O consultor de ERP Wilson Batista, de 32 anos, tem passado por uma situação que destoa de uma parcela significativa de brasileiros com dificuldades para conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. Enquanto 13,2% dos trabalhadores estão desempregados, segundo os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Wilson, que atua na área de tecnologia com um sistema de apoio à gestão de empresas, vem recebendo diversas propostas de emprego nos últimos meses sem sequer procurar. Os recrutadores o abordam por meio do LinkedIn.
Wilson conta que recusou de imediato várias propostas que surgiram em sua caixa de mensagens na rede social, mas que avançou em outros processos seletivos e ficou perto de ser contratado em quatro ocasiões. “Só não fui porque em todas as vezes meu chefe cobriu a oferta e apresentou um plano para eu seguir carreira dentro da empresa”, diz. “Quando isso ocorre é sinal de que o trabalho está sendo reconhecido”, acrescenta.
A avaliação do consultor, com base no retorno que teve dos profissionais de recursos humanos das seleções que participou, é que seu caso reflete o dinamismo do mercado de TI. Neste segmento, as empresas estão dispostas a pagar salários melhores por trabalhadores qualificados. “Não é mais só questão de saber programar. Tem espaço para quem entende de negócios, de desenvolvimento de produto e quem sabe fazer gestão, para fazer a ponte entre o cliente e quem propriamente vai desenvolver o serviço”, diz. “Eu vejo e compartilho com quem conheço que é uma oportunidade para mudar de área”.
Procurados: analistas e cientistas de dados
Rodrigo Vianna, presidente da Mappit, empresa do Talenses Group especializada em recrutamento para início de carreira, também vê um aquecimento do mercado de tecnologia e destaca a procura por analistas e cientistas de dados. “Essa é uma área que envolve inúmeras atividades que hoje estão presentes em todas as empresas. As companhias entenderam o valor dos dados e quanto isso pode beneficiar a estratégia do negócio com um todo”, diz.
Vianna aponta uma mudança nas habilidades requeridas para os profissionais. “São as questões comportamentais. Antes eles eram pessoas mais introspectivas. Hoje, por terem mudado de áreas mais de backoffice e estarem muito mais perto do business, a tendência é que a empresa exija que esses profissionais sejam mais abertos e comunicativos”, analisa.
A empresa de recrutamento Robert Half divulgou uma lista em que as funções ligadas à tecnologia continuam entre as tendências do mercado de trabalho para 2022. Nas perspectivas de remuneração para o ano que vem, o levantamento tem como destaque os salários de cientistas de dados (R$ 21.950) e de gerente de segurança da informação (R$ 33.550). Conforme o estudo, a decisão do chefe do consultor de ERP Wilson Batista, de cobrir o salário do concorrente para não perder o funcionário, está entre os desafios para as companhias.
“A maior parte dos recrutadores acredita que encontrar colaboradores qualificados será cada vez mais difícil. Essa situação requer que as empresas estejam atentas às suas ofertas e revejam seus pacotes de remuneração e benefícios para que seja possível atrair os melhores talentos do mercado”, diz Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul. “Além disso, com o aquecimento do mercado, é importante olhar para dentro de casa. Quase metade dos executivos têm receio de perder algum profissional-chave no próximo ano e entre os principais motivos estão: abordagem mais agressiva da concorrência, aumento da pressão por resultados e insatisfação com o salário”, completa.