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O que fazer com seus investimentos com os juros a 10,75% ao ano
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) anunciou no início da noite desta quarta-feira (2) um aumento de 1,5 ponto percentual na taxa básica de jurtos da economia, a Selic, para 10,75% ao ano – maior nível desde abril de 2017.
Confira o que os especialistas recomendam fazer com seus investimentos agora:
Renda variável (Bolsa de Valores)
A Selic de volta aos dois dígitos após quatro anos e meio já estava precificada pelo mercado de ações, conforme especialistas consultados pela Inteligência Financeira. A avaliação é que o Banco Central antecipou o ciclo de aperto monetário e a bolsa brasileira sentiu antes a escalada dos juros, levando investidores estrangeiros a retirar capital do país. “Esse fluxo negativo fez com que empresas com excelentes fundamentos, e que não necessariamente são afetadas pelos juros mais altos, caíssem a um patamar muito atrativo de valuation, despertando a atenção de gestores de olho nas oportunidades neste começo de 2022”, diz Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos.
O desempenho positivo do Ibovespa no ano, que no fechamento desta quarta era de alta de 5,4%, favorecia principalmente as ações das chamadas blue chips. “O entendimento é que esse movimento continuará sendo favorável para as maiores empresas da Bolsa. Para as exportadoras e ligadas a commodities, a Vale permanece sendo uma boa opção em relação a seus pares. A valorização do minério de ferro também beneficia a companhia. O preço no patamar de US$ 130 a tonelada é excepcional para a empresa, com um retorno excelente para o investidor”, destaca Felipe Paletta, sócio e analista de ações e fundos de investimentos da fintech Monett.
Quem procura boas oportunidades para surfar a onda da Selic em um patamar elevado, os especialistas colocam os papéis do setor financeiro entre os destaques. “A Itaúsa, holding que controla o Itaú, também oferece um potencial grande com a valorização do banco, que tem investido em tecnologia, feito aquisições e tem ido na linha da modernização”, aponta Paletta. “Os juros altos ajudam ainda as seguradoras, como Sul América e BB Seguridade”, cita Serra.
Por outro lado, a perspectiva de que o aperto monetário seja longo é desfavorável para empresas que dependem do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Essas companhias podem ter mais dificuldade para conseguir empréstimos, veem as dívidas crescer e seus consumidores não conseguem crédito para pagar. “As principais prejudicadas são aquelas ligadas a ciclo econômico, como o setor aéreo, de aluguel de carros e as construtoras. Entre elas, podemos listar Gol, Localiza e MRV”, comenta o profissional da Ativa Investimentos. “A Oi, que depende de uma reformulação estrutural, pode ser prejudicada por essa elevação brusca da taxa de juros no último ano”, acrescenta o sócio da Monett.
As empresas que abriram capital em 2021 e prometiam um crescimento forte também tendem a atravessar um momento duro. A avaliação ainda é que o atual cenário pode inviabilizar muitos IPOs. Felipe Paletta destaca o caso do Nubank. “É uma empresa saudável do ponto de vista operacional, mas a avaliação é que o mercado ainda está pagando muito caro. Já caiu bastante desde o IPO, mas é um modelo de negócio que ainda precisa se provar. Taxa de juros para cima e uma necessidade de forte crescimento geralmente não combinam”, afirma.
Apesar de as perspectivas serem desafiadoras, o investidor pessoa física que busca a renda variável tem ganhado opções para diversificar a carteira e equilibrar os riscos de juros elevados no país. “Temos mais veículos, mais instrumentos principalmente para a internacionalização, como BDRs e ETFs. Isso dá uma pluralidade de opções ao investidor”, completa Paletta.
Renda fixa
Segundo João Cruz, assessor de investimentos da Golden Investimentos, o ciclo de alta de juros caminha para o fim, o que abre uma boa oportunidade de investimentos: os títulos prefixados. “Nos próximos anos, os títulos prefixados devem se valorizar bastante porque eles se valorizam quando juros caírem”, diz Cruz.
Com a Selic a 10,75% ao ano, grande parte da renda fixa fica mais atrativa. O problema, segundo Cruz, é que grande parte desta alta de juros já está no preço. “O que pode impactar o mercado é a ata do Copom, em caso de sinalização de novas altas da Selic”, diz ele.
De acordo com o analista, o patamar atual da taxa pode ser suficiente para controlar a inflação, a menos que os preços do petróleo continuem subindo em caso de escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia.
“A renda fixa continua sendo o grande produto, mas títulos ligados à inflação devem render menos porque inflação deve ficar mais controlada”, diz Cruz.
Ele recomenda os CDBs prefixados e os e pós-fixados ligados ao CDI, LCIs e LCAs, que são isentos de Imposto de Renda, e para os investidores mais arrojados fundos multimercados e de crédito privado. As alternativas recomendadas com mais liquidez são LFT e títulos do Tesouro.
Já Marília fontes, sócia da Nord Research, não recomenda os pré-fixados no momento. “Quando se pensa em onde investir agora, sempre temos que olhar pro futuro. Por um lado, eu vejo uma expectativa de a Selic continuar subindo e ir para 12,15%, 12,5% e até 13%, então os títulos pós-fixados vão render cada vez mais. Por outro lado, quando a gente olha a curva de mercado, ela precifica que, eventualmente, já ao longo desse ano e no ano que vem, a Selic vai poder cair rapidamente, o que eu não acho que seja possível. Embora o Banco Central tenha apertado bastante a Selic e a gente já está vendo consequências disso em uma atividade mais fraca, a inflação ainda está muito alta, o que torna difícil o Banco Central começar um ciclo de queda tão rápido quanto o mercado precifica.”
Segundo ela, outro fator de risco é o aumento de taxa de juro americana, que vai começar neste ano. “Assim, produtos pré-fixados e indexados à inflação nesse momento são um risco maior para o investidor porque você não sabe onde vai acabar esse ciclo de aumento de juros [no Brasil e nos EUA] e, principalmente, qual vai ser o impacto da eleição brasileira nessas taxas. Estamos em um momento ainda de muita incerteza, então agora é a hora dos pós-fixados”.
(Com reportagem de Lucas Andrade e Júlia Moura)
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