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Investidor estrangeiro volta à Bolsa brasileira; entenda
Os primeiros dias de agosto registraram uma mudança de cenário na Bolsa de valores. Em 15 dias, o investidor estrangeiro injetou R$ 11 bilhões na B3, ajudando o mercado acionário a se recuperar – no mês, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, subiu 10%.
Após uma fuga acentuada de capital estrangeiro em abril e maio, quando R$ 13,8 bilhões deixaram a Bolsa brasileira, e um cenário morno em junho e julho, quando R$ 2,3 bilhões ingressaram, houve uma mudança na expectativa em relação à desaceleração da economia global. Alguns analistas estimam que essa mudança poderá ser mais suave do que o estimado inicialmente. Além disso, a deterioração do cenário político e econômico de outros países emergentes têm favorecido o ingresso de capital internacional no Brasil.
Entre os analistas de mercado há uma corrente que argumenta que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) não precisará aumentar a taxa de juros de forma tão agressiva para segurar a inflação. Assim, o risco de uma recessão no país diminui, e os investidores ficam mais propensos a tomar risco e investir em países emergentes como o Brasil.
“Há uma visão de que talvez o Fed não precise continuar elevando o juro no ano que vem e de que a taxa possa ficar em 3,5%”, disse ao Estadão Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria. Em julho, os dirigentes do Fed subiram a taxa de juros em 0,75 ponto porcentual, para um intervalo de 2,25% a 2,5% ao ano. O economista lembra também que os ativos brasileiros estavam baratos, o que atrai o investidor estrangeiro.
Um segundo motivo que que tem levado o investidor a voltar a assumir risco foi o resultado das empresas no segundo trimestre, tanto no Brasil como no exterior. Esta é a avaliação da estrategista de ações da XP, Jennie Li.
Antes de a temporada de balanços, havia uma percepção de que os resultados das empresas na Bolsa seriam fracos. Das empresas que fazem parte do S&P 500, porém, cerca de 70% tiveram um lucro acima do esperado pelo mercado. Dados parciais do Brasil também indicam que 70% das companhias devem apresentar resultados operacionais melhores do que os projetados pelos analistas da XP. Segundo Jennie Li, isso faz com que aumente o apetite ao risco do investidor.
Para o gestor de renda variável da ACE Capital, Tiago Cunha, a situação política e econômica de outros países que competem com o Brasil por investimentos também tem favorecido a Bolsa brasileira. A avaliação dele, em entrevista ao Estadão, é de que talvez o Brasil esteja em uma situação um pouco melhor do que emergentes como Rússia, Chile e Colômbia.
Os analistas, porém, destacam que não é possível prever se essa tendência de entrada de capital permanecerá. De acordo com Cunha da ACE, a proximidade da eleição pode deixar a Bolsa mais volátil.
Campos Neto, da Tendências, alerta que o investidor estrangeiro pode estar apenas aproveitando uma oportunidade momentânea. Ainda há pela frente “uma eleição conturbada”, diz. Há uma grande incerteza de política no horizonte. A falta de clareza na política também se reflete na economia. Para Jennie Li, da XP, ainda há cautela no mercado. Para ela, somente após as eleições os analistas conseguirão traçar cenários econômicos com maior visibilidade.
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