Investimento de impacto agora está disponível por R$ 10
Apoiar uma causa, como projetos de geração de receitas para minorias, também pode render dinheiro - e você nem precisa investir tanto
Eduardo Rodrigues Alves é um pequeno agricultor no interior no Rio de Janeiro. Ele nunca tinha ouvido falar na expressão investimento de impacto. Sem capital, sempre teve que vender sua produção de verduras orgânicas por valores muito abaixo dos preços de mercado para conseguir antecipar recursos.
Um dia, a cooperativa da qual faz parte fechou um acordo com uma plataforma tecnológica para receber empréstimo e apoio de gestão. Com acesso a capital, recursos de gestão e certificações de produção de orgânicos, passou a vender seus produtos com melhores preços diretamente a consumidores de grandes centros urbanos.
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“É uma pena que não haja mais apoio para outros produtores, que são fustigados por falta de capital”, diz Eduardo.
Investimento de impacto
Portanto, a experiência ilustra um número crescente de realidades que estão sendo transformadas em rincões pelo país. A intermediação é em um grupo pequeno, mas competente de executivos financeiros. Eles decidiram se concentrar na mobilização de capital para projetos orientados a mudanças socioambientais positivas; É o chamado investimento de impacto.
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Unindo inovações regulatórias, tecnológicas e o crescente apelo pela causa ESG, esses profissionais estão liderando organizações com a Sitawi, Trê e Vox Capital. Elas atuam com projetos tão distintos como gerar renda para jovens do semiárido do Ceará, capacitar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho ou acelerar startups de prevenção ao desperdício de água.
Porém, com um diferencial: os recursos não vêm de doadores ricos, mas do público em geral. Mas não é doação, é empréstimo. E embute o compromisso de devolver aos investidores um retorno similar ou melhor do que os oferecidos pelo mercado.
As iniciativas envolvem um trabalho árduo para selecionar bons projetos. Para além disso, exige:
- Captar recursos em plataformas de empréstimo coletivo;
- Usar ferramentas de gestão;
- Além de um sem-número de atividades comuns ao universo do capital de risco, incluindo auditoria, cobrança e gestão de caixa.
Sitawi
“A gente quer fazer as coisas que o mercado tradicional não faz”, disse à Inteligência Financeira Leonardo Letelier, presidente da Sitawi, uma das pioneiras no setor.
Criada em 2008, a entidade sem fins lucrativos fazia operações filantrópicas e captava recursos de para alguns projetos de forma mais restrita. Com isso, movimentou cerca de R$ 400 milhões.
De olho em experiências internacionais, em 2019 decidiu criar um braço para captar recursos do público no Brasil, com empréstimos a partir de R$ 10.
Logo, desde então, a Sitawi já levantou um total de R$ 30 milhões em 13 rodadas.
A última delas, na semana passada, abriu captação de R$ 700 mil para uma produtora de audiovisual de impacto e uma consultoria de negócios afro-centrada.
Aos seus cerca de 700 cotistas ativos, entre eles o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, a entidade oferece uma rentabilidade de 14% ao ano. E a oportunidade de escolherem em quais projetos querem investir.
No entanto, devem estar prontos a aceitar períodos que podem variar de 24 a 42 meses. O investidor de impacto corre praticamente os mesmos riscos ao aplicar em uma cédula de crédito bancário tradicional. “A lógica financeira é igual à de qualquer outra, a diferença é o propósito”, disse Bruno Girardi, vice-presidente da Sitawi.
Trê
Com um recorte parecido, a Trê também capta via plataforma digital empréstimos a partir de R$ 500 cada. Os recursos vão para negócios com ao menos dois anos de existência e faturamento anual mínimo de R$ 1 milhão. Aos cotistas, a Trê oferece rentabilidade de 1% ao mês.
Dessa forma, desde que surgiu em 2018, as 136 rodadas da Trê já captaram R$ 11 milhões de 700 investidores para 53 projetos. As iniciativas incluem turismo sustentável, moda consciente e alimentação saudável.
Logo, a meta da Trê é chegar a 1 milhão de investidores até 2030.
Essas e outras iniciativas sublinham como empreendedores do chamado terceiro setor estão buscando democratizar o acesso a investimentos associados a causas socioambientais, opção antes restrita a públicos institucionais ou famílias de alta renda.
Assim, por ser um setor novo, a classificação do investimento de impacto, assim como seu alcance, varia de acordo com as métricas.
Então, um levantamento recente feito pela consultoria britânica The Business Research Company aponta que, no mundo, os investimentos de impacto devem movimentar cerca de US$ 500 bilhões em 2023, quase 18% a mais do que no ano passado.
Por aqui, o número mais recente levantado pela filial brasileira do órgão suíço Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande) apontou que o segmento movimentou R$ 18,7 bilhões em 2021.
Vox Capital
É de olho nesse movimento que gestoras de recursos no Brasil também estão se expandindo com essa temática, de olho no investidor de varejo.
Fundada em 2009, a Vox capital se especializou em investimentos de impacto, com a maioria dos seus R$ 1 bilhão de patrimônio captado com grandes investidores.
Há dois anos, começou a lançar fundos de renda fixa para o grande público, com tickets a partir de R$ 100, tendo como alvo de rentabilidade o CDI.
Com base em diretrizes de desenvolvimento sustentável da ONU, a gestora elegeu para suas carteiras papéis de 21 emissores de dívida, inclusive de algumas listadas na bolsa paulista.
Os dois fundos da Vox de investimento de impacto têm um patrimônio somado de R$ 22 milhões, valor comparativamente diminuto em relação a emissores que não raro captam centenas de milhões de uma só vez.
“O trabalho é de formiguinha”, resume Daniela Rachid de La Torre, gestora de renda fixa da Vox, referindo-se tanto ao esforço de captação de clientes e para influenciar as empresas investidas a adotarem melhores práticas socioambientais e de governança.
“Um dia vamos influenciar decisões das empresas”, disse ela.
Warren
A Warren tem dois fundos, ambos de renda variável, com captação a partir de R$ 1. O primeiro deles, o Green, foi criado há três anos e tem papéis de empresas enquadradas em critérios ambientais.
O outro, de 2021, é o Equals, e tem na carteira ações de companhias que possuem políticas de equidade de gênero e mulheres em posições de liderança.
Igor Cavaca, líder de gestão da Warren, conta que ambos os fundos tiveram rentabilidade superior ao do Ibovespa. Embora haja uma crescente busca por investimentos envolvendo causas e não apenas rentabilidade.
“O racional nesses ativos é que, ao obedecerem a critérios socioambientais superiores, as empresas são menos suscetíveis a riscos no longo prazo”, disse ele.
Numa evidência do potencial de carteiras temáticas de atrair públicos mais pela identificação com valores do que pela rentabilidade pura e simples, o fundo Equals tem cerca de 70% do público cotista composto por mulheres.
Isso é muito diferente da média dos fundos em geral, que é mais equilibrada ou tem mais homens, acrescentou Cavaca.