Javier Milei encara a primeira greve geral na Argentina
A manifestação tem como motivo as reformas do novo presidente que limitam o direito à greve e o financiamento dos sindicatos
O presidente Javier Milei enfrenta nesta quarta-feira (24) a primeira greve geral na Argentina, convocada pela maior central sindical do país. Assim, à resistência nas ruas soma-se a oposição no Congresso, que obrigou o governo a cortar 141 dos mais de 600 artigos do Decreto de Necessidade de Urgência (DNU), conhecido como “Decretaço”, reenviado para os deputados na segunda-feira.
A manifestação de hoje é encabeçada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), que rejeita as reformas de Milei que limitam o direito à greve e o financiamento dos sindicatos. “Nenhum sindicato está em posição de ceder nem um centímetro do que foi conquistado”, disse Facundo Moyano, vice-secretário-geral da CGT.
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A greve teve convocação no dia 28 de dezembro. Isto é, logo após Milei anunciar o “Decretaço”, que altera 350 normas em diferentes áreas.
Aliás, os artigos que tratam da reforma trabalhista haviam sido revogados pela Justiça, no início do ano. A Câmara Nacional de Apelações do Trabalho decidiu pela suspensão temporária. Em fevereiro, a Suprema Corte deve avaliar a constitucionalidade do projeto.
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Simbolismo
De acordo com Facundo Galván, cientista político da Universidade Católica Argentina (UCA), a greve tem caráter simbólico. Isso porque a CGT é vinculada ao peronismo e oposição a Milei. “As organizações sindicais que levaram parte da reforma trabalhista para a Justiça são contra tudo que o ‘Decretaço’ representa.”
“A greve geral na Argentina está relacionada à maior regulação do sistema de serviços sociais dos sindicatos”, disse Ignacio Labaqui, analista da Medley Global Advisors. Ele diz, além disso, que nunca uma manifestação deste tamanho ocorreu em tão pouco tempo de um governo recém-eleito na Argentina.
Os sindicalistas também se opõem à chamada “Lei Ônibus”, ou seja, pacote de reformas que inclui privatizações, mudanças econômicas e contratuais. Caso haja aprovação, ele dará ao Executivo diversas faculdades legislativas e criará um “estado de emergência” em vários setores – economia, segurança, defesa e saúde – até 31 de dezembro de 2025. A data pode ter prorrogação por até dois anos.
A manifestação, que começa às 12 horas (horário de Brasília), está programada para terminar à meia-noite. Ela deve reunir ferroviários, taxistas, trabalhadores de portos, do setor aeronáutico, além de funcionários de estatais.
Repressão
O governo disse que não “entende” as razões da greve e, portanto, fez campanha para desencorajar o comparecimento. Milei prometeu descontar o dia de trabalho dos funcionários federais.
O ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, ameaçou processar os grevistas. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, criou uma linha para denúncias de trabalhadores que se sintam ameaçados por piquetes.
Segundo analistas consultados pelo Estadão, a greve não deve afetar as negociações de Milei no Congresso, porque a oposição peronista, que aderiu aos protestos, não participa das conversas. “Os opositores que estão negociando com Milei são de partidos ligados ao Juntos pela Mudança”, disse Galván, da UCA, em referência à coalizão de Mauricio Macri, que se desfez após a eleição.
Para reduzir a resistência dos deputados, Milei reenviou, então, na segunda-feira, um projeto reduzido ao Congresso, tirando da lista de privatizações a petrolífera YPF, alterando regras de aposentadorias, exportações e recuando em mudanças no sistema eleitoral.
A pressão de atores, produtores e diretores também fez Milei recuar no corte de verbas para a indústria cinematográfica. O protesto teve apoio do espanhol Pedro Almodóvar, do mexicano Alejandro González Iñárritu e do finlandês Aki Kaurismäki, que assinaram um comunicado em defesa do cinema argentino.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo/Estadão Conteúdo