Inflação deve seguir elevada por mais tempo, diz Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que avalia os riscos em torno da inflação como “enviesados para cima” e reconheceu que a disparada dos preços preocupa, apesar da decisão da autoridade monetária europeia de ontem.
Em entrevista após a reunião de política monetária do BCE, Lagarde afirmou que havia uma preocupação “unânime” entre os membros da autoridade sobre os dados de inflação, e que os índices de preços devem permanecer mais elevados do que se esperava anteriormente. Mesmo assim, ela disse que ainda espera que a inflação recue ao longo de 2022 e sugeriu que a política monetária pode não ter as ferramentas apropriadas para lidar com o surto de inflação atualmente enfrentado pelo bloco.
O BCE não anunciou alterações na sua política monetária na reunião de ontem e reafirmou o plano de encerrar seu Programa de Compra de Emergência Pandêmica (PEPP). O programa prosseguirá em um ritmo mais lento neste primeiro trimestre e será descontinuado no fim de março. A taxa de depósito foi mantida em -0,5%, a de refinanciamento, em zero, e a taxa de empréstimos permaneceu em 0,25%.
Lagarde ressaltou que o principal fator por trás da disparada dos preços é o salto na energia, e que a política monetária não tem a capacidade de reduzir os preços do setor, que são amplamente determinados fora da zona do euro. Ela disse também que, embora a taxa de desemprego esteja em níveis historicamente baixos, o BCE não está vendo os ganhos salariais esperados em um mercado de trabalho apertado, o que poderia levar a uma inflação mais sustentada.
Ela disse também que o BCE está “muito atento” aos riscos de inflação relacionados às tensões entre a Rússia e a Ucrânia, dado que um conflito aberto entre os dois países pode empurrar os preços de energia para cima. Lagarde afirmou ainda que a discussão sobre a inflação deve ser mais bem detalhada em março, quando o BCE publicará novas projeções. Por enquanto, espera que a inflação siga em direção à meta de 2% da instituição “no médio prazo”.
“A queda do núcleo da inflação em janeiro provavelmente forneceu algum conforto aos defensores do afrouxamento monetário do conselho do BCE”, disse Tej Parikh, diretor da equipe econômica da agência de classificação de risco Fitch Ratings. Com as previsões de médio prazo do banco central europeu próximas da meta de 2%, mais surpresas inflacionárias altistas podem acionar uma alta dos juros, segundo o economista.
“Embora nós esperemos que as pressões inflacionárias subjacentes caiam o suficiente para evitar a necessidade de alta nos juros este ano e em 2023, a persistente alta dos preços de energia pode agitar as expectativas de inflação, elevar os salários e fazer com que a elevação das taxas ocorra antes”, afirmou Parikh.
Questionada sobre quando o BCE pode começar a elevar os juros, Lagarde afirmou que “não elevaremos os juros antes de termos reduzido as compras líquidas de títulos”. Segundo ela, a autoridade monetária europeia reavaliará as compras líquidas de ativos na reunião de março, quando definirá o programa de compras esperado para o resto de 2022.
Lagarde alertou, porém, que é preciso ter cuidado com as comparações entre as situações enfrentadas pelos Estados Unidos e pela zona do euro, apontando que a demanda europeia voltou aos níveis pré-pandemia, enquanto, nos EUA ela está 30% acima desses níveis, devido aos amplos estímulos fiscais do governo americano.
Em relação às condições econômicas da zona do euro, Lagarde disse que a atividade segue em recuperação, com a ajuda da política monetária acomodatícia, e que ela é afetada cada vez menos pelas sucessivas ondas de infecção da pandemia.
Ela disse ainda que há sinais de que os gargalos na cadeia de abastecimento estão começando a se desfazer, mas que a falta de materiais e de mão-de-obra continuam segurando a recuperação, sobretudo no setor industrial. Os riscos em torno do crescimento foram avaliados, porém, como “equilibrados” para o médio prazo, com a possibilidade de uma recuperação mais forte do que a esperada do consumo sendo possível.
Leia a seguir