O que os ‘faria limers’ consomem de cultura

Séries, rock, música eletrônica, anime, poesia e exposições estão entre as áreas destacadas por profissionais do mercado financeiro

Walter Maciel formou a banda Stock’n’Roll Pickers durante a pandemia. Na crise de 2008, já tinha criado a banda Subprimes — Foto: Silvia Costanti/Valor
Walter Maciel formou a banda Stock’n’Roll Pickers durante a pandemia. Na crise de 2008, já tinha criado a banda Subprimes — Foto: Silvia Costanti/Valor

Durante a fase mais aguda da pandemia, Walter Maciel, CEO da gestora de recursos AZ Quest, recorreu à música para quebrar a pesada rotina imposta pelo isolamento. Ele decidiu se juntar com amigos do mercado financeiro para falar de ações e também de rock. “Eu já participava do podcast Stock Pickers para conversar sobre finanças, mas, no meio da pandemia, a gente decidiu fazer algo diferente”, conta o gestor roqueiro. Nascia ali a banda Stock’n’Roll Pickers.

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A banda ganhou notoriedade. Além de shows virtuais para colegas do mercado, os integrantes chegaram a fazer apresentações em bar quando a pandemia deu uma arrefecida. As apresentações musicais não foram um fato isolado na vida de Maciel. Em 2008, em plena crise global do mercado financeiro, o gestor tinha criado a banda Subprimes para desestressar. “Desconfio bastante de quem não tem uma vida pessoal equilibrada. A profissão é importantíssima, mas a vida é mais ampla que isso”, diz Maciel, que é carioca, mas mora em São Paulo há mais de 30 anos.

Na Faria Lima, principal corredor financeiro do país, e no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro onde estão concentradas as grandes gestoras de investimentos, o senso comum pode até ser de que banqueiros, gestores e executivos do mercado financeiro são muito mais ligados em planilhas e apresentações de PowerPoint, estereótipo carregado com tintas fortes em filmes como “O Lobo de Wall Street” ou séries como “Billions”, do que em programas culturais.

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Mas uma outra vida, para parte dos gestores da Faria Lima e do Leblon, pulsa fora das telas do mercado de ações e reverbera não só na música, mas também nas artes plásticas, na literatura e na cultura pop, seja em maratonas de séries de streamings ou em coleções de mangás.

Aos 53 anos e com uma carreira consolidada à frente da AZ Quest, Maciel sempre recorre à guitarra e ao violão quando precisa relaxar, um talento desenvolvido na infância. “Toco violão e guitarra e sou afinado. Faço a guitarra base ou violão para acompanhar a voz.”

Apesar de botar fé em seu talento musical, o gestor nunca teve coragem de gravar seu próprio disco. Em seus shows para os amigos e para o mercado, toca de tudo. “Minha banda favorita é The Beatles, mas gosto de rock pesado: Alice in Chains, Foo Fighters, Nirvana, Led Zeppelin e Stones. Também gosto de rock nacional dos anos 1980.”

“A profissão é importantíssima, mas a vida é mais ampla que isso”, diz Walter Maciel, o gestor roqueiro da AZ Quest

O talento musical é compartilhado pela família. Sua mulher, Daniela, e os filhos do casal também são roqueiros. Mas nem todo dia é dia de rock para Maciel. “Sou cinéfilo e leio bastante. Mas, para a decepção do mercado, não gosto de livros técnicos. Tento fugir de leitura voltada para o mercado financeiro. Gosto de livros sobre política internacional, esportes e biografias. Leio tudo do [jornalista britânico] Paul Johnson.”

A música também é um refúgio para Frederic de Mariz, diretor-executivo e especialista em critérios ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) do UBS BB. Mariz estudou violoncelo dos 4 aos 18 anos, período em que participou de orquestras infantojuvenis. A relação com o instrumento prossegue até hoje, mas, agora, somente para consumo interno. “Ainda toco, mas hoje é uma coisa muito pessoal”, diz.

Filho de pais portugueses que foram como exilados políticos para Paris, Mariz mora no Brasil há nove anos. Antes, estudou em Nova York, na Universidade Columbia, onde dá aulas para os cursos de pós-graduação e mestrado da Escola de Administração Pública. E encontrou em São Paulo um circuito cultural que, segundo ele, é bastante desenvolvido, embora precise ser mais divulgado.

