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Excepcionalismo americano
O principal tema em debate no entorno da reunião de primavera do FMI, em abril, foi o “excepcionalismo americano”, ou seja, a capacidade da economia dos EUA seguir crescendo a um ritmo substancialmente maior do que a maioria das economias do Ocidente.
Em 2023, os EUA apresentaram crescimento de 2,5%, ante uma média de 2,2% na América Latina (região com renda per capita média muito inferior) e de apenas 0,5% na Eurozone.
Para 2024, os economistas do Itaú projetam uma nova expansão de 2,5% nos EUA, 0,5% novamente na zona do Euro, e 2,0% na América Latina.
Vantagem americana deve continuar
Isso implica que a considerável vantagem dos EUA em termos de performance econômica deve continuar por pelo menos mais um ano.
A história ensina que tal excepcionalismo não dura para sempre, mas pode continuar por vários anos.
Naturalmente, performance macroeconômica superior tende a influenciar a política econômica e o comportamento dos preços de ativos.
Vamos focar aqui apenas nas economias desenvolvidas.
No caso dos EUA, a resiliência da atividade econômica, em especial os componentes privados da demanda doméstica, tem reduzido qualquer pressão para que o Fed adote uma postura mais acomodativa.
Por outro lado, a persistência de taxas de inflação acima da meta de 2%, com um mercado de trabalho que ainda está longe de apresentar esmorecimento, recomendam cautela.
Em resumo, para o Fed, no momento parece que o risco de um corte prematuro é maior do que o risco de postergação do movimento – isto porque corrigir um corte prematuro requereria uma virada abrupta da política monetária, similar ao stop-and-go dos 1970.
Panorama sobre a Europa
A situação na Europa é mais complexa.
A região sofre problemas estruturais, como os desafios que a transição energética e a evolução quantitativa e qualitativa da indústria automotiva chinesa apresentam para parte do parque industrial europeu.
Aspectos institucionais, como legislações trabalhistas mais rígidas, também parecem influenciar as taxas de crescimento, também afetadas pela persistente incerteza emanada do conflito na Ucrânia.
Somado a isso, enquanto os estímulos fiscais da pandemia nos EUA focaram nas transferências às famílias, um forte suporte ao balanço dos consumidores que impulsiona a demanda doméstica até hoje, na Europa a ajuda fiscal ficou mais restrita a programas de proteção ao emprego.
Com isso, as taxas de crescimento da região devem seguir fracas. A inflação, por sua vez, parece, pelo menos em termos de medidas subjacentes, convergir para a meta de 2,0% ainda em 2024.
Nesse contexto, a equipe do Itaú espera que a política monetária tenha comportamento divergente entre EUA e zona do Euro.
Para o Fed, a combinação de atividade robusta e inflação persistentemente acima da meta deve levar ao adiamento do início da flexibilização monetária até dezembro, podendo ficar apenas para 2025 – a equipe do Itaú projeta quatro cortes de 25bps, um no fim deste ano e três no ano que vem.
Já na Europa, a queda da inflação, com atividade tépida, deve permitir que o ECB comece um processo de flexibilização em junho, que deve se estender até o ano que vem, com sete ajustes no total, sendo três ainda em 2024.
Com esses ajustes, as taxas de política monetária devem terminar 2024 em 5,0%-5,25% nos EUA e 3,25% na zona do euro, e 4,25%-4,0% na economia americana e 2,25% na europeia, em 2025.
Essa divergência deve manter o euro sob pressão ao longo do ano, o que tende a enfraquecer também outras moedas europeias.
Com os juros americanos mais altos, as moedas seguirão respondendo aos diferenciais de juros relativos aos padrões pré-pandemia, o que pode gerar um potencial de apreciação adicional do dólar, frente às demais moedas, ao redor de 1% até o final do ano.
O excepcionalismo americano acaba sendo também o excepcionalismo do dólar.
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