Novo foco do Banco Central, expectativas para 2023 voltam a subir

Até a reunião de outubro, o BC vinha calibrando o ritmo de alta de juros para trazer a inflação para o centro da meta ainda em 2022

Depois que o Banco Central (BC) deu indicações de que voltará a alongar o horizonte da política monetária, as expectativas de inflação para 2023 apresentaram nova deterioração.

A mediana das previsões dos analistas do mercado para o período, coletadas pelo Banco Central no boletim Focus, subiu de 3,42% para 3,5%. Esses percentuais se encontram acima da meta estabelecida para o ano, de 3,25%.

O mapa da distribuição das projeções de inflação do mercado, também divulgado pelo Banco Central, mostra uma grande dispersão das previsões, outro indicativo do desafio da autoridade monetária em coordenar as expectativas em um ambiente de inflação corrente alta e de forte incerteza sobre a política fiscal.

Cerca de 45% dos analistas preveem inflação na vizinhança mais próxima da meta, acima de 3,08% até 3,48%. Mas algo como 40% dos analistas mencionam percentuais mais distantes da meta, no intervalo entre 3,49% e 3,88%. Há ainda cerca de 15% dos analistas que projetam uma inflação entre 3,88% e 4,28%.

Nas últimas semanas, a autoridade monetária deu indicações de que deixará de focar a ferro e fogo na meta de inflação de 2022. Muitos analistas econômicos diziam que, quando isso acontecesse, o processo de desancoragem das expectativas poderia contaminar os anos seguintes.

Em reunião que termina amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deverá subir os juros básicos em 1,5 ponto percentual, dos atuais 7,75% ao ano para 9,25% ao ano, segundo projetam os analistas.

Até a reunião de outubro, o BC vinha calibrando o ritmo de alta de juros para trazer a inflação para o centro da meta ainda em 2022. O consenso do mercado é que o índice de preços fique em 5,02% no próximo ano, percentual que, caso seja confirmado, significará o estouro do teto da meta do ano. O centro da meta de 2022 está definido em 3,5%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo e para cima.

Dirigentes do Banco Central, como seu presidente, Roberto Campos Neto, e o diretor de política econômica, Fabio Kanczuk, disseram em pronunciamentos recentes que o colegiado vai reexaminar esse foco concentrado exclusivamente na busca da meta de inflação de 2022.

Se, de fato, reorientar o seu foco na reunião desta semana, o Copom deverá ter as suas atenções igualmente voltadas para as metas de inflação de 2022 e de 2023. No encontro seguinte, em fevereiro, a maior parte dos esforços já estará dirigida ao objetivo de 2023.

A desancoragem das expectativas também atinge o ano de 2024, que ainda não está no radar do BC. Apenas cerca de 45% dos analistas veem a inflação ao redor da meta, de 3%. Por volta de 20% dos analistas estimam percentuais maiores que 3% até 3,3%. E cerca de 25% calculam a inflação no intervalo entre 3,3% e 3,6%.

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