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Israel e Palestina: como a guerra afeta o investidor brasileiro?
O conflito entre Israel e Palestina tem como desdobramento mais trágico a destruição de vidas, que salta à casa dos milhares nesta segunda-feira (9). Diante das notícias do número crescente de mortes, há aspectos menos importantes, mas que precisam ser tratados, como o impacto na bolsa e em outros ativos.
Nessa missão de entender os desdobramentos da guerra, a Inteligência Financeira ouviu especialistas em economia e mercado financeiro, que indicam quais os potenciais de escalada do conflito e o impacto sobre a vida das pessoas que não estão diretamente envolvidas.
Ações da bolsa têm impactos ainda frágeis
O economista André Perfeito destaca principalmente o impacto sobre o preço do petróleo no curto prazo. Isso tem elevado o valor das ações de petroleiras brasileiras, mas ainda há pessimismo com relação aos ativos de risco para o decorrer da semana.
“Esta é a primeira reação ao conflito e talvez os investidores estejam ainda sem muitas informações sobre a extensão da guerra na região. Se ficar confinado ao território israelense e palestino, provavelmente, o mercado não caia muito, mas essa hipótese parece frágil”, avalia Perfeito.
Reação à vista
Para o economista, o mercado deve manter um tom cauteloso, aguardando mais informações sobre o alcance do conflito, com um provável recrudescimento do conflito até, ao menos, o final de semana, quando, espera-se que Israel resolva a situação dos reféns de posse do Hamas.
“Israel não irá atacar 2 milhões de palestinos de maneira mortal, mas serão algumas centenas de mortos. A pergunta é ‘como irão reagir os países árabes, como Arábia Saudita e Catar, além do Irã, entre outros’?”
Perfeito diz que “o prognóstico não é positivo” sobre a extensão do conflito, com um possível envolvimento de outras nações.
Claudio Felisoni, professor da FIA Business School, lembra que há um histórico de solidariedade entre os países árabes, que se posicionam, via de regra, ao lado da Palestina nos conflitos com Israel. “Isso pode levar a mobilização de recursos humanitários e apoio político e mesmo militar aos palestinos”, avalia.
Extensão do conflito
O ataque sem precedentes do Hamas sobre Israel e a manifestação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizendo que a guerra deve ser “longa e difícil”, indicam uma extensão do conflito no tempo.
“Havendo extensão do conflito, seja para resgatar os reféns (israelenses capturados pelo Hamas) ou destruir o Hamas, isso deve se prolongar por meses”, diz Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Finance da Travisan Escola de Negócios
O conflito no Oriente Médio emerge em um momento já muito conturbado, agravando a percepção de que condições de relativa paz mundial estão sob forte impacto. A percepção é de Felisoni, da FIA.
“Essa escalada de violência soma-se ao cenário de pressões inflacionárias relacionada à guerra entre Rússia e Ucrânia. Não se pode dizer que os impactos serão pontuais e circunscritos à região”, avalia Felisoni.
Reação discreta até agora
Perfeito diz que, apesar da alta do petróleo, a reação nos mercados têm sido discreta ao avaliar que a guerra em Israel será limitada à região. “Isso faz com que os ativos não caiam fortemente. E, no caso do Brasil, a alta do petróleo tem feito a Petrobras subir”.
Inclusive, ainda durante a tarde, o Ibovespa passou para o campo positivo, terminando o pregão em alta.
Consequência da guerra entre Israel e Palestina para os ativos
Para Marinello, se houver ampliação do conflito, envolvendo outras nações, a consequência pode ser de uma provável redução de volume de petróleo no mercado internacional, o que pode afetar a inflação, e a redução no ritmo dos investimentos globais.
“A busca pode passar a ser por investimento mais seguro, com fuga de capital da bolsa em direção dos títulos de curtíssimo prazo. Isso pode gerar uma grande desvalorização das bolsas e uma cenário de altíssima volatilidade”, alerta.
Israel e Palestina: impacto sobre as commodities
Para o especialista da Trevisan, o impacto entre as commodities deve ficar limitado ao petróleo. Porém, assim como aconteceu no início do conflito entre Rússia e Ucrânia, pode haver problemas de incentivo para economias. “Isso tende a afetar outras commodities como um todo”, avalia Marinello.
Felisoni, da FIA, concorda que “o mercado de modo geral pode ser afetado. “No que diz respeito ao petróleo, o impacto é direto, entretanto, a insegurança espraiada leva naturalmente a uma maior percepção de risco”, complementa.
Temores sobre futuro dos juros
Se a extensão do conflito for realmente a esperada, com um envolvimento dos demais países árabes, a reação de Israel deve ganhar apoio dos EUA e agravar o cenário econômico pelo mundo todo. “Os efeitos seriam devastadores na estrutura a termo da curva de juros nos EUA”, alerta Perfeito.
O número do payroll, divulgado na semana passada, já tinha aumentado a expectativa relacionada a uma nova alta para os juros americanos na próxima reunião do Fed, em novembro. O que diminui a confiança com as ações da bolsa de valores aqui e pelo mundo.
“E havendo o aumento do petróleo pode refletir ainda mais na expectativa de aumento dos juros e, com isso, gerar efeito de mais um motivo para evasão (de capital), desvalorizando as ações da bolsa e colocando pressão sobre o câmbio”, reforça Felisoni.
Impactos sobre a bolsa de valores do Brasil
Já há um impacto imediato, sobretudo, com o barril de petróleo disparando e jogando para cima as ações relacionadas a essa commodity.
Assim, um agravamento do conflito poderia ser “menos agudo” para ativos de risco no Brasil. “A curto prazo, a alta do petróleo sustenta o Ibovespa e, em alguma medida, o real. Além disso, no médio prazo, o impacto pode ser menor pela distância que estamos dos ruídos globais”, avalia.
Por outro lado, o recrudescimento da guerra pode causar uma fuga (de capital) para mercados mais seguros, diz Marinello, da Trevisan. “Com isso, as empresas que dependem de importação e de juros menores serão pressionadas, como é o caso do setor de varejo”, complementa.
Varejo
As ações da bolsa relacionadas ao varejo sofreram com a possiblidade de aumento de juros. No início da tarde, C&A (CEAB3) descia 4,15%; Assaí (ASAI3) perdia 3,32% e Magalu (MGLU3) desvalorizava 2,81%.
Porém, o cenário mudou, em favor dos papéis. Magalu passou para alta de quase 4%, enquanto C&A e Assaí desceram 1,19% cada. Apesar do alívio, ainda há termos relacionado ao setor.
Para Felisoni, que também é presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), a recuperação das vendas vem ocorrendo de maneira ainda tênue, o que aumenta a exposição a fatores negativos.
Nesse contexto, “o conflito entre Israel e Palestina deve reforçar essa tendência de compressão das vendas”, conclui.
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