Juro alto sugere dólar mais estável

Escorregada abaixo de R$ 5 não deve ser convite a posições táticas na moeda, segundo especialistas

A escorregada do dólar para abaixo de R$ 5,00 não deve ser um convite para o brasileiro montar posições táticas na moeda americana, segundo estrategistas de investimentos. Ontem a moeda fechou a R$ 4,98.

Nos últimos seis meses, a divisa tem oscilado na faixa de R$ 5,00 a R$ 5,25 e a taxa de juros alta, com a Selic em 13,75% ao ano ainda por algum tempo, ajuda a manter certa estabilidade nesse intervalo de preços, segundo Ronaldo Patah, estrategista-chefe de investimentos do UBS Wealth Management. “Para o estrangeiro é difícil querer vender real para comprar dólar porque ficou caro por causa das taxas de juros locais”, afirma. “E mesmo os locais que aumentaram a alocação internacional nos últimos meses, preocupados com a política brasileira, não representam um volume de dinheiro que vá mudar o patamar do câmbio.

Pesa também a favor do real a internalização de dólares pelos exportadores, atraídos pela remuneração gorda da renda fixa. A área de fortunas do UBS calcula que o dólar estará em R$ 5,25 até dezembro, a depender do que for aprovado no Congresso para o ajuste das contas públicas – não só uma regra de despesas, mas quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguirá ampliar receitas, prossegue Patah. “A conclusão é que não tem muita emoção no câmbio.”

Por ora, Julio Ferreira, diretor de alocação de ativos do Julius Baer, diz não gostar de aplicações dolarizadas na carteira do investidor local. Ele avalia que a tendência da moeda americana em relação ao real é para baixo. Além da expectativa positiva para o ajuste fiscal, a balança comercial pode ser beneficiada pelo fluxo de exportações para a China, com a reabertura da economia asiática, após restrições para a circulação da população pela política de covid zero que vigorou até o ano passado. A melhora dos termos de troca e o diferencial de juros locais e externos também favorecem a moeda brasileira.

Globalmente, o dólar fez o seu pico em setembro do ano passado e desde então já caiu cerca de 10%, observa Nicholas McCarthy, executivo-chefe de investimentos do Itaú Unibanco. “Dada a atividade mais fraca por causa dos juros mais altos para controlar a inflação, a gente acha que as oportunidades de crescimento estão fora dos Estados Unidos porque nos últimos anos a economia performou muito bem, mérito deles, mas neste ano deve ficar em 1%, com o resto do mundo crescendo mais e a China com chances de ser acima de 5%.”

O executivo afirma que, se estiver correto, esse processo de enfraquecimento da moeda americana dura de dois a três anos, embora não seja um “movimento em linha reta”. Nesse ciclo de revisão do jogo de forças econômicas, o real tende a acompanhar uma cesta de moedas globais.

Na cena internacional, o executivo do Itaú diz não comprar a tese, que ganhou corpo desde a crise bancária que abateu bancos regionais americanos – e também o Credit Suisse, adquirido pelo UBS -, de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortará juros já no segundo semestre. Espera uma alta de 0,25 ponto nas taxas referenciais na semana que vem e então uma pausa. Mercados emergentes são o principal alvo, com indicação de alocação duas vezes acima da média estrutural.

McCarthy diz gostar de títulos de dívida lá fora, mesmo que os juros nos EUA não caiam na velocidade esperada e permaneçam na casa dos 5% por mais tempo. Na Europa, o time de estratégia voltou a indicar a compra de bolsa no fim do ano passado.

No UBS, na parcela da carteira de ativos estrangeiros, o time de estratégia rebaixou a recomendação de bolsa no mês passado, sugerindo evitar empresas de tecnologia nos EUA. Em contrapartida, aumentou a fatia da alocação em renda fixa global. “Na nossa visão, neste ano deve ter queda de lucro das 500 maiores companhias americanas, então não faz sentido negociar o setor de tecnologia com prêmio”, diz Patah.

O grupo suíço também tem indicação “acima da média” para bolsas de mercados emergentes, que podem ganhar impulso com a retomada da economia chinesa. Em dívida, o maior peso é em títulos de baixo risco (“investment grade”), que vêm pagando entre 4% e 5% para prazos de três a sete anos. Há uma parcela neutra em ativos “high yield”, com maior potencial de retorno e de risco. O UBS indica ainda a exposição em contratos do petróleo tipo Brent, com previsão que o barril bata a marca dos US$ 100. O ouro vem como proteção, caso a crise bancária nos Estados Unidos ou na Europa siga fazendo vítimas.

Por Adriana Cotias, do Valor Econômico

Leia a seguir

Pular para a barra de ferramentas