Zona do Euro, FMI, OMC, OCDE: quem é quem na economia mundial

Os organismos da economia mundial regulam o comércio entre os países e dão as diretrizes sobre como o mercado global deve se comportar

Foto: ADOBE STOCK
Foto: ADOBE STOCK

Você sabe o que é o FMI, a Zona do Euro, a OMC e a OCDE? Vem que a gente te explica.

Afinal de contas, as organizações internacionais têm um papel importante na vida política do mundo inteiro. As dedicadas à geopolítica, diplomacia e direitos humanos, como a ONU e a Cruz Vermelha, você já deve conhecer. Mas, você sabia que existem instituições globais dedicadas à regulação e manutenção da economia mundial?

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Muitas delas surgiram durante o século passado, quando o processo de globalização se intensificou. Em outras palavras, a conexão entre os países aumentou e suas economias se tornaram mais dependentes umas das outras.

Por isso, alguns países se reuniram em blocos econômicos, baseados em proximidade e interesses comerciais. Ou seja: as vizinhanças continentais começaram a se organizar para comprar e vender entre si, e surgiram grupos como a União Europeia, o Mercosul, na América do Sul e o USMCA, na América do Norte.

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Todo esse entra e sai de dinheiro entre países fez com que fosse necessário criar algumas entidades dedicadas a regular o mercado internacional e expandir as suas boas práticas pelo globo. Entre elas, se destacam o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Mas, e aí? O que cada uma dessas organizações faz, exatamente? Bora entender!

Regulação e expansão

A economia do mundo e as conexões comerciais entre seus integrantes ficaram tão interdependentes, entre o século XX e XXI, que pensar em uma possível “quebra de um elo” na corrente do sistema financeiro significaria um colapso total. “Sem todo mundo participar desse comércio, não tem jogo”, explica Otto Nogami, economista e professor do Insper. 

“Uma fábrica em um país X recebeu insumos de um país Y para poder criar os produtos que vão ser vendidos no país Z. Mas, para isso, a fabricante precisou comprar o maquinário que vem do país W. Por isso é tão importante que todos os integrantes estejam operantes: se uma única carta do castelo estremece, todas as outras desmoronam”, exemplifica o especialista.

Por isso, algumas entidades foram criadas para assegurar que a cadeia global de fluxo de mercadorias e matérias-primas fosse mantida. E, sempre que possível, expandidas e aprimoradas. Assim, surgiram entes como o FMI, que busca garantir a participação e a permanência de todos os países no circuito financeiro e comercial, e o Banco Mundial, focado em fomentar as economias e permitir que elas cresçam – de maneira local e doméstica. 

Outras, como a OMC e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), são fóruns de discussão de políticas públicas e econômicas que orientam os participantes.

Veja, a seguir, o que faz cada uma delas:

O que é FMI?

A interdependência, cada vez mais crescente, entre os países, fez com que eles passassem a realizar o comércio mais intensivo. Estes movimentos são baseados nas reservas cambiais do país, que são o “estoque” de moeda estrangeira, geralmente dólar ou euro, detidos pelos Estados. 

Por isso, o FMI estabelece que as nações tenham determinadas quantias de dinheiro guardadas para assegurar suas importações de compra e venda. Criado em 1944, seu objetivo é manter o país inserido na cadeia global de comércio.

E, quando isso não acontece e o Estado se vê sem reservas para pagar suas dívidas, o FMI intervém. Através dos seus empréstimos, o fundo tenta assegurar que todos os territórios do mundo tenham um “colchão” de segurança para continuar comprando e vendendo matérias-primas e produtos pelo mundo. 

Além de emprestar dinheiro com juros relativamente baixos e prazos de pagamentos longos, o FMI também exige que os países, em contrapartida, adotem algumas medidas para “sanear” sua economia. Algumas delas são a abertura comercial e a adoção de princípios de responsabilidade fiscal.

Por que existe um Banco Mundial?

Esta instituição financeira efetua empréstimos para auxiliar países em desenvolvimento e, assim como o FMI, foi criada após a Segunda Guerra Mundial na tentativa de reestruturar a economia global após o conflito. Hoje, cerca de 189 países são membros da organização – e todos contribuem, como podem, para a composição de suas reservas.

A organização também é conhecida como Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), já que seu foco de atuação são projetos de interesse econômico e social, em setores como saúde, educação e alimentação. O objetivo é promover o desenvolvimento de todas as regiões, o que vai permitir que gerem mais renda e, portanto, se integrem ainda mais ao restante do mundo. 

Hoje em dia, o Bird e o FMI têm atuado como orientadores de política social e conselheiros em assuntos macroeconômicos. Mas nem sempre foi assim. Em momentos de crise, como desastres naturais, calamidades sociais ou colapsos financeiros, o Banco Mundial é conhecido por ofertar crédito aos Estados necessitados sob condições muito mais atraentes que os bancos comerciais. 

Alguns exemplos são o empréstimo de US$ 100 milhões para o Haiti custear a reconstrução do país após o terremoto de 2010 e o recente envio de recursos para o Estado do Rio de Janeiro, após as fortes chuvas que devastaram partes do interior.

O que é a OMC?

Fundada em 1995, a Organização Mundial do Comércio tem por objetivo regulamentar as transações entre os os seus 164 países-membros. É um fórum multilateral que monitora e revisa as políticas adotadas pelos membros de modo que todas elas tenham um fim: a estabilidade econômica e a expansão da economia liberal de mercado.

