O que a Stone está fazendo para recuperar a rentabilidade
Companhia repassa alta de custos e faz mudança em operação de crédito, que será relançada

A Stone enviou ao mercado uma série de sinais do que está fazendo para recolocar a operação nos trilhos, depois de enfrentar uma crise de credibilidade que derrubou suas ações nos últimos meses. Ontem, após a divulgação do balanço do quarto trimestre, os papéis subiam 23,31%, cotados a US$ 11,85.
As iniciativas vão da reprecificação de produtos a mudanças na equipe, com o objetivo de melhorar a rentabilidade sem abandonar a tese de companhia de alto crescimento. “A gente não queria ferir o crescimento”, afirmou ao Valor o CEO da Stone, Thiago Piau.
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A companhia de pagamentos obteve lucro líquido ajustado de R$ 33,7 milhões no quatro trimestre de 2021, uma queda de 90,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Pesou no resultado a decisão de não repassar para os clientes automaticamente, num primeiro momento, o aumento dos custos relativo à alta da Selic. A reprecificação, no entanto, começou a ser feita a partir de novembro, e segundo Piau, a rentabilidade já começou a se recuperar no primeiro trimestre deste ano.
Nos últimos três meses de 2021, a receita total da credenciadora ficou em R$ 1,87 bilhão, alta de 87% em relação ao mesmo período de 2020. O volume de pagamentos processados (TPV) somou R$ 89 bilhões, um aumento anual de 38,2%. A companhia encerrou 2021 com 1,77 milhão de clientes ativos, crescimento de 128%.
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Piau destacou os bons resultados em linhas como receita e TPV e detalhou as iniciativas adotadas pela empresa para mostrar a investidores sua capacidade de gerar resultados. “As margens continuam temporariamente sob pressão no quarto trimestre pela nossa decisão de ter uma abordagem comercial um pouco mais agressiva e proteger a base de clientes. Fizemos a reprecificação em novembro e a volta das margens é comprovada pelo ‘guidance’ [projeções] que estamos dando.”
A Stone espera que, no primeiro trimestre, a receita total atinja de R$ 1,85 bilhão a R$ 1,9 bilhão, alta de 113% a 119% em relação ao mesmo período do ano passado. O TPV de micro, pequenos e médios negócios deve ficar entre R$ 58,5 bilhões e R$ 60 bilhões, com elevação de 79% a 83%. Já o lucro ajustado antes de impostos deve superar a marca de R$ 140 milhões, ante os R$ 17,2 milhões registrados no quarto trimestre.
De acordo com Piau, as projeções mostram a confiança da companhia nas medidas tomadas. Evidência disso, afirmou, é que a “take rate” (taxa cobrada em cada transação) em micro, pequenas e médias empresas aumentou de 1,71% no quarto trimestre para 2,02%, em janeiro.
Para o executivo, as margens devem continuar subindo nos próximos trimestres, mas vão demorar para atingir o nível ideal, tanto por causa da alta dos juros quanto do ritmo de investimentos. “Vamos ter uma recuperação ao longo deste ano, mas as margens de estabilização ainda vão levar alguns anos para chegar porque vamos continuar investindo agressivamente no nosso crescimento.”
A Stone destacou ainda o avanço nas operações de serviços bancários, que no último trimestre de 2021 contavam com 491,5 mil clientes ativos e mais de R$ 2 bilhões em depósitos. De acordo com o CEO, esse é um fator que ajuda a suavizar o efeito da alta dos juros sobre o negócio.
Ponto central da desconfiança que se abateu sobre a empresa, a operação de crédito será testada, com novo formato, entre o segundo e o terceiro trimestres. “Estamos fazendo um grande redesenho, trazendo mais simplificação da experiência do cliente, adicionando garantias pessoais, tendo uma nova forma de originação, trazendo a nossa operação de polos para estar 100% integrada com a operação de crédito”, disse.
A empresa interrompeu a oferta de crédito no ano passado depois de admitir que enfrentava problemas no produto. O formato que está agora sendo desenhado inclui, além da garantia de recebíveis de cartões, medidas como o estabelecimento de uma parcela mensal e uma retenção automática dos fluxos do cliente com um teto; o uso de bens pessoais de lojistas como garantia e a reconstrução do sistema de gestão de risco.
O executivo destacou ainda uma reorganização da Stone em duas unidades de negócios. A partir do primeiro trimestre, os dados serão reportados considerando uma unidade voltada a serviços financeiros, que inclui pagamentos e operações de banking e crédito, e outra a negócios de software, resultado da união da Linx com as outras empresas investidas e adquiridas ao longo do tempo.
Nesse redesenho, houve mudanças na diretoria. A Stone anunciou Caio Fiuza como diretor de operações (COO) da unidade de serviços financeiros e Gilsinei Hansen como COO da unidade de software. João Bernartt é o novo responsável por produto, tecnologia e dados, Sandro Bassili, ex-ABInbev, fica a cargo da área de gente e gestão, e Diego Salgado, egresso do J.P. Morgan, da tesouraria.
Em relação à Linx, Piau disse que já foi dado o “primeiro passo de sinergia”, com a integração do portfólio e desligamento das soluções de pagamentos da empresa com substituição pelas da Stone.
O executivo reiterou que nem a companhia nem a Linx estão à venda. No entanto, admitiu que pode atrair um parceiro para a registradora TAG. “Alguns players nos procuraram para ter conversas sobre a TAG. Se alguém fizer alguma sugestão de alguma parceria estratégica, que seja melhor para o negócio, a gente pode avaliar. Mas estamos com foco em construir essa tecnologia com o máximo de eficiência e ajudar no desenvolvimento dessa infraestrutura.”
O executivo disse ainda que as novas regras prudenciais do Banco Central (BC) para instituições de pagamento devem ter impacto muito pequeno sobre a companhia. “É mais um trabalho de colocar o compliance e o controle de capital de acordo com o que o BC nos pede, mas a gente não vê necessidade de capital adicional.”