“São Paulo tem muita coisa acontecendo para quem se dedica e procura, tanto em termos de música como de arte moderna e arte contemporânea”, afirma. Com forte ligação com a arte, Mariz faz contribuições anuais para o projeto de reconstrução do Teatro Cultura Artística, destruído em um incêndio em 2008.

Para o executivo, a cidade tem sempre na agenda boas exposições, frequentemente abrigadas em locais como Instituto Tomie Ohtake, Galeria Triângulo, Pinacoteca ou Instituto Moreira Salles. “O eixo Centro-Paulista é super-rico”, afirma.

A exposição interativa do pintor brasileiro Candido Portinari, no MIS Experience, impressionou Luiz Carlos Trabuco Cappi, 70 anos, presidente do conselho de administração do Bradesco. “Fui em abril e tive uma imersão pelas mãos do filho dele, o João Candido, que guiou a visita”, diz o executivo.

Ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga é um apreciador de séries e documentários. “Também leio muito, de tudo”

Trabuco se define “como um cidadão latino-americano típico”. Dito isso, explica que pela origem simples de sua família, em Marília, interior de São Paulo, teve de trabalhar muito cedo, aos 10 anos de idade. Com 12 anos, ele já tinha carteira assinada em uma tecelagem. “Eu tive de trabalhar para ajudar a pagar as contas e ser alguém na vida.”

O executivo diz que desde muito cedo, aos 9 anos de idade, descobriu a biblioteca da cidade, que se tornou o seu refúgio para leitura. “A leitura é um eixo central da minha vida fora do trabalho.” Trabuco lê de tudo.

Graduado em filosofia, ele lembra que foi instigado a explorar o período da Idade Média por um dos seus professores logo no começo da faculdade. “Lembro da recomendação de um livro [‘O declínio da Idade Média’, de Johan Huizinga], que ele fez para nós. Saí de Marília de ônibus na sexta-feira à noite para buscar uma edição portuguesa do livro no centro de São Paulo. Foi uma viagem inesquecível. Depois de comprar o livro, para passar o tempo antes de voltar a Marília no sábado à noite, fui assistir ao filme ‘A Filha de Ryan’ no cinema.”

Outro prazer de Trabuco é escutar rádio de diversas nacionalidades. Em seu tempo livre, gosta de ouvir emissoras de forma aleatória do Canadá e da Finlândia, por exemplo. “Me dá uma conexão [com o mundo]. Quando eu tive de enfrentar uma questão de doença familiar, eu ouvia BBC e até radionovelas.”

Óperas também estão entre os programas culturais do executivo, principalmente no Theatro Municipal de São Paulo. Entre as mais recentes obras, viu “Navalha na Carne”, de Leonardo Martinelli, adaptação da peça de Plínio Marcos. “Para quem viveu os anos 1960 intensamente como eu vivi, eu pude assistir à peça de Plínio Marcos e, recentemente, ver a ópera inspirada em suas obras. Foi muito interessante.”

Trabuco também gosta de fazer caminhadas com sua mulher, Lucília Diniz, para descobrir a cidade de São Paulo. Fez a trilha da estrada de Santos, saindo de São Bernardo do Campo (ABC), e conta que, ao completar 50 anos no Bradesco, deu um passo mais ousado: fez o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

A arte é uma forma de extravasar, ter inspiração e compreender contextos, diz Alexandre Cruz, da Jive Investments

Mas ele também não nega que é fã de prazeres mais mundanos, sobretudo em tempos de pandemia. Ele adora maratonar séries e dá dicas: “Dopesick” (que discute opioides), “WeCrashed” (que fala da ascensão e queda da WeWork) e “The Dropout” (que fala da fraude da empresa de saúde Theranos, criada pela americana Elizabeth Holmes).

Séries e documentários também cooptaram a atenção do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos. “Assisti recentemente ao ‘Lobby do Batom’ [que narra a luta de um grupo de mulheres pelos direitos femininos], que minha irmã Renata [Fraga] produziu. É sensacional. O documentário do Ken Burns sobre Benjamin Franklin é muito bom”, diz Fraga, em entrevista por e-mail. “Também leio muito, de tudo. Agora estou no ‘The Great Experiment’, de Yascha Mounk, uma fonte de otimismo, coisa rara nesses dias.”