A razão de ser é a mesma dos dois organismos anteriores: com o aprofundamento das relações de comércio em escala internacional, as diferenças de poder de barganha entre os países ricos e pobres ficou mais evidente.

Por isso, criou-se o órgão, cujo objetivo é dar solução de impasses geopolíticos de comércio e a garantia de ambientes de negociação justos entre as nações.

A OMC pode, a depender do caso, reduzir ou eliminar tarifas de importação – ou quaisquer outras práticas protecionistas – que possam representar um obstáculo ao comércio internacional. Ela também estabelece as regras do jogo dos países que aderem a ela e, em troca, exige a transparência dos acordos firmados.

Como a OCDE atua?

Também conhecida como o “Clube dos países ricos”, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma estrutura formada por 36 países com elevados indicadores socioeconômicos e que detém cerca de 80% do comércio mundial e investimentos.

Seu objetivo principal é disseminar os valores das democracias liberais pelo mundo e promover a prática do livre mercado. Atualmente, o Brasil é tido como “parceiro estratégico” da organização, ainda que não seja um membro oficial. 

“O grupo é composto por países muito comprometidos com a democracia e a economia de mercado. Então, o trabalho do Brasil é se ajustar para ter o perfil e mostrar que pode se sentar com essas nações. É aquela velha história: é melhor estar junto dos grandes do que com os países não muito representativos. Politicamente, é uma adesão que pode atrair muitos olhares comerciais para o Brasil”, afirma Nogami.

Blocos Econômicos

Os blocos econômicos são acordos regionais entre dois ou mais países próximos. A depender do estágio de desenvolvimento do tratado, eles podem permitir isenção de impostos para importações e exportações, zonas de livre circulação de pessoas, mão de obra e mercadorias, incentivos aos comércio intra regional e, nos níveis mais avançados, uma moeda única para os integrantes. 

Para além da integração econômica, os blocos implicam em comunidades políticas coesas. Por isso, a cooperação dos chefes de Estado e seus objetivos comuns são decisivos no sucesso ou fracasso de um clube de nações.

“Com a pandemia, os países começaram a perceber a importância estratégica da produção local, mesmo que com custos mais altos. Até então, se caminhava para uma situação de alta especialização das áreas do mundo. Depois do vírus se viu que não é bem assim: se possível, é bom ter acesso a bens industriais, commodities, energia e tecnologia dentro do próprio país – ou do bloco”, explica o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Robson Gonçalves. 

“Estamos vivendo um momento de volta do pêndulo, em que os países estão buscando mais autonomia e liberdade do livre comércio internacional”, avalia Gonçalves. Outro ponto que altera a correlação de poder entre as regiões do mundo, segundo ele, é o avanço da tecnologia, capaz de substituir mão de obra humana e encurtar distâncias.

União Europeia

Após o final da Segunda Guerra Mundial, várias organizações foram formadas e se sucederam até dar espaço para o que, hoje, é conhecido como União Européia. Atualmente, o conjunto é uma união supranacional e intergovernamental de 27 Estados.

E é considerado, ao mesmo tempo, uma união Econômica e Aduaneira. A primeira se refere às políticas fiscais, cambiais e monetárias que os países tomarão, que serão conjuntas. Enquanto a segunda diz respeito à cobrança similar de impostos de importação e exportação com países de fora. 

Medidas cumulativas, como a instalação do Parlamento Europeu, seguida pela integração econômica, a instalação do mercado único, das viagens sem fronteiras e do euro, ajudaram a consolidar o bloco econômico que, hoje, é tido como o mais estável e resiliente do mundo.

Para Gonçalves, a União Europeia é um dos bons exemplos de cooperação entre Estados. Graças à ação conjunta do bloco, o continente vive, hoje, um processo de transformação energética sem precedentes após o início da guerra da Ucrânia, que limitou o abastecimento de gás natural. 

Gonçalves também menciona a velocidade em que a população europeia se vacinou em relação aos britânicos, que deixaram o bloco anos atrás e, na pandemia, não puderam contar com a cooperação continental. “Tudo isso mostra como o bloco se fortaleceu durante todas estas crises e demonstrou que nem só de livre mercado vive o capitalismo”, afirma.

Mercosul

Em 1991, Brasil, Argentina e Uruguai se uniram para a criação do Mercosul. Anos depois, o Paraguai passou a fazer parte, assim como a Venezuela, que atualmente está suspensa em razão do regime político do país.

Projetado para ser um semelhante do Nafta ou da União Europeia, o bloco acabou perdendo seu propósito inicial. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, os países integrantes do grupo passaram a adotar uma série de exceções às regras gerais. O que descaracteriza a proposta inicial, de área de livre comércio, por definição.  

Ainda assim, o grupo conta com países associados, como Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, e observadores, como México e Nova Zelândia.

USMCA

Trata-se do bloco sucessor do NAFTA – integrado por Estados Unidos, Canadá e México. Criado em 1988, o primeiro bloco se desfez em 2018, quando os EUA deixaram a união para mais tarde retornar. O regresso, entretanto, implicou em um novo nome e novas regras.

Diferentemente da União Europeia, há uma restrição de circulação de força de trabalho. Ainda que as mercadorias e o fluxo de capital percorram o território livremente, um nativo destes países não pode trabalhar nos outros dois. Assim como um europeu poderia em toda a área do tratado, por exemplo. 

Entre seus objetivos, também constam a criação de empregos, apoiar salários mais altos e a proteção ambiental.

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