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Inflação dá sinais de que está se espalhando pela economia dos EUA
Dados sobre a inflação nos Estados Unidos em abril divulgados nesta quarta-feira indicam que as pressões sobre os preços estão se espalhando pela economia e não são mais um fenômeno exclusivo dos setores mais afetados por problemas relacionados à pandemia de covid-19.
Apesar do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) ter recuado de 8,5% para 8,3%, o núcleo do CPI — que exclui categorias mais voláteis, como alimentos e energia — saltou 0,6% de março para abril, o dobro dos 0,3% registrados entre o fevereiro e março, chegando a 6,2% em base anual.
A maior parte dos economistas espera que a taxa anual de inflação dos EUA continue desacelerando nos próximos meses, à medida que os efeitos imediatos da guerra na Ucrânia são amenizados. Mas o avanço no núcleo do CPI dá sinais de que o problema está se tornando cada vez mais persistente.
A alta no CPI foi impulsionada pelos preços das passagens aéreas, de quartos de hotel e de carros novos. Os custos dos americanos com os aluguéis também aumentaram de forma acentuada em abril, segundo os dados divulgados pelo Departamento de Trabalho.
Além disso, alguns preços que foram recuaram em abril, caso dos custos dos combustíveis, já estão voltando a subir. Os preços da gasolina e do diesel nos EUA, por exemplo, atingiram um novo recorde ontem devido à continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Aneta Markowska, economista-chefe da Jefferies LLC, destacou também os efeitos da recuperação do mercado de trabalho sobre a inflação. Em abril, os EUA criaram 428 mil empregos, o 12º mês consecutivo que o saldo positivo de novos postos de trabalho superou 400 mil.
“Agora, o que estamos começando a ver é que a pressão não está mais emanando do lado da oferta”, disse Markowska, se referindo aos problemas nas cadeias de suprimentos que afetaram a disponibilidade de produtos em alguns setores. “Ela está emanando do lado do mercado de trabalho. E é menos provável que isso desapareça por conta própria.”
Apesar do ritmo rápido das contratações, ainda há uma lacuna enorme entre as vagas de emprego abertas e o número de americanos que estão buscando trabalho — um sinal de que a demanda por mão de obra está superando em muito a oferta.
Os empregadores estão aumentando os salários para tentar manter ou contratar novos funcionários. Cientes de que poderão encontrar melhores ofertas, 4,5 milhões de americanos pediram demissão em março em busca de melhores condições de trabalho, um novo recorde.
Analistas disseram que os sinais de que a inflação está se espalhando pela economia americana indicam que o caminho até que a taxa anual volte à meta de 2% do Federal Reserve (Fed) pode ser mais longo do que o inicialmente previsto.
James Knightley, economista do ING, afirmou que duvida que o CPI retorne à meta do banco central americano, de 2%, antes do final de 2023, já que a desaceleração nos preços dos bens está sendo compensada pelo aumento dos custos do setor de serviços. Para ele, fatores geopolíticos, como o conflito na Ucrânia e os lockdowns contra a covid-19 na Ucrânia, manterão as pressões sobre alguns setores, como a energia.
Kathy Bostjancic, economista da Oxford Economics, concordou que a queda no ritmo da inflação será “muito gradual” e destacou que a nova alta dos preços da gasolina e do diesel representam um risco para as perspectivas futuras do CPI.
“Além disso, os lockdowns relacionados à covid-19 na China e a continuidade da guerra Rússia-Ucrânia colocam mais pressão nas cadeias de suprimentos já tensas”, disse ela.
A persistência da inflação se tornou uma dor de cabeça política para os democratas nas eleições legislativas de novembro. Ontem, o presidente americano, Joe Biden, elencou em discurso medidas que estão sendo tomadas pelo governo para conter o avanço dos preços, culpando a pandemia e a guerra de Vladimir Putin pelo problema.
Após a divulgação do relatório hoje, Biden celebrou o recuo da inflação em abril, mas afirmou que a taxa continua “inaceitavelmente alta”. Em comunicado, ele reiterou que o combate à alta dos preços é a prioridade econômica da Casa Branca e citou o aperto monetário que está sendo realizado pelo Fed, que elevou a taxa de juros nos EUA em 0,5 ponto percentual na semana passada, para o intervalo de 0,75% a 1%.
“O Fed sinalizou que está empenhado em combater a inflação, mas acalmar o crescimento anual de sua atual faixa de 8% para algo mais próximo da meta de 2% será um esforço que se estenderá até 2023”, previu Kurt Rankin, economista da PNC.
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