Haddad: ‘Há sinais evidentes de que chegou hora de mudar trajetória dos juros’

O ministro citou, entre os fatores, a queda na inflação e a valorização do real

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião com parlamentares sobre Reforma Tributária. Foto: Diogo Zacarias
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião com parlamentares sobre Reforma Tributária. Foto: Diogo Zacarias

“Tudo está convergindo para harmonizar o fiscal e o monetário” e já há “sinais evidentes” de que chegou o momento para mudança na trajetória de juros, disse nesta quinta-feira (13) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele citou a queda na inflação, valorização do real, estabilização de variáveis e queda na curva de juros futuros.

“Há sinais evidentes e economistas de várias escolas já estão se manifestando até pela imprensa. Eles dizem que chegou momento de iniciarmos trajetória de queda de juros porque é consistente com o que o Brasil atingiu e é necessário porque o mercado de capitais está travado”, afirmou Haddad.

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Em entrevista a jornalistas na China, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em visita ao país asiático, o ministro disse que o país poderá voltar a crescer com queda na Selic associada a medidas que o governo está adotando e à reforma tributária. A mudança no sistema tributário, reforçou, é essencial para um “choque de produtividade” no país e até mesmo para garantir competitividade.

“Quem segue o manual e paga todos os tributos, por mais eficiente que seja, não consegue concorrer com quem apela [na Justiça] a questionamentos se aproveitando do emaranhado de normas do sistema”, argumentou. “A economia brasileira não está permitindo que os bons empresários, os mais eficientes, consigam crescer.”

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Saída de Campos Neto do BC

Haddad disse também que não conta com a possibilidade de saída antecipada de Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central – o mandato se encerra em dezembro de 2024.

“Não, eu conto com a baixa dos juros”, disse Haddad, quando questionado por um repórter se contava com a saída antecipada de Campos Neto. “Agora, quero crer, o Banco Central tem uma janela de oportunidade, que eu espero que seja aproveitada, para que o Brasil possa pensar em crescimento econômico sustentável.”

Campos Neto e o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC foram alvo de constantes críticas de integrantes do governo, inclusive de Lula, que defendem que os juros devem ser reduzidos. Atualmente, a taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano.

Adesão à ‘Nova Rota da Seda’

Não está prevista durante a visita do presidente Lula à China a entrada oficial do Brasil na chamada “Nova Rota da Seda”, o megaprojeto global de infraestrutura chinês que tornou-se uma dos principais bandeiras da diplomacia do país asiático.

É o que afirmou nesta quinta em Xangai o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após dias de especulação de que o Brasil poderia assinar um memorando de adesão ao plano, que este ano está completando dez anos.

Segundo Haddad, a adesão não figura entre os documentos que serão firmados nesta sexta, quando o presidente Lula estará em Pequim para encontros com o presidente chinês, Jinping, e outras autoridades do país.

Cerca de vinte acordos devem ser assinados. Fontes do governo relatam que persiste uma divisão sobre o tema nas esferas responsáveis pela tomada de decisão, sobretudo entre a Presidência e o Itamaraty.

A favor está principalmente a perspectiva de um aumento de investimentos chineses em infraestrutura. O argumento contrário é de que este não seria o melhor momento para embarcar numa iniciativa chinesa com ambições geopolíticas sem uma contrapartida clara, que compense os ruídos que isso pode criar para o Brasil com parceiros do Ocidente, principalmente os EUA.

Haddad adiantou, contudo, que um cardápio de possíveis investimentos em infraestrutura está sendo preparado pela Casa Civil, e um dos principais locais de captação será a China. O plano, de acordo com o ministro, é “conciliar crescimento econômico com infraestrutura”.

Além disso, uma das metas é atrair mais empresas chinesas para se instalar no Brasil, aproveitando a tendência de “descentralização” da produção industrial do país.

“As empresas da China já falam com cada vez mais liberdade da possibilidade de realizar investimentos em outros países e não centralizar aqui, por várias razões. Nós temos uma vantagem que pouquíssimos países do mundo têm, que é uma matriz muito limpa, que tende a ficar cada vez mais limpa, com energia solar, eólica”, afirmou.

Sobre o plano de Brasil e China ampliarem o volume de transações por meio de moedas locais, evitando o dólar e variações cambiais, Haddad negou que haja um componente geopolítico para o governo brasileiro, que possa levar à inclinação para um dos lados da disputa entre EUA e China.

“O Brasil não é um país alinhado no sentido tradicional do termo, é um país que sempre dialogou com todos os quadrantes sem privilegiar fortemente um lado e nunca fechou a porta para ninguém”, disse Haddad.

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