Guilherme Mello, sobre o pessimismo do mercado: ‘Quando vou falar com o (investidor) local, saio preocupado’
Secretário de Políticas Econômicas, Guilherme Mello, diz que dados econômicos melhores que o esperado gerarão 'revisão de expectativas'
Os dados de crescimento econômico, fortalecimento do emprego, controle da inflação e ajuste fiscal uma hora serão capazes de reverter a tendência dos juros futuros. As taxas seguem pressionados. Essa é a percepção do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.
“Para desconstruir a convenção negativa que existe sobre o Brasil, não adianta eu dizer que (os investidores locais) estão errados”. Este foi o recado do secretário em evento da consultoria APCE, em São Paulo, ocorrido na última sexta-feira (27).
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“Eu tento mostrar (a melhora dos indicadores) com resultado. E, uma hora, os fatos se sobrepõem. O que vai gerar uma revisão de expectativas”, acrescenta.
Então, o secretário de Política Econômica argumenta que, embora o Banco Central seja o responsável pelos juros de curtíssimo prazo, a curva de juros futuros, que se mantém elevada, não é uma construção objetiva.
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“É um fenômeno de percepção fundamentalmente construído entre os investidores domésticos”.
“Quando vou falar com o (investidor) local, saio preocupado. Porque parece que o mundo vai acabar”, arremata o economista, que foi integrado ao ministério da Fazenda no começo do governo Lula.
Investidores locais e estrangeiros
Dessa forma, os maiores bancos do país aumentaram suas projeções para a Selic para cerca de 12%.
Assim, para o BTG a Selic deve ter seu auge em 12,5%. E o aumento dos juros, na contramão das economias centrais, está relacionado à inflação e riscos fiscais.
Então, Guilherme Mello reconhece a necessidade de ajustes fiscais.
Mas aponta discrepâncias entre a situação do país e a percepção do mercado.
“Se esse prêmio está sendo colocado agora, sempre deveria ser colocado porque (a preocupação com a situação fiscal) sempre existiu”, argumenta.
A percepção dos estrangeiros sobre o Brasil é diferente, argumenta Mello.
“Os investidores estrangeiros me falam que quando olham o Brasil ele está bem, crescendo, com inflação caindo, que vai entregar equilíbrio fiscal, mercado de trabalho bom e investimento recuperando”.
Então, um dos argumentos que o mercado usa para apontar deterioração fiscal é que parte dos gastos estaria sendo empurrado para fora do orçamento.
Isso é chamado informalmente de gastos ‘parafiscais’.
Um dos casos é o do dinheiro destinado à tragédia do Rio Grande do Sul.
Política Econômica e os números para estabilização da dívida
Guilherme Mello diz entender o argumento de parte do mercado de que se algo não for feito ao longo do tempo, no que diz respeito ao gasto, “vai chegar o momento que vai ficar mais difícil entregar (crescimento com inflação controlada, mercado de trabalho e contas públicas sadios).
“Existe esse questionamento, que não acho descabido. O que eu acho é que é preciso olhar o filme e ele é muito positivo sob qualquer aspecto”, avalia o secretário.
Nesse sentido, ele diz que o crescimento da economia acima do esperado, entre outros indicadores, tendem a melhorar a relação dívida/PIB no médio e longo prazos.
“O que eu vejo é que o investidor local fala que é preciso entregar resultado primário positivo ao longo do tempo para estabilizar essa dívida. E isso tem sido feito”, diz o secretário de Política Econômica.
“Se você tiver primário em torno de 1%, PIB potencial de 2,5% – revisado pelo FMI – e trouxer ao longo do tempo a taxa de juros para mais próxima da neutra, que segundo o BC é 4,5%, ainda que se coloque um prêmio de 3,5%, previsto para 2026/2027, você tem uma taxa de juros de 8%, com um crescimento de 2,5% e 1% de primário. Com isso, você estabiliza a dívida tranquilamente”, argumenta.