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Impactos do Fed sobre a economia brasileira
Sinais de enfraquecimento da economia americana, em especial do mercado de trabalho, levaram os analistas a dar como certo o corte de juros nos Estados Unidos (EUA) pelo Federal Reserve (Fed). A equipe do Itaú concorda com essa posição. E mais, espera três cortes de 25 p.b., começando em setembro.
As decisões de política monetária nos Estados Unidos (EUA) têm um impacto global. Isso porque o dólar é a moeda de reserva internacional. Além disso, os EUA têm, de longe, o mercado financeiro mais líquido e profundo do mundo.
Ciclos de política monetária influenciam, além das taxas de câmbio, os preços de commodities. Ambos os fatores tendem a ter influência relevante sobre a inflação.
Principalmente em economias emergentes, nas quais matérias primas e itens comercializáveis usualmente têm maior relevância dentro das cestas de consumo.
Como a possível queda de juros nos EUA afeta o Brasil
Os economistas do Itaú recorreram à experiência passada para tentar avaliar como a flexibilização monetária nos EUA pode impactar nossa economia.
Desde a década de oitenta do século passado, o Fed implementou sete ciclos de flexibilização.
O primeiro ocorreu na saída da desinflação de Paul Volcker (presidente do Fed de 1979 a 1987), entre 1981 e 1982. O mais recente ocorreu durante a pandemia, em março e abril de 2020.
Os ciclos são distintos entre si.
Houve episódios quando a flexibilização foi uma reação a crises, como em 2008 e na pandemia. Em outros casos, o processo foi uma calibragem de política monetária, no curso usual da atuação de um banco central.
Quando os EUA estão flexibilizando a política monetária, isso em geral ocorre em contexto de recessão, esperada ou efetiva. Como efeito, isso tende a levar a um aumento da aversão ao risco.
Esse efeito é mais intenso quando a flexibilização ocorre para combater os efeitos de uma crise financeira.
Impactos do Fed: câmbio, commodities e inflação
No contexto das economias emergentes, aumento da aversão ao risco leva à deterioração de preços de ativos, inclusive a taxa de câmbio. Então, quando o mercado espera cortes de juros nos EUA, o primeiro impacto nesses países pode ser de depreciação cambial, o que prejudica o combate à inflação.
Mas a estória não termina aí.
Como a flexibilização monetária geralmente ocorre em ambientes recessivos, dado o peso dos EUA na economia mundial (26% do total) os preços de commodities tendem a declinar, de forma que o efeito líquido pode ser até benigno.
Uma avaliação preliminar dos sete episódios sugere que, após um impacto inicial altista, o saldo tende a ser favorável, para a inflação brasileira, por conta da redução dos preços de commodities quando denominados em moeda nacional.
No entanto, o impacto tende a ser menos relevante ou neutro quando a redução de juros nos EUA consegue promover um pouso suave da economia, o que pode ser o caso atualmente – desinflação sem recessão.
Questão de timing
Em resumo, essa avaliação indica que não devemos assumir, de forma apressada, que uma flexibilização monetária nos EUA sempre e em qualquer momento ajudaria a política monetária por aqui.
Vai depender das causas da flexibilização e, em particular, do eventual impacto no preço das matérias primas. E há também a questão de timing.
Para economias, como o Brasil, nas quais as expectativas inflacionárias já estão desancoradas, a queda dos preços de commodities pode vir tarde demais para conseguir aumentar os graus de liberdade da política monetária no curto prazo.
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