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Eventos climáticos aparecem como risco para inflação no Brasil, diz Guilherme Mello
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que eventos climáticos extremos aparecem como risco inflacionário nos cenários global e interno.
“Também temos os riscos ambientais. O Brasil vivencia catástrofe de largas proporções, quero aqui deixar minha solidariedade para a população do Rio Grande do Sul. Mas os extremos climáticos aparecem como risco para cenário global e do Brasil”, disse Mello.
Na revisão das suas expectativas para a inflação de 2024 e 2025, o governo considerou o possível impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. Já no caso do PIB, o governo resolveu aguardar informações mais concretas sobre o impacto.
Em relação ao cenário global, Mello afirmou que o risco para inflação do ponto de vista ambiental vem do fenômeno La Niña. “Saiu risco do El Niño e entra risco do La Niña no segundo semestre deste ano, o que pode ter impacto no preço dos alimentos”, explicou.
Aquecimento da economia
Mello também destacou que o aquecimento da economia mundial, maior do que o previsto no começo do ano, “impacta evidentemente a inflação e as taxa de juros” globalmente.
O secretário destacou que hoje há projeções de corte da taxa básica de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano, para setembro e dezembro deste ano.
Segundo ele, a “inflação americana desacelera”, mas “em ritmo mais lento do que era esperado”. Ainda a respeito dos Estados Unidos, Mello afirmou que está se “esgotando o excesso de poupança acumulado durante a pandemia”
De maneira geral, a conjuntura internacional não teve “grandes alterações” nos últimos dois meses. A atividade econômica global “segue resiliente”, puxada justamente por Estados Unidos e alguns países emergentes.
No caso da China, a economia cresceu acima do esperado no primeiro trimestre, mas os “dados recentes mostram arrefecimento”.
Ele lembrou que “a China deve crescer em torno de 5% neste ano” e que existe a possibilidade de novos estímulos pelo governo chinês. Ainda afirmou que segue “a deflação de preços ao produtor” no país asiático.
A respeito da Zona do Euro e do Reino Unido, Mello disse que a desinflação já está “mais adiantada”.
Já nos mercados de trabalho mundialmente “começamos a ver uma desaceleração moderada”. “Ainda estão resilientes, mas de uma maneira menos acelerada”, disse Mello.
Por fim ele disse que os “riscos globais [para a inflação] prosseguem do ponto de vista geopolítico”, em função de fatores como petróleo, fretes e cadeias de suprimento.
Piora da inflação
Antes da fala de Guilherme Mello, o Ministério da Fazenda alterou de 3,5% para 3,7% sua estimativa para a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2024. Para o ano que vem, a estimativa é de 3,20%, contra projeção anterior de 3,1%.
As projeções mais recentes foram apresentadas nesta quinta-feira (16) pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta, no boletim macrofiscal.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) deve ficar em 3,50% neste ano (projeção anterior de 3,25%). Para 2025, a projeção é 3,10% (3%).
Por sua vez, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), deve fechar este ano em 3,50%. Para 2025, a projeção é 4%. As estimativas são as mesmas divulgadas em março.
No boletim, a SPE esclarece que o aumento nas estimativas para a inflação captura tanto os efeitos da depreciação cambial recente nos preços livres como os impactos das fortes chuvas no Rio Grande do Sul na oferta e nos preços de produtos in natura, arroz, carnes e aves.
“Os preços desses alimentos devem subir de maneira mais pronunciada nos próximos dois meses, mas parcela relevante desse aumento deve ser devolvida nos meses seguintes, com a normalização da oferta”, avalia a SPE.
“Apesar do avanço nas estimativas para a inflação cheia em 2024, a projeção para a variação média das cinco principais medidas de núcleo se manteve estável em relação ao projetado em março, em 3,40%. Para o IGP-DI, a projeção de inflação para 2024 não se alterou”, completa a secretaria.
PIB maior
O ministério elevou de 2,2% para 2,5% a sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. Para 2025, a projeção, sempre de crescimento, foi mantida em 2,8%.
No boletim, a SPE esclarece que, neste caso, não foram considerados os impactos da calamidade do Rio Grande do Sul.
“A magnitude do impacto depende da ocorrência de novos eventos climáticos, de transbordamentos desses impactos para estados próximos e do efeito de programas de auxílio fiscal e de crédito nas cidades atingidas pelas chuvas”, diz a SPE.
“O Rio Grande do Sul, com peso aproximado de 6,5% no PIB brasileiro, deverá registrar perdas principalmente no segundo trimestre, parcialmente compensadas ao longo dos trimestres posteriores. Atividades ligadas à agropecuária e indústria de transformação deverão ser as mais afetadas a nível nacional, por serem mais representativas no PIB do estado que no PIB brasileiro”, completa a secretaria.
Além disso, a SPE afirmou que a revisão na projeção do crescimento do PIB deste ano foi “motivada por maiores contribuições esperadas para a absorção doméstica e para o setor externo”.
“Para o avanço nas estimativas de absorção doméstica, contribuíram o crescimento robusto das vendas no varejo e dos serviços prestados às famílias, o aumento na geração líquida de postos de trabalho e a expansão das concessões de crédito”, disse a pasta no Boletim Macrofiscal.
De acordo com a SPE, “os sinais de recuperação do investimento, baseados na expansão de indicadores de atividade na construção civil e no crescimento das importações de bens de capitais, também auxiliaram nesse sentido”.
No caso do setor externo, “a perspectiva de maior contribuição reflete a depreciação cambial recente”.
Já na divisão por setores, a “expansão projetada para serviços no ano mais que compensou revisões para baixo nas estimativas de crescimento da agropecuária e da indústria”.
A estimativa para o desempenho da agropecuária variou de queda de 1,3% para recuo de 1,4%, “refletindo, principalmente, a redução nos prognósticos para a safra de soja e milho em 2024”.
“Para a indústria, a expectativa de crescimento em 2024 também foi revisada para baixo, de 2,5% para 2,4%”, disse a pasta. Essa revisão foi fruto principalmente do “menor crescimento esperado para o setor” no primeiro trimestre, “em função de dados mais fracos observados para indústria extrativa e para a produção de bens de capital em março”.
“Em contrapartida, a projeção para a expansão dos serviços em 2024 aumentou de 2,4% para 2,7%”, disse.
Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico
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