Em carta anual, Warren Buffett destaca confiança no futuro da economia dos EUA

No documento, ele aponta para o passado para justificar o longo prazo promissor vislumbrado por ele à maior das economias

Warren Buffett tem uma estratégia de diversificação. Mas ela serve para você? - Foto: Rick Wilking/File Photo/File Photo/Reuters
Warren Buffett tem uma estratégia de diversificação. Mas ela serve para você? - Foto: Rick Wilking/File Photo/File Photo/Reuters

Warren Buffett, o mais bem-sucedido dos investidores, publicou no sábado (25) a aguardada carta anual aos acionistas da Berkshire Hathaway, gestora controlada por ele e Charlie Munger. Em 2022, a Berkshire Hathaway registrou perdas no quarto trimestre e quase US$ 23 bilhões em perdas líquidas no ano. Ainda assim, Buffett permanece otimista.

No conceito de “ganhos operacionais” apontado por Buffett, o resultado anual da Berkshire chegou a US$ 30,8 bilhões em todo 2022, um recorde para a holding. Nesta métrica, conseguiu um ganho de 4% por ação ante uma queda de 18,1% do S&P500 com dividendos inclusos – que é o benchmark da Berkshire.

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O quinto homem mais rico do planeta, dono de uma montanha de US$ 106 bilhões, não divide das mesmas aflições da média do mercado sobre o futuro dos Estados Unidos. No documento, ele aponta para o passado para justificar o longo prazo promissor vislumbrado por ele à maior das economias.

“O dinamismo dos Estados Unidos deu uma enorme contribuição para qualquer sucesso que a Berkshire tenha alcançado”, escreve Buffett, da altura de seus 92 anos. “Eu tenho investido por 80 anos, que é mais de um terço da vida do nosso país. Apesar da propensão – quase entusiasmo – de nossos cidadãos à autocrítica e à dúvida, ainda não vi um momento em que fizesse sentido fazer uma aposta de longo prazo contra os Estados Unidos.”

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Atenção ao termo ‘longo prazo’

Em outros trechos da carta, Buffett alerta para uma regrinha básica sugerida por qualquer educador financeiro responsável. Ou seja, evitar a ansiedade e mirar o longo prazo na hora de investir, sem se ater tanto às instabilidades pelo meio do caminho – caso da luta americana contra a inflação, que será mero obstáculo superado pelas empresas mais sólidas.

Nesse aspecto, o megainvestidor relembra investimentos feitos na Coca-Cola e na American Express, duas das principais líderes de mercado dos Estados Unidos, há mais de três décadas.

“Em agosto de 1994 – sim, 1994 – a Berkshire completou sua compra feita ao longo de sete anos dos 400 milhões de ações da Coca-Cola que, agora, possuímos. O custo total foi de US$ 1,3 bilhão. O dividendo que recebemos da Coca-Cola em 1994 foi de US$ 75 milhões. Em 2022, aumentou para US$ 704 milhões. O crescimento ocorria todos os anos, tão certo quanto os aniversários. Tudo o que Charlie [Mungere] e eu precisávamos fazer era descontar os cheques.

American Express (Amex) é a mesma história. As compras da Amex pela Berkshire foram essencialmente concluídas em 1995 e, coincidentemente, também custaram US$ 1,3 bilhão. Os dividendos anuais recebidos desse investimento cresceram de US$ 41 milhões para US$ 302 milhões. Essas verificações também parecem altamente propensas a aumentar.

Esses ganhos com dividendos, embora agradáveis, estão longe de ser espetaculares. Mas trazem consigo ganhos importantes nos preços das ações. No final do ano, nosso investimento na Coca-Cola foi avaliado em US$ 25 bilhões, enquanto a Amex foi registrada em US$ 22 bilhões. Cada participação, agora, representa cerca de 5% do patrimônio líquido da Berkshire, semelhante à sua ponderação há muito tempo.”

Nesse trecho da carta, Buffett vai de encontro a outro aspecto essencial no beabá dos educadores financeiros: o da diversificação.

Ele convida o leitor a pensar, em paralelo aos ganhos com Coca-Cola e Amex, numa hipotética decisão equivocada de investimento da ordem de US$ 1,3 bilhão ao longo de 30 anos. De acordo com ele, representaria apenas 0,3% do patrimônio líquido da Berkshire, dados os outros acertos pelo caminho.

“A lição para os investidores: as ervas daninhas perdem importância à medida que as flores desabrocham. Com o tempo, são necessários apenas alguns vencedores para fazer maravilhas. E, sim, ajuda começar cedo e viver até os 90 anos também”, conclui.

O caminho à frente

De novo, ao projetar o caminho a ser trilhado pela Berkshire Hathaway de 2023 em diante, Buffett destaca sua crença na resiliência da economia americana. Escreve que a “estrada acidentada” à frente será enfrentada com prudência, retendo lucros de proprietários, prevenindo erros e “o mais importante de tudo”, graças ao “vento americano”. O megainvestidor segue o texto dizendo que “os Estados Unidos estariam bem sem a Berkshire”, mas que “o contrário não é verdade”. Daí, então, a aposta primordial em negócios “enormes e diversificados” listados na bolsa de Nova York.

“Os membros do índice S&P 500 são a elite de grandes e conhecidas empresas americanas. No total, essas 500 empresas faturaram US$ 1,8 trilhão em 2021. Ainda não tenho os resultados finais de 2022. Usando, portanto, os números de 2021, apenas 128 dos 500 (incluindo a própria Berkshire) faturaram US$ 3 bilhões ou mais. De fato, só 23 perderam dinheiro. No final de 2022, a Berkshire era a maior proprietária de oito dessas gigantes: Amex, Bank of America, Chevron, Coca-Cola, HP Inc., Moody’s, Occidental Petroleum e Paramount Global.”

Dentro da diversificação pregada pela Berkshire, há espaço para a renda fixa. Mais especificamente, e de novo refletindo a aposta feita nos Estados Unidos, títulos públicos.

Buffett, por um lado, destaca o tamanho do déficit público americano, obtido pela diferença negativa entre a arrecadação de US$ 32 trilhões em impostos e gastos da ordem de US$ 44 trilhões. Por outro lado, dá de ombros para temores correntes sobre a sustentabilidade desse rombo, que poderiam colocar em xeque a propalada segurança oferecida pelos papéis do governo americano.

“Embora economistas, políticos e muitos do público tenham opiniões sobre as consequências desse enorme desequilíbrio, Charlie e eu alegamos ignorância e acreditamos firmemente que as previsões econômicas e de mercado de curto prazo são mais do que inúteis. Nosso trabalho é administrar as operações e finanças da Berkshire de uma maneira que alcance um resultado aceitável ao longo do tempo e que preserve o poder de permanência inigualável da empresa quando ocorrerem pânicos financeiros ou graves recessões mundiais.”

Enfim, enquanto os cães ladram, a caravana bilionária de Buffett passa. E com a bandeira americana empunhada.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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