O elo entre ESG e Investimentos
O que devemos olhar ao fazermos uma análise ESG? Confira no artigo de estreia de Renato Eid, colunista da IF
Em um mundo dinâmico onde conceitos e manuais são revistos para serem renovados, estabelecer normas, padrões e regras para um tema ainda em construção representa um grande desafio. Quando pensamos em investimentos lembramos de diversificação, retornos, transparência, dentre outros pilares. Ao longo dos últimos anos um novo termo ganhou maturidade no Brasil nessa conversa: ESG, do inglês Environmental, Social, and Governance, ou seja, incluir questões Ambientais, Sociais e de Governança no processo de investimento tradicional.
Essa maturidade chegou em um momento relevante no qual a conversa sobre investimentos de uma forma estruturada também ganhou relevância. Mas mais do que isso, o contexto da pandemia trouxe, junto com todos os seus desafios, uma reflexão sobre propósito que abordou diversos aspectos. Nesse sentido, o pensar em investimentos integrando questões ESG de forma a alinharmos isso ao nosso propósito e valores passou a ser relevante.
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Porém, ao contrário da análise financeira tradicional onde já temos certo consenso na discussão sobre padrões de divulgação, quando tratamos da integração ESG em um processo de investimento não existe um manual ou padrão internacionalmente aceito. Dessa forma, surge o primeiro desafio: o que devemos olhar ao fazermos uma análise ESG?
Se determinada empresa consegue um avanço em seu processo produtivo de forma a impactar positivamente o preço do seu produto, e isso já estiver sendo considerado pela análise financeira tradicional, não devemos incorporar esse efeito no modelo ESG.
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Seria contraditório com a argumentação anterior querer dar uma resposta certeira. Dessa forma, sugiro que o primeiro passo seja focar nos elementos atrelados ao ESG que não estão incorporados na análise financeira tradicional. Por exemplo, se determinada empresa consegue um avanço em seu processo produtivo de forma a impactar positivamente o preço do seu produto, e isso já estiver sendo considerado pela análise financeira tradicional, não devemos incorporar esse efeito no modelo ESG.
Em um campo ainda vasto, outro aspecto relevante é o pragmatismo e foco em questões que sejam materiais para cada um dos setores. Sabemos que existem questões transversais na economia que impactam todos os setores, como por exemplo a precificação do carbono, mas existem especificidades setoriais que devem ser consideradas. O mapeamento e materialidade desses itens são de suma importância pois direcionam a análise ESG para o diferencial em termos da longevidade e sustentabilidade do negócio analisado.
Iniciativas como SASB (Sustainability Accounting Standards Board) buscam contribuir com a análise de materialidade setorial de temas ESG. O mapa de materialidade é muitas vezes uma etapa inicial relevante para investidores e empresas compreenderem melhor onde focar seus esforços de análise e reporte.
Buscando aquilo que ainda não está sendo considerado no processo de investimento tradicional e focando nas questões pragmáticas, o próximo passo é a busca pelos dados. Temos então o próximo desafio, pois como não existe um padrão único para a divulgação de dados relacionados a ESG e como as empresas estão em diferentes estágios em relação ao tema, são raros os indicadores apresentados que sejam equivalentes, e assim, comparáveis. Nesse sentido, o engajamento com as empresas se torna uma ferramenta relevante nesse campo pois consegue estabelecer um diálogo relevante que contribui positivamente para os agentes desse ecossistema identificarem avanços e oportunidades de melhoria.
Assim, ao integrarmos elementos materiais não contabilizadas pela análise financeira tradicional em nosso processo de investimento estamos tendo uma visão mais ampla dos riscos e oportunidades, contribuindo com decisões de investimento mais informadas e com um retorno mais ajustado ao risco. Algo que do ponto de vista do gestor está alinhado ao cumprimento do dever fiduciário perante o seus cotistas.
Por fim, vale termos a noção que em uma jornada, mais do que o ponto de chegada, a relevância está no aprendizado e na evolução do saber. Dessa forma, a humildade de sabermos que ainda temos muito a fazer nesse campo é importante para seguirmos avançando junto com as empresas e investidores nessa agenda.