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Há risco de falta de diesel, admite ex-diretor-geral da ANP
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e professor da PUC-Rio, David Zylbersztajn admitiu no domingo (29) que há risco de falta do diesel no país. Em entrevista à GloboNews, ele afirma que vários fatores podem afetar a oferta de diesel – como a guerra da Ucrânia, temporada de furacões ou aumento de demanda de países do hemisfério norte -, mas que a ação do governo brasileiro é a que tende a ter maior impacto no mercado do combustível. As sinalizações de possíveis mudanças na política de preços para o combustível podem afetar a decisão de importadores, o que teria impacto no volume de diesel disponível no país.
“Eu atribuo o principal problema à ação do governo, que está não só desestabilizando a estrutura de governança da Petrobras, como desestabilizando a estrutura de abastecimento do próprio mercado”, disse ele.
Hoje, apontou ele, a Petrobras atende dois terços do consumo de diesel no país, mas o Brasil precisa importar cerca de 30% do diesel que consome. Esse mercado é atendido pelos importadores, que levam cerca de 60 dias para receber o produto após a compra e precisam vender pelo preço de mercado.
“Aí o governo sinaliza que trocou o ministro [de Minas e Energia], que vai trocar o presidente [da Petrobras], que vai mudar a política de preços. O importador pensa: ‘eu vou comprar [o diesel] por 100 e o principal competidor que é a Petrobras vai vender por 80. Aí não vou importar, para perder dinheiro’”, afirmou ele, acrescentando. “Tem duas alternativas nessa situação. Ou o governo sinaliza que não vai intervir no preço, que não está acontecendo, ou a gente pode ter risco sim de falta de combustível e a Petrobras talvez tenha que assumir essa importação com prejuízo, o que a gente já viu no passado. Parece que não aprende com erros do passado”.
Zylbersztajn se mostrou contrário a subsídios para o preço de combustíveis e disse acreditar “ser pouco provável” que a Petrobras recorra ao mecanismo no momento, lembrando que no passado isso gerou enormes prejuízos para a empresa, com dívida corporativa elevada, tratando-se de uma empresa de capital misto.
“Eu questiono um pouco [a adoção de subsídios]. Nas cidades, o congestionamento não está diminuindo. Hoje o que mais se vende no país são SUVs, que geralmente circulam com apenas uma pessoa dentro do carro. Acho que quem está sofrendo é quem precisa efetivamente do combustível para trabalho, como motorista de táxi, de aplicativo, entregadores. Para esses, poderia ter alguma forma de mitigação [da alta do custo]. Para o resto, sinto muito, tem uma questão de adaptação”, destacou.
Segundo o ex-diretor da ANP, o custo de um plano para reduzir em torno de R$ 1 o preço do combustível na bomba seria de cerca de R$ 50 bilhões. “O orçamento para recuperação de estradas no Brasil, que estão em estado calamitoso, foi de menos de R$ 10 bilhões e foi cortado. Se você conserta estradas no Brasil, automaticamente reduz o consumo do diesel por caminhões, reduz o custo de manutenção, melhora a eficiência de logística no país”, disse.
Na sua avaliação, o momento atual de crise deveria ser usado para pensar em soluções estruturais para o país, como melhoria das rodovias e do transporte urbano.
“Nessa hora, o governo devia estar aproveitando a crise para pensar em melhoras estruturais como melhora de transporte urbano. Essas pessoas que andam enlatadas no transporte urbano merecem a atenção e não necessariamente o motorista de carro”, disse, lembrando ainda a necessidade de adaptação das frotas de ônibus e caminhões para o uso de gás natural. “Mais de 80% dos caminhões são de empresas, que poderiam entrar nas discussões sobre melhoria de logística e de transformação de caminhões e ônibus para gás natural. Isso é muito forte na Europa.
Outro argumento contrário aos subsídios apresentado por Zylbersztajn foi a situação de aquecimento global, que desestimula qualquer destinação de recursos para combustíveis fósseis.
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