FMI vê melhora no cenário global, com moderação dos riscos
Políticas restritivas para manter a inflação sob controle resultarão num crescimento global ainda lento em 2023, de acordo com o relatório Panorama Econômico Mundial, apresentado ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Cingapura. Porém, os economistas do Fundo revisaram ligeiramente para cima as projeções para este ano em relação as estimativas feitas em outubro.
De acordo com o relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) global deverá crescer 2,9% neste ano – abaixo dos 3,4% estimados para 2022 – e 3,1% no ano que vem.
Taxas de juro ‘continuam pesando’ contra, diz FMI
“A previsão de crescimento global para 2023 é 0,2 ponto percentual acima do previsto em outubro, mas ainda está abaixo da média histórica, entre 2000 e 2019, de 3,8%”, diz o relatório. “A elevação das taxas de juros pelos bancos centrais para combater a inflação e a guerra da Rússia na Ucrânia continuam pesando sobre a atividade econômica.”
A expectativa do FMI, porém, é de melhora gradual do cenário econômico em todo o mundo a partir do próximo ano.
Reabertura da China
O Fundo avalia que os lockdows da covid-19 na China prejudicaram o crescimento em 2022, mas a recente reabertura do país, com o abandono da política de covid-zero, pavimenta o caminho para uma recuperação mais rápida do que se esperava.
“A inflação global deverá cair de 8,8% em 2022 para 6,6% em 2023 e 4,3% em 2024, ainda acima dos níveis pré-pandêmicos (entre 2017 e 2019) de cerca de 3,5%”, prossegue o relatório do Fundo. Para os economistas do FMI, o grau de incertezas ainda é alto, “mas os riscos se mostraram mais moderados desde o relatório de outubro”.
“No lado positivo, um impulso mais forte da demanda reprimida em várias economias ou uma queda mais rápida da inflação são plausíveis”, afirma o relatório. “Por outro lado, graves problemas de saúde na China podem atrasar a recuperação, a guerra na Ucrânia pode escalar e as condições de financiamento globais mais rígidas podem piorar o problema da dívida”, diz o texto.
Em linha com suas recomendações dos últimos meses, o FMI alerta que uma maior fragmentação geopolítica — na medida em que as maiores economias buscam alternativas menos dependentes da China para suas cadeias produtivas — poderia dificultar o progresso econômico em todo o planeta.
Motor do crescimento global há anos, a China sofreu com os lockdows da covid-19 que desaceleraram a atividade econômica. Mesmo após o relaxamento das restrições, o aumento do número de novos casos reduziu o ritmo da recuperação. As autoridades responderam com afrouxamento adicional da política monetária e fiscal – apoiado em novas metas de vacinação para idosos e medidas para ajudar na conclusão de projetos imobiliários inacabados.
A confiança de consumidores e empresas chineses tem subido devagar. Esse ritmo lento da atividade da China reduz o crescimento do comércio global e preços internacionais das commodities. Mesmo assim, o FMI acredita que a China deva crescer 5,2% este ano – 0,8 ponto percentual acima do que previa o estudo de outubro.
EUA terão ritmo de crescimento desacelerado em 2023
Para os EUA, o FMI, prevê uma desaceleração do crescimento de 2% em 2022 para 1,4% em 2023 – um aumento de 0,4 ponto percentual em relação à previsão de outubro. A melhora se baseia no fato de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem conseguido desaquecer a demanda e o mercado de trabalho, mantendo as taxas de inflação sob controle.
Já o crescimento na zona do euro deve chegar a 0,7% em 2023, 0,2 ponto percentual acima da previsão de outubro — e deve subir para 1,6% em 2024.
“A revisão para cima reflete efeitos de aumentos mais rápidos das taxas pelo Banco Central Europeu (BCE) e preços de energia mais baixos no atacado”, diz o FMI, ressaltando o esforço de países europeus de subsidiar gastos de famílias e empresas com eletricidade.
FMI: Economia do Reino Unido deve encolher 0,6%
Em outro sentido, O crescimento no Reino Unido é projetado em -0,6% em 2023, 0,9 ponto percentual abaixo do projetado em outubro. “Essa revisão decorre de políticas fiscais e monetárias mais apertadas e preços de energia ainda elevados”, afirma o FMI.
O Fundo alerta que, embora em muitas economias o ciclo de aumento de juros para controlar os preços esteja no final, alguns surtos inflacionários podem surgir nos próximos meses.
“Com condições monetárias mais restritivas e o crescimento menor afetando a estabilidade financeira, é necessário implantar ferramentas macroprudenciais dirigidas e visando à reestruturação da dívida”, diz o estudo. “O apoio fiscal deve ser direcionado para os mais afetados pelos preços elevados de alimentos e energia e medidas de alívio fiscal de base ampla devem ser retiradas”, afirma o FMI.
“E uma cooperação multilateral mais forte será essencial para preservar os ganhos globais e para mitigar as mudanças climáticas, limitando as emissões de carbono e aumentando o investimento verde”, recomenda o relatório.
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