Governo vai cortar projeção de PIB para 2022; crescimento deve ser de 1,5%
A nova previsão deve ser anunciada pelo Ministério da Economia na quinta-feira (17)
O Ministério da Economia vai cortar a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022. Segundo fontes do governo ouvidas pela Folha de S.Paulo, a alta deve ser de 1,5%, abaixo da estimativa atual de 2,1%.
A nova previsão deve ser anunciada pela pasta na próxima quinta-feira (17). O dado serve de referência para a revisão bimestral do Orçamento, que será concluída até o dia 22 de março.
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O corte na projeção indica que, no ano em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscará a reeleição, a economia brasileira deve sofrer uma desaceleração mais intensa do que o inicialmente calculado pelo governo.
No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 4,6%, após um tombo de 4,1% em 2020, ano que concentrou os efeitos mais devastadores da pandemia de Covid-19.
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, já admitiu publicamente que a expectativa era de uma desaceleração em 2022.
Um dos fatores que contribui para o freio na atividade econômica é a alta dos juros. Para tentar segurar a inflação, o Banco Central já elevou a taxa básica de juros (Selic) a 10,75% ao ano, e novas altas são aguardadas pelo mercado.
Apesar disso, Guedes tem criticado analistas do mercado financeiro pelo que, em sua visão, é um excesso de pessimismo. Nas estimativas desses agentes, o crescimento será ainda menor, de 0,49% em 2022, segundo o Boletim Focus, divulgado pelo BC.
Além do impacto dos juros elevados, a inflação persistente e a renda fragilizada também explicam o cenário menos benigno para este ano. Em conjunto, esses fatores jogam contra o consumo das famílias, motor da economia brasileira.
O ministro da Economia tem alertado, em tom de desafio, que os economistas estão errados em suas previsões. Para ele, o mercado subestima o potencial de crescimento do Brasil em 2022.
“Sim, será um ano difícil, mas cuidado com as previsões. Se erraram três vezes, podem errar quatro. É só ficar um pouco mais moderado, um pouco mais tranquilo, despolitizar um pouquinho a interpretação dos dados econômicos”, advertiu em dezembro de 2021. Desde então, o ministro tem repetido que o Brasil “está condenado a crescer”.
A equipe de Guedes elenca a ampliação do Auxílio Brasil, que vai transferir quase R$ 90 bilhões a famílias de baixa renda neste ano, e os investimentos como fatores de impulso para a economia.
Em fevereiro, a SPE (Secretaria de Política Econômica) divulgou estudo em que aponta investimentos privados de R$ 78 bilhões apenas em 2022, contratados a partir de leilões de infraestrutura realizados no âmbito do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). O valor é R$ 38 bilhões maior que o investido em 2021 nos contratos atrelados ao programa.
O governo também prepara medidas adicionais para garantir a sustentação da atividade econômica. Além de destravar o crédito para pequenas empresas e consumidores, Bolsonaro pretende anunciar na quinta-feira uma nova rodada de saques do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
Como mostrou a Folha de S. Paulo, a medida deve beneficiar cerca de 40 milhões de trabalhadores, com resgates de até R$ 1.000 por cotista. O valor total da liberação pode chegar a R$ 30 bilhões.
O anúncio das medidas positivas está programado para a mesma data da revisão negativa do PIB.
Além do corte na projeção de crescimento, o governo vai reavaliar para cima suas estimativas de inflação.
As mudanças devem impactar na avaliação do Orçamento de 2022. Cada 0,1 ponto porcentual a menos de crescimento no PIB tira R$ 695,3 milhões da arrecadação. Por outro lado, cada 0,1 ponto a mais de inflação injeta R$ 651,1 milhões.
Como a revisão na inflação deve ser de magnitude maior que a mudança no PIB, a tendência é o governo observar um ganho líquido do lado das receitas.
O saldo ajudará a acomodar os recentes cortes de tributos. O governo anunciou uma redução linear de 25% no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), com impacto de quase R$ 10 bilhões para a União.
Já na última sexta-feira (11), o presidente sancionou a lei que desonera o diesel, o gás e o querosene de aviação da cobrança de PIS/Cofins. A medida gera uma renúncia próxima a R$ 20 bilhões.
Mas a pressão no Orçamento continuará, uma vez que a arrecadação extra não pode ser usada em novos gastos do governo. A regra do teto de gastos limita o crescimento das despesas à variação da inflação.
Os técnicos da área econômica já têm mapeado os buracos no Orçamento, um deles na própria Economia. A pasta de Guedes sofreu um corte de 50% durante a votação no Congresso Nacional, e alguns de seus órgãos podem paralisar atividades ainda no primeiro semestre.
Com Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.