Guerra comercial de Trump ameaça exportação de madeira brasileira

Ameaça de tarifas dos EUA sobre importações de madeira preocupa o setor brasileiro, que busca alternativas e acompanhamento próximo das negociações

Em meio aos anúncios de política comercial americana durante o feriado prolongado de Carnaval no Brasil, exportadores brasileiras apontam uma, com potencial para atingir o mercado doméstico. No sábado, Trump assinou uma ordem executiva que abre uma investigação com possibilidade elevar tarifas sobre produtos de madeira, incluindo madeira serrada e seus derivados.

A preocupação do governo Trump, assim como aconteceu no anúncio de tarifas universais sobre o aço e o alumínio, é a segurança nacional dos Estados Unidos.

“A indústria de produtos de madeira, composta de madeira serrada e derivados (como produtos de papel, móveis e armários) é uma indústria de manufatura crítica essencial para a segurança nacional, força econômica e resiliência industrial dos Estados Unidos. Esta indústria desempenha um papel vital nas principais indústrias civis”, informa a nota da Casa Branca. Assim, o governo justifica a investigação sob o respaldo da Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio de 1962, a mesma usada para impor as tarifas globais de 25% sobre aço e alumínio.

Conforme explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e advogado especializado em comércio internacional do escritório BPP Advogados, o foco imediato é o mercado interno dos EUA e a proteção de sua indústria de madeira e madeira. As implicações dessa medida para os exportadores brasileiros de móveis e madeira, entretanto, podem ser substanciais.

“O resultado da investigação pode levar a medidas como tarifas adicionais ou cotas para proteger a produção doméstica e garantir a resiliência econômica e industrial”, aponta Barral.

“Dependendo da conclusão da investigação, as tarifas sobre a madeira brasileira podem dificultar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado dos EUA, um dos principais destinos de exportação para a indústria de móveis e madeira”, acrescenta.

Pelo procedimento invocado por meio da Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio de 1962, o Departamento de Comércio dos EUA agora realizará uma investigação para avaliar se as importações de madeira e seus derivados ameaçam a segurança nacional, levando em consideração o impacto de subsídios estrangeiros, práticas de comércio predatórias e a viabilidade de aumentar a produção doméstica. O prazo para que a investigação seja concluída é de até 270 dias e prevê um relatório a ser entregue ao presidente dos EUA com recomendações sobre as medidas a serem adotadas, incluindo possíveis tarifas ou quotas de importação.

“Caso o Brasil seja incluído na lista de países alvo, pode haver a imposição de cotas específicas para exportação de produtos de madeira e móveis. O Brasil já enfrenta limitações de exportação para a madeira serrada devido à aplicação de tarifas e quotas administradas pelo governo anterior dos EUA”, observa Barral. “Medidas de proteção, como tarifas ou quotas, podem criar um ambiente menos competitivo, com exportadores brasileiros tendo que encontrar novos mercados ou ajustar sua estratégia de preço. A exportação de móveis e madeira para os EUA poderia se tornar menos viável para algumas empresas”, alerta.

Para Barral, mesmo que uma eventual imposição de tarifas ou quotas tenha potencial de prejudicar a própria indústria americana, uma vez que aumentará os custos de insumos e desestabilizará as cadeias de produção, o histórico do mandato anterior de Trump e os sinais da atual gestão indicam que a medida tem boas chances de ser tomada após a investigação. Nesse contexto, o sócio do BPP e também da consultoria BMJ recomenda que o Brasil monitore o progresso da investigação comercial e mantenha contatos próximos com diplomatas e funcionários do Departamento de Comércio dos EUA.

“A ordem executiva de Trump sobre os produtos de madeira, incluindo móveis e derivados, representa um desafio significativo para os exportadores brasileiros. No entanto, essa medida pode ser revista e ajustada ao longo do processo de investigação. A chave para mitigar os efeitos adversos é um monitoramento rigoroso dos desenvolvimentos e uma atuação estratégica nas negociações com os EUA”, sugere Barral.

O conselheiro comercial da Casa Branca, Peter Navarro, já chegou a afirmar que a investigação sobre a importação de madeira será um contraponto às ações dos grandes exportadores do produto, incluindo Canadá, Alemanha e Brasil. Segundo o funcionário de Trump, esses países estão “despejando madeira” no mercado americano “às custas da prosperidade econômica e segurança nacional” dos EUA, o que acende o alerta que, na visão de Barral, não deve ser ignorado.

“As empresas brasileiras devem se preparar para um cenário potencialmente mais complexo e buscar alternativas para garantir a continuidade das exportações e minimizar os impactos das políticas protecionistas”, conclui Barral.

*Com informações do Valor Econômico

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