Fundo Verde vê governos Bolsonaro e Dilma como irmãos gêmeos
'O governo Bolsonaro chega ao fim de maneira praticamente indistinguível do governo Dilma do ponto de vista econômico', diz relatório de gestão de janeiro
Em sua carta mensal aos investidores, o tradicional fundo de investimento multimercado Verde traçou duras críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Ao comentar o ganho de 1,49% em janeiro, o fundo criado em 1997 e gerido por Luis Stuhlberger também aponta a forte volatilidade dos mercados neste início de 2022, marcado por apertos monetários.
“O S&P 500 teve o pior janeiro desde 2009, e o Nasdaq caiu 8,5%, mostrando o forte impacto das taxas mais altas de juros nas empresas de alto crescimento”, diz o relatório de gestão.
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Com relação à Brasil, os gestores dizem ver uma piora no governo, em especial na política econômica.
“Em praticamente todas as áreas de atuação, o que se viu foi um desastre. Da ação deliberada de atrasar a vacina e jogar insistentemente contra, com o suprassumo das fake news antivax, à política econômica. No entanto, ao invés de rever, o governo acena com a aceleração dos erros”, escrevem os gestores do Verde.
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A carta critica o rompimento do Teto de Gastos e da Lei de Responsabilidade Fiscal e as novas propostas do governo para reduzir a tributação sobre os combustíveis e energia elétrica.
“Durante os anos ‘dourados’ da dupla dinâmica Dilma-Mantega, foram várias incursões no terreno da desoneração de curto prazo, temporárias. Algumas metas de inflação foram salvas por queda de IPI, e com isso o BC dócil pôde manter taxas de juros artificialmente baixas. Eram apenas um aperitivo
antes do prato principal: a era das pedaladas fiscais, que subnotificaram despesas, superdimensionaram receitas por meio da triangulação com os bancos federais e Petrobras, transformando dívida em receita.”
Os gestores afirmam que as políticas fiscais do governo de Dilma Rousseff levaram a uma forte queda do PIB (Produto Interno Bruto), alto desemprego e crescimento da dívida pública.
“As consequências, infelizmente, vieram depois, como de costume, e duram até hoje. No setor
elétrico, por exemplo, as intervenções do governo Dilma para reduzir a tarifa produziram efeito exatamente contrário, de forma que o consumidor brasileiro ainda paga pelos custos das medidas populistas de nove anos atrás.”
Segundo o relatório, as atuais propostas do governo Bolsonaro para baixar as contas se assemelham às do governo Dilma.
“No final, são irmãos gêmeos, separados no nascimento. A proposta de eliminar os impostos sobre os
combustíveis é um desvario completo, e não resiste a 1 minuto de considerações sobre sua qualidade ou conveniência.”
A carta aponta que, em caso de eliminação do PIS/COFINS e CIDE sobre todos os combustíveis e energia elétrica, haveria um custo anual de cerca de R$ 70 bilhões para o governo. Eliminar o IPI custaria outros R$ 75 bilhões por ano. No caso do ICMS, seriam mais R$ 110 bilhões ao ano. “No mínimo, estaríamos falando de uma desoneração da ordem de 1% do PIB, e no máximo, de 3% do PIB.”
Os gestores ainda ressaltam que os gastos do governo nunca caíram, apenas cresceram menos, cerca de 1,2% do PIB em 2022.
“Se o ajuste fiscal não pode mais ser feito via gasto, só pode ser feito via arrecadação, e eis que surge
essa proposta incompreensível de baixar os impostos em mais de 1% do PIB, sob a chocante justificativa do Ministério da Economia de que há excesso de arrecadação. Um detalhe: estimamos um déficit nominal em 2022 próximo a R$ 730 bilhões, e a proposta elevaria o déficit a pelo menos R$ 800 bilhões.”
Segundo cálculos do Verde, caso a proposta seja aprovada, a dívida passaria de 80,3% do PIB em 2021 para 85% do PIB em 2022.
“Qual a mensagem para a sociedade? De que não existe qualquer problema fiscal no Brasil, que vai tudo muito bem, a dívida pública (uma das maiores entre os países emergentes, senão a maior, e com a taxa de juros mais alta) não é um problema, nem o déficit público de 8% do PIB. Há ‘excesso de
arrecadação’.”
De acordo com os gestores, com a volta do juro alto e a volta do investidor estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira, o mercado financeiro não tem regido à este cenário de deterioração fiscal.
“O termômetro quebrou. Com dólar caindo e bolsa subindo no ano, não há amarras para atitudes ainda mais populistas. O governo Bolsonaro chega ao fim de maneira praticamente indistinguível do governo Dilma do ponto de vista econômico, bem como o ministro da Economia converge para o ministro da Fazenda que gerou o maior desastre econômico de que se tem registro.
De maneira semelhante, é chocante ver o silêncio das associações de classe empresariais sobre essas desonerações. Infelizmente, não é surpresa, são os mesmos que clamaram pelas intervenções do governo Dilma (fechamento da economia, incentivos, desonerações e redução forçada do custo de energia). Essas associações estão sempre dedicadas a extrair o máximo de benefícios em causa própria, independente das consequências para o restante da sociedade. Todos se mobilizaram fortemente contra a reforma tributária ou redução de gasto tributário e incentivos, mas adoram um populismo fiscal que os contemple.
Convém lembrar que quando o fiscal explodir, todos no barco afundarão. E o que entristece é que quando isso ocorrer, estarão de volta a Brasília a pleitear ajuda para salvá-los da crise!”
Leia a carta na íntegra em: https://www.verdeasset.com.br/public/files/rel_gestao/158094/Verde-REL-2022_01.pdf