Mercado de trabalho resiliente desafia missão do Copom de levar inflação de volta a meta
Apesar da desaceleração econômica, o mercado de trabalho mostra resiliência, com criação recorde de vagas e baixa taxa de desemprego, dificultando o controle da inflação pelo Banco Central

O mercado de trabalho brasileiro registrou abertura líquida de 431.995 vagas com carteira assinada em fevereiro, o maior resultado da história.
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Os indicadores divulgados mostram um mercado de trabalho ainda com elasticidade para absorver mão de obra e elevar a renda. Ainda que existam sinais de desaquecimento da economia neste primeiro trimestre.
Com quase 432 mil vagas formais criadas em fevereiro, o Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego, registrou o maior número de contratações formais em quase 60 anos de existência do indicador.
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Analistas sugerem que os números devem piorar ao longo deste ano, em especial no segundo semestre, mas de forma gradual e com um resultado final ainda satisfatório.
O fato de o Carnaval este ano ter caído em março explica em parte o crescimento da ocupação, com mais dias úteis no mês e abertura de vagas temporárias. Porém, há um dado mais estrutural que ajudou a fazer a diferença.
Todos os setores aumentaram a abertura de vagas em relação ao mesmo período do ano passado.
No caso da agricultura, o número mais que dobrou, chegando a 117%. Indústria (15,5% a mais) e o setor que mais emprega, serviços (9,6% mais), também deram forte contribuição para o recorde.
A ponto de alguns analistas puxarem para cima as projeções de saldo de contratações do Caged para este ano, caso da LCA 4Intelligence, que aumentou a previsão de 1,1 milhão para 1,4 milhão de vagas líquidas abertas até dezembro.
Mercado de trabalho resiliente
A resiliência do emprego formal também fica patente na Pnad Contínua, do IBGE. Embora a taxa de desemprego tenha subido no trimestre encerrado em fevereiro de 6,5% para 6,8%, o resultado é considerado quase uma situação de pleno emprego, para os padrões brasileiros.
Foi a taxa de desemprego mais baixa para essa época do ano, empatado com o trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2014.
No trimestre móvel terminado em fevereiro do ano passado a taxa estava um ponto percentual acima, 7,8%, denotando o aquecimento do mercado de trabalho do início de 2024 para cá, como tem ocorrido desde a saída da pandemia.
Além disso, a maior parte das dispensas ocorreu no segmento informal, responsável por 94,5% do aumento da taxa de desemprego, segundo o IBGE. A redução dos empregados sem registro formal foi de 6% na área privada.
A taxa de informalidade no emprego recuou de 38,7% no trimestre móvel anterior para 38,1% no encerrado em fevereiro. No trimestre móvel terminado em fevereiro de 2024 a informalidade também estava na casa de 38,7%.
No setor formal, ao contrário, a ocupação cresceu 1,1% e levou ao número recorde de 39,6 milhões de pessoas ocupadas. No mesmo trimestre móvel de 2024 havia 1,8 milhão de empregos formais (ou 3,5%) a menos.
Nesse sentido, a diminuição dos empregados informais e o aumento dos formais contribuíram para aumentar a renda medida pela Pnad Contínua no trimestre encerrado em fevereiro, já que as ocupações formais costumam remunerar melhor, como explicou a gerente das pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
Renda
A massa de rendimentos cresceu apenas 0,1% — estatisticamente considerado estabilidade —, segundo o IBGE, mas atingiu novo recorde de R$ 342 bilhões no trimestre móvel até fevereiro.
Ante o mesmo trimestre móvel de 2024 o crescimento foi de 6,2%. Já a renda média aumentou 1,3% entre os trimestres móveis e chegou a R$ 3.378, o maior valor desde 2012 — considerando a correção pela inflação.
Se os resultados do emprego e da renda são bons, acrescentam um pouco mais de peso às dificuldades da política monetária.
Mesmo com desaceleração, a vertente do consumo — sustentada pelo bom nível de emprego e pelo fortalecimento da renda — deve manter a economia brasileira em níveis de relativo aquecimento, levando-se em conta a situação do país e do mundo.
Um problema a mais para o Banco Central levar a cabo sua faina de puxar a inflação (hoje em 5,06% em 12 meses pelo IPCA de fevereiro) para perto da meta de 3% este ano, com tolerância até 4,5%.
Isso em meio a dificuldades do governo de cortar gastos e ajustar a situação fiscal e sinais de piora do cenário internacional com possíveis influências sobre as condições internas no Brasil.
Com informações do Valor Econômico.