‘É importante não apostar no pior nem no melhor momento de Lula’, diz Nicola Tingas

Economista-chefe da Acrefi explica que, para democratizar crédito, Lula não pode usar fórmulas sem lastro nem 'dar crédito sem critério'

Nicola Tingas: “Democratizar o crédito não é emprestar sem critério” | Inteligência Financeira

Com a projeção de um cenário econômico mais delicado para o ano que vem, o economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Nicola Tingas, diz que é prudente não se apegar muito às fórmulas do passado. Nem para o investidor nem para o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Acho que é importante no início de um novo governo, mesmo sendo mais conhecido como no caso do Lula, que saibamos em não apostar no pior momento dele, e nem no melhor. Nós vivemos uma situação conjuntural no Brasil e no mundo que é bastante desafiadora e que, portanto, esse governo também precisará de cautela ao tomar suas decisões, como o resto do mundo”, afirma Tingas.

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Prejuízo com inadimplência até o 2º tri

Ex-diretor executivo da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Tingas vê o próximo ano como desafiador. O setor de serviços pode contrair com demissões no 1º trimestre após resfriamento da época de final de ano. Ao mesmo tempo, o setor bancário terá de lidar com a inadimplência por mais alguns meses.

Conforme o economista-chefe da Acrefi, a expectativa é de um mercado de crédito bancário mais enxuto em 2023. Ele prevê uma queda no crédito total nominal de 16,3% para 8,3%, e do crédito real de 5,7% para 3,2% para o ano que vem.

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A inadimplência a nível recorde do terceiro trimestre que refletiu no mau desempenho dos balanços dos grandes bancos naquela temporada deve perdurar. Para o economista, é provável que o endividamento deixe de prejudicar as finanças das maiores instituições bancárias somente no 2º trimestre de 2023.

“Em primeiro lugar, nós estamos vivendo uma fase de ajuste na oferta de crédito em função da alta inadimplência. O nível elevado de incerteza e a redução na atividade econômica traduz para uma capacidade de pagamento mais limitada”, explica Tingas. “Com a inflação, na verdade o crescimento real [do crédito total] será muito pequeno. Provavelmente vai se dar mais no 2º semestre do ano que vem, quando a economia atingir uma trajetória de recuperação gradual.”

Papel dos bancos públicos

A expectativa é de que bancos públicos, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) — para pequenas e médias empresas —, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil — para pessoas físicas —, puxem a recuperação do crédito no próximo governo. Isso já foi sinalizado pelo presidente eleito Lula e pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

“[BNDES, Caixa e BB] serão vetores para dinamizar o crédito e a oferta de dinheiro para população em geral. O setor privado estará em fase de ajuste. Deve continuar concedendo crédito, sem dúvida, mas de forma mais cautelosa enquanto se adapta ao cenário econômico”, continuou o economista-chefe da Acrefi.

‘Democratizar o crédito não é dar sem garantias’, afirma Tingas

Como futuro titular da Fazenda, Haddad consagrou em coletiva à Febraban que uma das prioridades do novo governo será estimular o crédito para ‘democratizar’ o acesso ao sistema financeiro no país. Apesar de olhar o novo governo nem com pessimismo ou otimismo, Tingas adverte contra fórmulas fracassadas para de tentar estimular o crédito de forma ampla, e sem lastros do tomador de empréstimo, pode inaugurar um novo ciclo de inadimplência. “Acho que eles [do futuro governo Lula] sabem disso e que não vão fazer dessa forma. Haverá um gradual incentivo ao crédito via setor público, mas espero que seja mais comedido e adequado”, diz o economista.

“Quando o governo entrante verbaliza que vai ‘democratizar o crédito’, é importante saber de que forma isso será. Se será como, por exemplo, no governo Lula 2 no governo Dilma, ou se isso será dentro da realidade atual”, afirma, destacando que o BC já ampliou a oferta de crédito por meios digitais e via cooperativas e fintechs, além dos bancos comerciais.

“Eu acho que se o novo governo levar isso em conta, o que ele precisa trabalhar muito mais para democratizar ainda mais o crédito é, por exemplo, melhorar garantias. Democratizar o crédito não é dar crédito sem critério. É ter critério de oferta como o Banco Central está tendo, e manter esse critério para melhorar a condição jurídica das garantias.”

Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi

Renda fixa e Selic para 2023

Quanto ao cenário de juros para o próximo ano, Tingas espera uma Selic mais estável, com variação máxima de pelo menos 1 p.p até o final de 2023, para 12,75%. Isso se a nova política de âncora fiscal a ser anunciada por Haddad der segurança para que o BC comece o ciclo de baixa da taxa de juros.

O economista da Acrefi ainda pautou que 2023 continuará sendo um bom ano para investir na renda fixa, aplicação que, na visão dele, “talvez seja a melhor escolha”.

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