As séries sobre a WeWork e sobre a ascensão e queda da americana Elizabeth Holmes, que fundou a Theranos, também estão entre as preferidas de Alessandro Zema, presidente do Morgan Stanley no Brasil e corresponsável pela divisão de banco de investimento para América Latina. Ele também costuma maratonar séries nos fins de semana.

E, por força do ofício, ele também gosta de ler livros que contam histórias de empresas – as que deram certo e as que fracassaram. Mas Zema passa longe do estereótipo do executivo de banco que passa 24 horas por dia e sete dias por semana só respirando trabalho.

Primeiro, ele se define como um torcedor doente do Atlético-MG. E, como todo bom torcedor, sempre tenta ver o seu time jogar quando pode, fazendo bate e volta nos fins de semana com os filhos e, às quartas-feiras, quando dá.

Zema também tenta conciliar as viagens de trabalho no exterior para ver exposições, quando sua agenda permite. Em maio, durante uma viagem a Nova York, foi ver a exposição de Jean-Michel Basquiat e visitar o Museu de Arte Moderna (MoMA).

Helena Margarido apresentou os mangás à filha. “Queria algo fora do padrão, que saísse um pouco daquele roteiro sobre princesas”

O executivo conta que, quando morou na Inglaterra – ele viveu por lá dez anos -, costumava visitar com muita frequência os museus de Londres. Entre os seus preferidos estão Tate Modern e National Portrait Gallery. “A vida cultural lá é extremamente rica e, diferentemente do estereótipo de que a comida da Inglaterra é ruim, há restaurantes fantásticos por lá. Fora que você está a uma hora ou duas das principais cidades da Europa.”

Uma das tradições da sua família é visitar Londres uma vez por ano, tão forte é a ligação deles com a cidade. Neste ano, contudo, vai mudar o roteiro. Ele, sua mulher e seus três filhos vão para o Japão.

Apreciador de artes plásticas, Zema é um aficionado por arte cinética, uma corrente que trabalha com o movimento, real ou ilusório. “Eu acompanho mais os artistas latino-americanos e tem vários nomes que eu adoro, como os venezuelanos Carlos Cruz Diez, Dario Peres-Flores, Jesus Raphael Soto, e também o brasileiro Abraham Palatnik e o argentino Julio de Parc.”

Zema lê e pesquisa tudo sobre a carreira deles e diz que a arte cinética é uma de suas paixões. Ele se define como um pequeno colecionador de seus artistas preferidos.

A pandemia reduziu as viagens corporativas, mas o executivo diz que o trabalho remoto foi mais intenso nesse período. “Eu adoraria dizer que aprendi uma língua nova, fiz um curso de cerâmica, mas trabalhamos muito nesse período.” No ano passado, o mercado de capitais teve um dos seus melhores momentos com ofertas de ações.

A arte é uma forma de extravasar, ter inspiração e compreender contextos, diz Alexandre Cruz, sócio-fundador da Jive Investments. E também é um refúgio para as pessoas que trabalham com o estressante cotidiano do mercado financeiro. “A música é importante para entrar no clima. A gente descobre muito com ela”, diz. Logo pela manhã, para tomar café com a família, Cruz costuma colocar bossa nova.

Depois de surfar – o executivo costuma “pegar onda” na praia de Iporanga, no Guarujá -, o som é o samba. E antes de uma reunião importante, Cruz gosta de escutar heavy metal. Mas há espaço para músicas mais introspectivas, próprias para os momentos em que algo não saiu bem no trabalho ou na vida pessoal. “Você não tem que fugir, tem que viver a tristeza”, diz.

Mas rock é, provavelmente, o estilo preferido do executivo, que esteve no começo de maio no show da banda Metallica, e nas recentes edições do Rock in Rio e Lollapalooza. Para ampliar essa trilha sonora diária, Cruz assina diferentes serviços de streaming de música e acompanha a produção de diferentes DJs. Uma das descobertas recentes é Ronis Paixão, com influência deep e tech house. “Respeito muito quem faz curadoria”, diz.

Seguir a banda preferida está entre os prazeres de Gustavo Miranda, responsável pela área de banco de investimentos do Santander. Ele foi a Chicago para ver o U2 e a Nova York para levar a mulher ao show de Beyoncé. Fã de tênis, Miranda confessa que já chegou a “stalkear” o suíço Roger Federer em viagens nas quais aliava trabalho e lazer. “Gosto muito do Federer e queria vê-lo jogar antes dele se aposentar.”

