Fundo com investimento de Armínio Fraga perde 90% no ano

O fundo da gestora carioca TT Investimentos foi criado e era gerido pelos sobrinhos do ex-presidente do Banco Central

Um fundo da gestora carioca TT Investimentos perdeu quase 90% do patrimônio neste ano com operações alavancadas envolvendo ações de empresas americanas. O TT Global Equities chegou a ter patrimônio de R$ 80 milhões em outubro de 2021, mas registrou sucessivas perdas até chegar a R$ 9 milhões, segundo dados mais recentes disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O fundo foi criado e era gerido pelos sobrinhos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que entrou com parte dos primeiros recursos, o chamado capital semente (seed) e ainda era investidor. Ele informou que é apenas investidor da carteira.

O fundo foi criado em outubro de 2018 por Antônio e Arthur Fraga Bahia. A gestora também tem entre os sócios João Pedro Fraga Osório de Almeida. O Valor tentou contato com os três, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Fonte: Morningstar

Os investimentos eram concentrados em empresas americanas ligadas ao universo dos esportes ao ar livre, segundo informações mais recentes disponíveis na CVM. A principal delas é a Clarus, companhia criada em Utah que produz desde equipamentos para escalada e alpinismo, passando por cosméticos para montanhistas e munição de armas usadas para caçadores. O fundo também tem participação na fabricante de cereais Kellogs e na fabricante de alimentos General Mills, que no Brasil é dona das marcas Yoki e Kitano.

Da criação até dezembro de 2021, o retorno do fundo ficou em 29,4% ao ano, abaixo do retorno de 37,2% ao ano do IVVB11 – fundo listado na B3 que replica o desempenho das ações que compõem o S&P 500. Na mesma base de comparação, o risco foi de 21% ao ano no caso do TT Investimentos e de 17,8% ao ano no IVVB11.

Em dezembro do ano passado, o patrimônio líquido do fundo era de R$ 74 milhões, enquanto a carteira era de R$ 88 milhões. Em maio deste ano, o último dado aberto na CVM, o patrimônio era de R$ 31 milhões e a carteira de R$ 66 milhões, o que sugere um aumento do tamanho da alavacangem. Até maio de 2020, o retorno foi negativo em 7,8%, enquanto o S&P 500 teve alta de quase 24%.

De novembro de 2018 até maio de 2020, o retorno foi negativo em 7,8% ao ano, enquanto o S&P 500, considerando o risco cambial, teve alta de quase 24% ao ano. De abril de 2020 até dezembro de 2021, o fundo se recuperou com retorno de 70% ao ano, acima dos 49,2% ao ano do IVVB11. Neste ano, o desempenho voltou a cair. De janeiro a agosto, o prejuízo foi de 87,3%, enquanto o IVVB11 teve queda de 22,6%.

Fonte: Morningstar

Não foram feitas muitas movimentações desde a criação do fundo, que tem três cotistas. Na época em que foi criado, o patrimônio era de R$ 39 milhões com dois cotistas. Em dezembro de 2018, um novo cotista investiu R$ 2 milhões. Em março de 2021, foi feito um resgate de R$ 10 milhões por um deles.

Nas redes sociais circula o que seria uma carta assinada por Arthur Bahia, na qual o gestor se desculpa com os cotistas e diz que as perdas decorreram de uma operação envolvendo compra e venda de opções de ações de uma empresa.

No meio da alavancagem, o banco que atuava como custodiante teria pedido de volta a margem, o que obrigou a liquidação da posição e “perdas irreparáveis”. No entanto, não há como comprovar a veracidade da informação, já que o Valor não teve retorno dos fundadores da TT para comentar o caso e a autoria da carta.

Fonte: Morningstar

Procurada, a CVM disse que “acompanha e analisa informações e movimentações no âmbito do mercado de valores mobiliários brasileiro, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.

Por Marcelo D’Agosto, Francisco Góes e Rita Azevedo, Valor Econômico — São Paulo e Rio de Janeiro.

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