Corte no preço da gasolina amplia expectativa de deflação em julho

Economistas estimam até 0,20 ponto percentual no IPCA após Petrobras baixar preço em quase 5%

Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Economistas calculam que a redução de quase 5% no preço da gasolina nas refinarias, anunciada na terça-feira pela Petrobras, deve retirar de 0,10 a 0,20 ponto percentual do IPCA de 2022, com impactos concentrados nas projeções de julho e, principalmente, agosto. A mediana das projeções do último boletim Focus indica que os economistas esperavam uma inflação de 7,54% neste ano e 5,2% no próximo.

Depois do anúncio da Petrobras, o J.P. Morgan revisou sua projeção de IPCA em 2022 de 7,6% para 7,4%, com a previsão de julho passando de -0,72% para -0,69%, mas a estimativa de agosto desacelerando de uma alta de 0,36% para 0,11%. Os economistas do banco se disseram surpresos com a notícia, já que seus cenários não consideravam nenhuma mudança no preço da gasolina pelo menos até as eleições de outubro.

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Na Quantitas, a medida reduziu a projeção em 0,21 ponto percentual, para 7,1%. As previsões passaram de -0,61% para -0,67% em julho e de -0,20% para -0,35% em agosto.

“A diferença entre o preço internacional e doméstico chegou a bater -8%. Já tivemos vários episódios em que a Petrobras esperou um pouco mais de tempo antes de reduzir (assim como antes de subir) pra esses níveis de diferença, mas já havia espaço pra derrubar e era condizente com os -5% que ela implementou”, diz João Fernandes, economista da Quantitas.

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Na Armor Capital, o impacto estimado é de 0,15 ponto percentual, com a projeção para o IPCA de 2022 indo para 7,3%, segundo a economista-chefe, Andrea Damico.

Nos cálculos da LCA Consultores, o impacto também é de 0,15 ponto, o que leva a previsão de inflação neste ano para 7,82%. “Já tínhamos uma queda de 10,21% da gasolina para o IPCA de julho, por causa dos efeitos das medidas governamentais de curto prazo e das coletas de preços da ANP [Agência Nacional do Petróleo] e da FGV [Fundação Getulio Vargas], e ela deve ser ainda mais intensa após esse anúncio”, diz o economista Bruno Imaizumi.

No rastro da corrida eleitoral, o governo de Jair Bolsonaro vem adotando medidas de curto prazo para estimular a atividade e reduzir pressões inflacionárias, observam economistas. Eles lembram que a Petrobras havia anunciado um reajuste para cima na gasolina em 17 de junho, após quase cem dias de preços congelados. Agora, em pouco mais de um mês, a estatal repassa o corte.

“A defasagem [entre preços internacionais e domésticos] nas últimas semanas vinha sendo reduzida após bater quase 30% por causa da queda do preço do petróleo no mercado internacional, mas desde a presidência [na estatal] do general Luna e Silva, em abril de 2021, a Petrobras pratica preços abaixo da paridade internacional. Ou seja, em reais por litro, a gasolina aqui é mais barata desde abril de 2021, diz Imaizumi.

Segundo Fernandes, da Quantitas, há espaço também para o diesel cair, cerca de 5%, mas, neste caso, o impacto sobre o IPCA seria quase nulo. “Também em episódios anteriores observamos um intervalo de tempo maior antes de ela [Petrobras] implementar cortes para um nível de ‘gap’ de -5%, mas como ela já deu o corte pra gasolina, pode ser que entregue um para o diesel no curto prazo também”, aponta.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, estima uma redução de 0,10 a 0,15 ponto na sua projeção para IPCA em 2022, que era de 7,4%. “Vale lembrar que, historicamente, nem toda a queda chega ao consumidor final.”

Ele reforça, no entanto, que uma deflação já era esperada para julho e que as expectativas para o IPCA de 2023, que é o horizonte relevante atual da política monetária, estão ficando mais altas. “O prêmio de inflação do mercado subiu nas últimas semanas para prazos maiores”, afirma. “Estamos preocupados com o aumento do coeficiente inercial da inflação desde o fim de 2021 e isso se intensificou nos últimos meses”, diz ele. O Fibra espera 5,4% de IPCA para 2023.

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