IPCA de agosto mostra que luta contra a inflação no Brasil deve ser demorada

Especialistas avaliam que redução de impostos foi responsável pela queda dos preços e alta da Selic ainda não teve o efeito desejado na economia

Economia brasileira cresce 0,1% em outubro impulsionada por serviços (Foto: Maria Isabel Oliveira/O Globo)
Economia brasileira cresce 0,1% em outubro impulsionada por serviços (Foto: Maria Isabel Oliveira/O Globo)

Nesta sexta-feira (9), o mercado conheceu dados de inflação no Brasil em agosto. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou 0,36% no mês passado, em linha com o que o mercado esperava. Mesmo assim, agentes seguem preocupados com os preços e com o efeito que os dados têm na política monetária do Banco Central

A avaliação de especialistas é de que a alta da Selic para 13,75% ao ano ainda não teve efeito significativo nos preços e as quedas no IPCA de julho e agosto foram resultados da política fiscal do governo, e não da política monetária do BC. 

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Por isso, os dados de hoje despertam um temor de juros mais altos por mais tempo ou até de novo aumento da Selic.

Nicolas Borsoi, economista-chefe de Nova Futura Investimentos, afirma que o indicador, somado a falas recentes de Roberto Campos Neto, presidente do BC, deixam “em aberto a chance do Copom elevar a Selic em mais 0,25 ponto percentual”, e que “essa abertura ruim do IPCA indica que o trabalho do BC ainda vai ser longo, sugerindo que a Selic não deve ser cortada tão cedo”.

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A ponta curta da curva de juros futuros, mais sensível à política monetária, opera em alta nesta sexta-feira, mostrando que as apostas para uma alta de 0,25 p.p. da Selic foram elevadas. Perto das 11h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 subia de 13,025% para 13,085%. O contrato de DI para janeiro de 2025 saía de 11,76% para 11,77%. 

“De fato temos uma queda da inflação na margem, queda esta motivada por fatores exógenos à dinâmica de preços em si – corte de impostos –, mas ainda temos uma projeção de alta de preços”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Netcon. Perfeito projeta alta próxima a 6% do IPCA em 2022, mas pontua que são “6% sobre uma inflação já elevada”.

Em comentário enviado a clientes, Alexandre Póvoa, estrategista da Meta Asset Management, disse que “o que mais preocupa é a incrível inércia da inflação, apesar de toda a alta acumulada na taxa Selic, que jogou o juro real brasileiro prospectivo para acima de 8% ao ano”. 

IPCA ruim por dentro

Esse sentimento de preocupação vem, principalmente, porque o IPCA só vem recuando por causa dos combustíveis, que tiveram retração de 10,82% em agosto. Essa queda, porém, foi incentivada pelo corte de impostos, e não pela dinâmica de preços em si. O preço do petróleo lá fora continua alto, o que impacta os valores por aqui.

Outro fator que preocupa é o índice de difusão da inflação. Esse dado mede a quantidade de produtos e serviços que subiram no mês em relação ao total de itens pesquisados pelo IBGE. Em agosto, o índice voltou a crescer e revelou que 65% dos itens pesquisados tiveram alta nos preços.

“Núcleos variaram mais que o esperado e o índice de difusão segue forte. Isto preocupa e mostra que ainda temos uma inflação muito disseminada”, afirma Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos. 

As análises mostram que há muito mais a ser observado no IPCA do que apenas o indicador final. Especialistas avaliam que os dados de inflação vieram “ruins por dentro” e que a luta contra a alta dos preços deve ser longa e difícil.

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