- Home
- Mercado financeiro
- Economia
- EUA, Alemanha e França querem excluir a Rússia do G20 e causam racha com emergentes
EUA, Alemanha e França querem excluir a Rússia do G20 e causam racha com emergentes
-
As maiores economias industrializadas do mundo – Estados Unidos, Alemanha, França, Canadá, Reino Unido, Itália e Japão – querem expulsar ou suspender a Rússia do G20, principal mecanismo de governança econômica global, para isolar mais o país da cena internacional
-
A Rússia foi expulsa do G7 – anteriormente conhecido como G8 – em 2014 em resposta à sua anexação da Crimea
As maiores economias industrializadas do mundo – Estados Unidos, Alemanha, França, Canadá, Reino Unido, Itália e Japão – querem expulsar ou suspender a Rússia do G20, principal mecanismo de governança econômica global, para isolar mais o país da cena internacional em retaliação à invasão da Ucrânia, conforme o Valor apurou.
O plano desses países esbarra, porém, na resistência da China e de outros emergentes do G20, incluindo Brasil, Argentina, Turquia, Indonésia, África do Sul, Índia. Acham ser correta a condenação de Moscou, que já ocorreu na ONU. Mas que a tentativa de suspender ou excluir a Rússia de organismos multilaterais e do G20 mais complica do que ajuda.
Para esses emergentes, isso vai contra o ‘princípio fundamental da cooperação e contra o realismo’ que consideram necessário para mitigar efeitos das crises atuais (pandemia, economia e Ucrânia, em todos os níveis) e para continuar a buscar soluções para questões urgentes como energia, alimentos, clima, saúde.
Ainda segundo fontes, o entendimento entre emergentes é de que o G20 é o “primeiro fórum para cooperação econômica internacional”. E que isso é interpretado por eles como: “Não traga temas de paz e segurança para o G20”, e deixe isso para o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Mas do lado dos industrializados, e que formam o chamado G7, a determinação é de que Moscou não pode violar o direito internacional e esperar se beneficiar de sua adesão à ordem econômica global. A Rússia foi expulsa do G7 – anteriormente conhecido como G8 – em 2014 em resposta à sua anexação da Crimea.
O racha no G20 é qualificado de “grave” por importantes fontes, inclusive para a mitigação de efeitos do choque da guerra. Ilustra o enfraquecimento da cooperação internacional em meio à guerra deflagrada por Putin contra a Ucrânia.
A determinação do G7, no entanto, é firme para ampliar o isolamento de Putin, que a revista The Economist qualifica de “moralmente morto”.
Os líderes das maiores economias industrializadas se declararam na sexta-feira ‘unidos em nossa determinação de responsabilizar o presidente Putin e seu regime por esta guerra injustificada e não provocada que já isolou a Rússia no mundo’.
Lembraram que, desde que Putin lançou a invasão contra a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, esses países impuseram medidas restritivas expansivas ‘que comprometeram gravemente a economia e o sistema financeiro da Rússia, como evidenciado pelas reações massivas do mercado’.
O G7 diz que pretende reduzir a dependência em relação à energia russa, garantindo ao mesmo tempo fazer isso de forma ordenada e de maneira a dar tempo para que o mundo garanta suprimentos alternativos e sustentáveis.
Os aliados ocidentais dizem estar decididos a isolar ainda mais a Rússia das demais economias e do sistema financeiro internacional. E se comprometem a tomar novas medidas o mais rápido possível.
Também vão impedir que a Rússia obtenha financiamento das principais instituições financeiras multilaterais, incluindo o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento.
A pressão inclui impor mais restrições às exportações e importações de bens e tecnologias-chave para a Russia. ‘Estamos unidos e solidários com nossos parceiros, incluindo as economias em desenvolvimento e emergentes, que aguentam injustamente o custo e o impacto desta guerra, pela qual consideramos o presidente Putin, seu regime e apoiadores, e o regime de Lukashenko, totalmente responsáveis’.
A Suíça, com uma histórica neutralidade, decidiu aplicar sanções contra a Rússia, seguindo o que a UE aplica. Mas o ministro da Economia, Guy Parmelin, disse agora ser contra as consequências das sanções no comércio de matérias-primas.
“Eu me oponho a medidas que criam novos problemas em outros lugares e que agravam ainda mais a crise mundial”, disse ele. Observou que não se trata apenas de petróleo e de gás, mas também de alimentos. Países como a Jordânia, Tunísia e Egito compram entre 50% e 90% de suas necessidades em cereais da Ucrânia ou da Rússia. “Se os navios são bloqueado são bloqueados por causa de um embargo, vários países do Oriente Médio ficam ameaçados de fome e desestabilização”, disse ele a um jornal suíço.
A Agência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) alertou que a guerra na Ucrânia tem um enorme custo em sofrimento humano e está enviando choques através da economia mundial. E que essa crise, que surge durante a pandemia global da covid-19, está acelerando as vulnerabilidades existentes e ampliando as desigualdades em todo o mundo.
Para a Unctad, todos os países serão afetados pela a crise, mas os países em desenvolvimento – já atingidos pela pandemia, pelo aumento da dívida e pela mudança climática – serão especialmente atingidos pelas rupturas na alimentação, nos combustíveis e nas finanças.
Também o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) advertiu que as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia estão desencadeando uma onda de fome que se espalha por todo o mundo. Para a entidade, o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis coloca milhões de pessoas em risco de fome, com famílias incapazes de pagar uma refeição básica.
Observa que a região do Mar Negro, conhecida como o celeiro da Europa, é uma das áreas mais importantes para a produção de grãos e agricultura.
A Ucrânia e a Rússia respondem por 30% das exportações mundiais de trigo, 20% das exportações mundiais de milho e 76% do fornecimento de girassol. E qualquer interrupção na produção ou fornecimento poderia aumentar os preços, afetando milhões já duramente atingidos pela alta inflação de alimentos em seus próprios países.
Leia a seguir