IGP-10 de 12 meses é menor em quase 5 anos e sinaliza IGPs baixos no 1º semestre, diz FGV Ibre

Índice Geral de Preços é o menor desde abril de 2018; FGV-Ibre diz que inflação dos alimentos ao consumidor arrefeceu

A inflação apurada pelo Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) registrou em 12 meses até fevereiro o menor patamar em quase cinco anos — e sinaliza taxas reduzidas para a família dos Índices Gerais de Preços (IGPs), no primeiro semestre desse ano, segundo Matheus Peçanha, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) ao comentar o IGP-10 do mês, anunciado hoje.

O indicador — que, por ser o primeiro a ser anunciado no mês, costuma ser sinalizador para comportamento de outros IGPs da fundação — desacelerou de 0,05% em janeiro para 0,02% em fevereiro, menor taxa desde novembro do ano passado (-0,59%). Em 12 meses, acumula taxa de 2,26% até fevereiro, a menor desde abril de 2018 (1,31%).

Queda nos preços de atacado e do minério de ferro

Ao detalhar a trajetória do IGP-10, Peçanha explicou que a taxa menor foi ocasionada por queda nos preços do atacado, que representa 60% do total do indicador. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-10), sub-índice que representa preços atacadistas, passou de -0,06% em janeiro para -0,14% em fevereiro.

Um fator a inibir avanço no IPA-10 foi desaceleração de preço em minério de ferro (11,92% para 3,82%). Esse item é o produto não agrícola de maior peso na formação do IPA-10. Peçanha explicou que a menor demanda da China, maior compradora global do produto, afetou para baixo preço do minério.

Outro aspecto que impactou resultado foi a inflação agropecuária atacadista, acrescentou Peçanha. “Os custos agropecuários em baixa foram fundamentais para o resultado”, afirmou o técnico. A variação de preços dos produtos agropecuários atacadistas foi de -0,07% a -0,76% entre janeiro e fevereiro.

Economia global ajudou no resultado

Peçanha comentou que a demanda externa enfraquecida, influenciada por economia global a operar em ritmo menor, levou ao resultado. Isso porque, com menor demanda, preços de commodities de origem agrícola mostraram queda, dentro do atacado. É o caso das quedas, dentro do IPA-10, de soja em grão (-3,34%); e de bovinos (-2,51%).

Outra influência nos preços agrícolas, salientou ele, foi o fato de que a demanda externa mais fraca ocorre em período em que o Brasil sinaliza safra recorde de grãos para 2023, com clima favorável para as culturas. “Podemos ter uma inundação de oferta interna [de produtos agrícolas]”, admitiu, ao observar que, com oferta menor que demanda, isso reduz preço.

O impacto dos produtos agrícolas mais baratos já pôde ser sentido no varejo, observou o economista. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), 30% do IGP-10, acelerou de 0,47% para 0,55%, puxado por reajustes que sempre ocorrem nessa época do ano, como curso de ensino fundamental (5,86%) e plano de seguro e saúde (1,12%).

Inflação de alimentos ao consumidor arrefeceu, diz FGV

Mas, ponderou ele, a inflação dos alimentos junto ao consumidor arrefeceu, passando de 0,67% para 0,23% dentro do IPC-10, de janeiro para fevereiro. “Com os custos agropecuários [menores] podemos ter aí uma descompressão nos preços dos alimentos no varejo”, reconheceu ele.

Como os fatores que estão a conduzir taxa menor do IGP-10 de fevereiro não vão sumir de um mês para o outro, o técnico acredita ser possível novas taxas menores para os IGPs, no primeiro semestre. “Creio que isso é possível”, admitiu.

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