O corte unilateral de 10% nas tarifas de importação do Brasil vai abrir caminho para um choque de oferta e moderar os reajustes de preços, disse hoje o ministro da Economia, Paulo Guedes, na III Conferência de Comércio Internacional e Serviços do Mercosul, promovida pela Confederação Nacional do Comércio.
Ele fez o comentário antes de a medida ser anunciada pelo governo brasileiro. No evento, disse ter expectativa que a medida fosse implementada “nos próximos dias”. No entanto, ela foi divulgada minutos depois de sua fala.
“Num momento como o atual, em que nós temos pressão inflacionária forte na economia brasileira, gostaríamos de dar um choque de oferta, facilitando a entrada de importações para dar uma moderação nos reajustes de preços”, afirmou o ministro. “É um momento ideal para fazer abertura, ainda que tímida, da economia.”
A proposta inicial do Brasil era cortar em 10% a totalidade das tarifas de importação, mas, no mês passado, foi feito acordo com a Argentina para que o corte de 10% das tarifas atingisse 87% da pauta brasileira. “A pedido da Argentina, vamos deixar 13% de produtos e serviços fora desse movimento de redução de tarifas”, disse o ministro. Pelas regras do Mercosul, a tarifa externa é comum a todos os sócios. Da mesma forma, as negociações de acordos comerciais por países sócios do Mercosul não são feitas individualmente.
Ele comentou que o presidente da Argentina, Alberto Fernández, foi muito “caloroso” na reunião que teve com o presidente Jair Bolsonaro, em Roma. E disse que o Brasil compreende as dificuldades da Argentina, que passa por um momento difícil de negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Temos de apoiá-los”, disse. Por outro lado, a Argentina deve compreender a necessidade do Brasil de promover a abertura comercial, disse.
Mercosul
Guedes afirmou que o Mercosul não pode ser uma ferramenta que impeça maior integração global. Ele acrescentou que a Eurásia se confirma como novo eixo de crescimento do mundo e que o Brasil quer fechar acordos comerciais naquela região.
“É importante que o Mercosul nos permita essa flexibilidade”, disse. “Em vez de impedir nossa integração, possa nos ajudar.”
O ministro comentou que a iniciativa de formar o Mercosul, que funcionaria como uma plataforma de integração comercial dos países sócios na economia global, é anterior às experiências da União Europeia, da Aliança do Pacífico e da área de comércio norte-americana.
No entanto, segundo ele, o Mercosul fracassou em sua integração global. “Foi uma oportunidade perdida e nossos povos tiveram menor aumento de renda per capita por estarem privados da integração na economia global”, comentou. Da mesma forma, as empresas da região tiveram prejuízo em seu processo de aumento da produtividade.
“Regredimos porque mantivemos práticas comerciais obsoletas em meio a avassalador movimento de integração global”, comentou. “A grande vantagem, que é integração [do Mercosul] tem de ser usada com alavanca para maior abertura”, disse Guedes. “Temos de dar o passo adicional de facilitar a integração em nome da melhoria da qualidade de vida dos nossos povos.”
O atual governo começou em “alta velocidade” na busca de maior integração, com a negociação do acordo com a União Europeia, a retomada da Rodada Doha e o processo de ingresso na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), além da conclusão de acordos com a Área de Livre Comércio da Europa (Efta) e outros. Começou também uma aproximação com Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Líbano e Canadá, listou.