BCs precisam manter juro alto até controlar a inflação, diz presidente do BIS

Agustín Carstens defende que o aperto monetário é necessário para manter a confiança no dinheiro preservada

O presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens. Foto: Dickson Lee/Reuters
O presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens. Foto: Dickson Lee/Reuters

Os bancos centrais no mundo precisam manter a alta de juros o quanto for necessário para controlar a inflação, afirmou o presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens, em participação no seminário High Level Seminar on Central Banking: Past and Present Challenges.

Segundo o chefe da instituição conhecida como o “banco central dos bancos centrais”, “os BCs precisam manter a determinação, eventualmente para manter a confiança na própria moeda”.

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De acordo com o presidente do BIS, algumas gerações estão experimentando alta inflação pela primeira.

“E uma vez iniciada essa transição, pode ser cada vez mais difícil pará-la. Portanto, é apropriado que a maioria dos bancos centrais em todo o mundo esteja apertando a política monetária por meio de taxas de juros mais altas para restaurar a estabilidade de preços. Essa forte resposta deve continuar enquanto for necessário, pois somente com determinação, perseverança e sucesso nessa tarefa a confiança no dinheiro pode ser preservada.”

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Conforme Carstens, o sucesso de políticas públicas depende da confiança da sociedade nessas políticas.

“Se o público confiar nas ações das autoridades, elas as incorporarão na determinação de seu próprio comportamento”, disse. Segundo o dirigente, a confiança da população torna “mais provável que as autoridades alcancem seus objetivos”.

O especialista aponta ainda que a confiança alimenta a legitimidade das políticas.

Carstens apontou que nesse cenário, “o público estará mais disposto a aceitar ações que envolvam custos de curto prazo em troca de benefícios de longo prazo”.

O presidente do BIS explicou haver um ciclo de feedback positivo na dinâmica da confiança. Se as políticas são efetivas e legítimas, “é mais fácil para as autoridades atingirem seus objetivos, o que por sua vez realimenta a confiança, produzindo um círculo virtuoso”.

No entanto, essa dinâmica também pode funcionar na direção oposta. “No extremo, se a confiança evaporar, desaparece a capacidade de fazer políticas públicas efetivas.”

Preservar a credibilidade é, segundo o especialista, um desafio constante e exige consistência das políticas públicas ao longo do tempo.

Carstens citou que a própria convenção social do dinheiro indica a importância da confiança.

“A moeda como a conhecemos hoje é baseada na confiança depositada nela pelo público. E como o dinheiro é a base de todo o sistema financeiro, a estabilidade do sistema também depende da confiança.”

As consequências de um Estado abusar do privilégio de emitir dinheiro podem ser desastrosas.

“Essas consequências podem ir desde uma inflação elevada e depreciações cambiais acentuadas, passando pelo abandono da moeda nacional em favor de uma moeda estrangeira através da dolarização até, no extremo, um regresso ao escambo, como tem resultado em alguns episódios hiperinflacionários. Também pode resultar em grave instabilidade financeira, com custos muito elevados para a sociedade em termos de crescimento econômico, emprego, desigualdade e riqueza.”

As autoridades monetárias devem atuar constantemente para preservar a confiança na moeda. Devem adotar arranjos monetários que lhes permitam ancorar as expectativas de inflação. Segundo Carstens, nas últimas décadas, a maioria dos bancos centrais convergiu para regimes de metas de inflação e o Banco Central do Brasil não é exceção”.

Por meio de um regime de metas de inflação, o banco central se compromete a usar suas ferramentas para atingir as metas, podenrou.

“Se o público confiar no banco central para fazer o que for necessário para manter a inflação próxima da meta, então essa meta, em vez da inflação corrente, torna-se uma referência fundamental para as pessoas tomarem suas decisões de preços e salários, levando a uma inflação baixa e estável.”

Nessa situação, acrescentou Carstens, as variações da inflação costumam ser transitórias e refletem mudanças nos preços relativos. A inflação torna-se auto-equilibrante.

“As lições deste processo contêm advertências para o futuro. A confiança conquistada pode ser perdida se a sociedade duvidar do compromisso do banco central com o objetivo de manter a estabilidade de preços. Esta é uma das razões pelas quais o recente aumento da inflação em praticamente todos os países é motivo de preocupação.”

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