Economista sugere criação de órgão com Brasil para salvar Argentina da crise

Ex-presidente do banco central da Argentina faz piada com Roberto Campos Neto, presidente do BC, usando música dos Beatles

Federico Sturzenegger, ex-presidente do banco central da Argentina. Foto: Fórum Econômico Mundial/Divulgação
Federico Sturzenegger, ex-presidente do banco central da Argentina. Foto: Fórum Econômico Mundial/Divulgação

O ex-presidente do banco central da Argentina e economista Federico Sturzenegger sugeriu nesta tarde que seja feito um órgão multilateral, com a participação do Brasil, para ajudar a controlar a inflação no país vizinho.

O economista argentino participa do seminário internacional sobre política monetária promovido pelo Banco Central, em São Paulo. Sturzenegger arrancou risos da platéia ao dirigir-se ao ao presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, que estava sentado na primeira fileira do auditório. Ele disse que, tal qual a música dos Beatles, “With a Little Help from My Friends”, a Argentina precisa “da ajuda de seus amigos”.

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Segundo o economista argentino, o país dá calote na sua dívida todos os dias, referindo-se à forma como a inflação corrói a dívida.

Mesmo assim, a Argentina respeita as diretrizes do Fundo Monetário Internacional, disse Sturzenegger, a quem não dá calotes.

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Estímulos fiscais da pandemia são culpados por crise, diz ex-FMI

A alta inflação e os riscos à estabilidade financeira são os dois grandes problemas atuais enfrentados pelas economias no mundo inteiro, afirmou o ex-economista-chefe do FMI e ex-presidente do Banco Central da Índia Raghuram Rajan. Durante o seminário, Rajan afirmou que “a questão é o quanto os BCs têm de responsabilidade” em gerar inflação e instabilidade no sistema financeiro.

Segundo Rajan, a situação atual de alta inflação e questões de estabilidade no setor bancário têm raízes nos planos de estímulos fiscais e monetários colocados em prática durante a pandemia. Conforme o especialista, durante o período de baixa inflação após a crise financeira de 2008, os BCs tiveram pressões políticas ligadas a atacar o baixo crescimento.

“As pressões políticas sobre os bancos centrais [para que resolvam as questões econômicas dos países] remontam ao período de baixo crescimento, essencial com a ideia de que os BCs não estavam conseguindo atingir suas metas de inflação, então deveria haver estímulos [monetários].” Agora, disse Rajan, “temos um novo problema porque nunca pensamos [nos últimos anos] que inflação seria um problema”.

Para o ex-economista chefe do FMI, “enquanto os BCs sabiam como trazer a inflação para baixo, as autoridades acharam também que sabiam como levar a inflação para cima e também impulsionar o crescimento”.

‘Mercados quebrados’

Na visão de Rajan, os tipos de políticas adotadas entre a crise financeira e a pandemia acabaram gerando “mercados quebrados”. No passado, explicou o especialista, as autoridades reagiam rapidamente ao sinal de alta da inflação. Porém, com o longo período de baixa pressão sobre preços, a matriz da política monetária mudou e o próprio Federal Reserve (Fed, o BC americano) preferiu esperar para ver se a alta da inflação seria transitória antes de agir. “Mas acabou que o Fed atrasou sua reação e ficou atrás da curva.”

Com a combinação de um enxugamento do balanço do Fed junto com uma rápida elevação de taxas, os bancos menores tiveram uma grande perda de lucratividade. Para o economista, “isso sugere que uma quantidade significativa [de instituições] pode precisar de uma recapitalização ou um restruturação”.

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