Fed deve reduzir ritmo de alta dos juros, mas seguirá com tom agressivo, dizem economistas

As expectativas majoritárias dos mercados é por juro terminal de 5%, após mais duas altas de 0,25 ponto (em fevereiro e março)

Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

É dada como certa a alta de 0,25 ponto percentual (p.p.) dos juros nos EUA nesta quarta-feira (1), quando termina a reunião monetária do Federal Reserve (Fed). Com isso, investidores e analistas especulam se o BC americano seguirá com sua retórica agressiva ou sinalizará pelo término do ciclo de alta de juros.

Com a provável decisão, a taxa dos Fed funds, como é conhecido o juro básico americano, chegará à faixa de 4,5% a 4,75%. Desde o início do aperto monetário, em março de 2022, o Fed já aumentou os juros em mais de 4 pontos percentuais, o que tem pressionado a atividade e inflação e reforçado o argumento pelo fim do ciclo de altas de juros.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

As expectativas majoritárias dos mercados hoje, segundo calcula o CME Group, é por juro terminal de 5%, após mais duas altas de 0,25 ponto (em fevereiro e março). Investidores precificam ainda ao menos um corte de juros de 0,25 ponto no segundo semestre de 2023.

Em entrevista ao Valor, o CIO da XP Private, Artur Wichmann, discorda da leitura de que o Fed cortará juros já este ano e prevê uma postura cada vez mais dependente dos indicadores econômicos à frente.

Últimas em Economia

“Os dirigentes do Fed estão pensando com muito cuidado o que incluir no comunicado. Até podem sinalizar que parte importante do ajuste nos juros está feita, mas sem dizer que está perto do final” do aperto monetário, argumenta Wichmann.

Para ele, dizer que o aperto monetário está se encerrando poderia ser um movimento contraproducente para o Fed, já que promoveria um “afrouxamento das condições financeiras” por meio de queda nos rendimentos de longo prazo dos Treasuries, o que “nega o efeito” da alta de juros.

Para o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, o Fed seguirá com seu aperto monetário nas próximas reuniões e o juro básico nos EUA deve atingir o patamar de 5,25%. Na contramão do que espera o mercado, cortes devem ocorrer “apenas no final de 2024”, projeta, em comentário enviado ao Valor.

Wichmann também prevê que o Fed sinalize pela continuação do aperto monetário ao ritmo de 0,25 ponto por reunião, mas agora de acordo com a necessidade indicada pelos dados de inflação, atividade e emprego dos EUA.

Saiu o índice de custo de emprego dos EUA, que subiu 1% no quarto trimestre ante o terceiro, reforçando a tendência de desaceleração ao longo do ano passado. O dado tem ganhado relevância à medida que os dirigentes do Fed observam o impacto do mercado de trabalho apertado sobre a inflação.

Diante da desaceleração constante do indicador, o temor de que ocorra uma espiral inflacionária provocada pelos salários tornou-se “irrealista”, e por isso o Fed deve encerrar os aumentos dos juros com a alta desta semana, opina o economista-chefe para EUA da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson.

Economista do Julius Baer, David Mayer concorda com a previsão de Shepherdson e também espera uma pausa do aperto monetário a partir de março. “O declínio na atividade de setores sensíveis aos juros, como o investimento residencial, confirma que a política monetária do Fed pode ser considerada restritiva. No futuro, será mais difícil justificar novos aumentos”, diz ele, em relatório.

Já os economistas Michael Pugliesi e Sarah House, do Wells Fargo, são mais cautelosos ao lembrarem que o custo de empregos nos EUA ainda apresenta alta anualizada de 4%, um ponto percentual acima do que seria consistente com a meta de inflação do Fed. “Acreditamos que mais desaceleração será necessária antes que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se sinta confortável em declarar vitória sobre a inflação”, avaliam.

Ainda que sugiram um Fed mais brando, os indicadores recentes ainda não são suficientes para que a previsão de corte de juros do mercado seja compartilhada pela maioria dos analistas. Em entrevista recente ao Valor, o chefe global de estratégia do Credit Suisse, Philipp Lisibach, ponderou que alguns pontos da inflação americana – como o setor de serviços – ainda requerem atenção e arriscam realimentar os preços em 2023.

Para Wichmann, da XP Private, esse descasamento entre as expectativas do mercado e as sinalizações do Fed se dá por “memória muscular”. Para ele, “os mercados americanos trabalham com a cabeça do período entre 2009 e 2010, quando a inflação não era um problema de verdade”.

A realidade de inflação persistente não existe nos EUA desde a década de 1970, quando um choque de preços no setor de energia se espalhou por toda a economia por meio de salários mais altos, lembra Wichmann. “Boa parte dos investidores nos EUA leu sobre inflação, mas nunca operaram sob esse cenário”.

Por isso, o economista espera que os preços de ativos nos EUA passem por uma correção já no primeiro semestre deste ano, à medida que o mercado se convencer de que o Fed manterá os juros altos por mais tempo.

Para as ações, um recuo de 10% a 15% do S&P 500 está “dentro do factível”, segundo Wichmann. Já os rendimentos longos dos Treasuries terão que subir, a menos que a economia americana mergulhe logo em uma recessão, avalia.

Diferente de Wichmann, a avaliação de Lisibach, do Credit Suisse, é de que haverá uma reprecificação “construtiva”, sem a necessidade de um movimento forte de venda de ativos. Segundo ele, é surpreendente a forma como o Fed tem guiado os mercados recentemente, e algo similar deve ocorrer nos próximos meses.

Por Gabriel Caldeira

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


VER MAIS NOTÍCIAS