, você pode transformar o mediano Aston Villa (Up the Villaaaaa!) no principal time da Premier League.
Com Vini Júnior na ponta esquerda, com Lamine Yamal na direita. E o inglês Harry Kane no ataque – sem contar com os lateiras titulares do Liverpool e zagueiros contratados do Real Madrid e Barcelona. Comandando essa equipe, você pode ganhar tranquilamente do Manchester City por quatro, cinco a zero.
Mas perde a graça. E perde rápido.
Então, a rivalidade entre clubes, o imponderável dos clássicos, a celebração da vitória que mesmo impossível acontece, se perde entre cifras cada vez mais volumosas de dinheiro.
Está se tornando famoso o slogan o ‘Capitalismo falhou, falha e falhará’.
Não iria tão longe quando olhamos a economia global sob todos os seus aspectos. No microcosmo do futebol, no entanto, não sei se a máxima não é verdade e estamos próximos de um mundo em que apenas times endinheirados sustentados por grandes corporações ou financistas ganhem campeonatos.
Seja na realidade ou no vídeo game.
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