NY: Bolsas fecham sem direção em dia de dólar forte no exterior e receio por recessão
Índice Nasdaq, de empresas de tecnologia e não-financeiras, teve avanço mais forte diante da fraqueza dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano
Os três principais índices acionários de Wall Street encerraram a sessão desta terça-feira sem uma mesma direção, em dia em que o dólar operou com fortes ganhos no exterior. O movimento se deu diante de uma crescente preocupação em relação às chances de uma recessão da economia dos Estados Unidos. Hoje, a curva de juros voltou a se inverter, o que costuma ser um indicativo de retração econômica, e bancos revisaram suas estimativas sobre o crescimento da atividade americana. A inversão se deu em um dia de fraqueza dos rendimentos dos títulos do Tesouro, aliviando ações ligadas ao setor de tecnologia. O que também alimentou algum otimismo foi a perspectiva de que se a recessão vier, virá branda.
No fim das negociações, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,42%, a 30.967,12 pontos, enquanto o S&P 500 subiu 0,16%, a 3.831,54 pontos, e o Nasdaq avançou 1,75%, a 11.322,24 pontos. O avanço mais forte da bolsa eletrônica se deu diante da fraqueza dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano. Nos últimos tempos, empresas ligadas ao setor de tecnologia vinham sendo penalizadas com os ganhos dos yields, já que o cenário era de um aperto forte da política monetária. Com o cenário de uma recessão se desenhando, o investidor começa a questionar até onde irá a atuação “hawkish” (mais favorável ao aperto monetário) do Federal Reserve (Fed).
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Diante disso, perto das 17h30, o rendimento do título do Tesouro americano de dez anos operava em queda, a 2,825%, de 2,894% do último fechamento, enquanto o yield do papel de dois anos operava também com perdas, a 2,833%, de 2,837%. Com os rendimentos dos Treasuries de dois anos operando acima do nível dos juros de dez anos, o investidor ganha mais um sinal de proximidade de recessão. A chamada inversão na curva de juros ou curva negativa de juros (porque fica negativamente inclinada) costuma ser um prenúncio de retração na atividade econômica.
Em nota divulgada nesta terça-feira (5), o Barclays apontou que, apesar de elevadas probabilidades de recessão, os mercados estão precificando uma recessão muito leve e que, na verdade, a inversão dos rendimentos de 10 anos e três meses é um sinal mais robusto para uma recessão iminente. “Estimamos que a probabilidade de uma recessão no próximo ano, conforme implícita na curva de três meses e dez anos, deve subir para cerca de 40-45% em alguns meses”, escreveram Anshul Pradhan e Samuel Earl, analistas de pesquisa de juros e macro.
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Outros bancos também revisaram suas projeções para o crescimento da atividade econômica no dia. Em relatório divulgado hoje, o Goldman Sachs diz ver 30% de risco para que a economia americana entre em recessão no próximo ano. “Descobrimos que o superaquecimento econômico — alto crescimento do custo unitário do trabalho e alto núcleo da inflação — e grandes aumentos cumulativos na taxa básica de juros geralmente precedem recessões severas. Em contraste, superávits financeiros elevados do setor privado muitas vezes prenunciam recessões menos severas”, apontam os profissionais do Goldman em relatório enviado a clientes.
Na mesma linha, o Deutsche Bank afirmou que, refletindo os sinais dos dados econômicos e “os últimos rebaixamentos nos gastos do consumidor e das empresas, agora vemos o Produto Interno Bruto anualizado do segundo trimestre contraindo -0,6%”. O cenário-base do banco alemão projeta que o mercado de trabalho continuará forte neste ano, mantendo algum ímpeto no crescimento econômico. Se esse segmento, no entanto, for também atingido, então é capaz de uma retração mais drástica se consumar, avaliou o banco.
Diante da fraqueza dos rendimentos dos papéis do Tesouro, os setores que vinham sendo mais penalizados pelos juros mais altos se beneficiaram hoje. Entre os índices setoriais do S&P 500, apenas três setores fecharam com ganhos: serviços da comunicação (+2,66%), consumo discricionário (+2,28%) e Tecnologia (+1,24%), justamente os três segmentos que mais perderam no acumulado do ano. As ações da Apple subiram 1,89%, enquanto as da Amazon avançaram 3,60% e as da Meta Platform cresceram 5,10%.
Empresas ligadas ao setor de turismo e transporte também se beneficiaram, em dia em que os preços do petróleo desabaram mais de 8% diante de um dólar mais forte no exterior. As ações da American Airlines cresceram 5,71%. Já as ações da Exxon Mobil recuaram 3,13%.
O dólar voltou a se fortalecer no exterior, em meio à preocupação com a recessão. O índice DXY alcançou seu maior patamar em quase 20 anos, e operava com ganhos de 1,27%, a 106,504 pontos perto das 17h30. O euro sofreu bastante na sessão ante a preocupação com a escassez do gás natural no antigo continente.