Miranda chegou a comprar ingressos para torneios em que Federer iria, mas daí vinha a frustração porque o tenista se machucava. Depois de várias tentativas, conseguiu ver o tenista jogar em Chicago.

Com a pandemia, Miranda tem sido obrigado a se contentar mesmo com séries nos streamings e confessa que consegue relaxar com “um programa de nerd”, que é ouvir podcasts do “Financial Times” e do “Wall Street Journal”, na ida e na volta ao trabalho. “Mas, quando eu chego em casa, prefiro histórias mais leves que me ajudam a relaxar em tempos difíceis.” E é aí que vale tudo: de filmes de zumbis até “Game of Thrones”.

Na Dynamo, uma das maiores gestoras de recursos do país, com sede no Leblon, a formação humanista e cosmopolita da pessoa vai muito além do projeto financeiro da casa de investimento, explica o sócio-fundador Luiz Orenstein.

“A gente apoia muitos projetos culturais, mas não com objetivo de promover o nosso nome”, diz. Entre eles, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio. A contrapartida é pedir aos curadores que deem cursos na Dynamo. Discussões sobre filmes e literatura são comuns quando a casa de investimento apoia uma dessas iniciativas.

Orenstein, que já fez parte da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem uma vida cultural intensa fora da gestora carioca. “A minha principal dedicação cultural é a literária. Eu leio constantemente e, concomitantemente, cinco livros.”

As escolhas literárias de Orenstein seguem sempre uma lógica: “Eu tenho sempre um livro de poesia brasileira e não brasileira. Ficção e não ficção e textos religiosos, embora seja agnóstico.” À época desta entrevista, estava lendo ao mesmo tempo o poeta polonês Adam Zagajewski e a poetisa brasileira Julieta Bárbara; a ficção “Visitation”, de Jenny Erpenbeck, e a não ficção da pensadora Simone Weil; além de Robert Alter, sobre o Velho Testamento.

Artes plásticas e exposições sempre estão na programação de Orenstein dentro e fora do país. Um dos conselheiros da revista “piauí”, o gestor também é leitor de jornais e revistas daqui e de fora.

De família judaica, Orenstein teve a tradição da leitura e do teatro incentivada desde cedo. Ele até chegou a se arriscar nos palcos – fez parte do tablado de Maria Clara Machado, com forte tradição no Rio de Janeiro. Mas teve de abrir mão para seguir uma carreira que desse um retorno financeiro. “Na minha geração, durante a ditadura, talvez o lugar mais livre era o teatro.”

Orenstein gosta de música em geral. “A essa altura da vida, é mais fácil estar numa sala de concerto do que num estádio para ver show de rock.”

Para o gestor, é lamentável que o atual governo não seja incentivador da cultura. “A cultura não é só uma maneira de se educar, mas é a identidade de um povo. Quando você restringe [a manifestação cultural], é uma forma de deformar a personalidade do povo brasileiro. É muito preocupante.”

Quando foi morar em Nova York, aos 21 anos, Fabiana Bozzano, sócia da WHG, tornou-se uma consumidora de arte voraz. Entrou em um curso de fotografia, se apaixonou e virou frequentadora assídua do museu Fotografiska.

Paralelamente, valendo-se da proximidade de sua casa do Lincoln Center, passou a assistir a espetáculos e ensaios exibidos no local. Inicialmente, seu interesse era piano – do qual ela aprendeu a gostar durante as aulas de balé, na infância. Mas logo conheceu a ópera, que se tornou seu maior interesse. “Minha predileta é ‘Aída’”, diz, referindo-se à obra de Giuseppe Verdi.

Com tantas possibilidades de espetáculos, Bozzano, hoje com 37 anos, conta que hesitou em voltar para São Paulo quando decidiu se casar, em 2015. “Mas meu marido me convenceu de que não ficaríamos desassistidos em termos de cultura em São Paulo, o que de fato se provou uma verdade”, afirma ela, que tinha ingresso para a montagem de “Aída” que o Municipal de São Paulo acaba de apresentar, mas não pôde comparecer.

Sob influência do marido, admirador de jazz, ela frequenta casas como Blue Note e Baretto. E, para ouvir música clássica, vai à Sala São Paulo, onde já arriscou, inclusive, levar a filha de 4 anos para um programa da Orquestra Villa-Lobos que executou os temas dos filmes da Disney. “Fiquei um pouco receosa inicialmente porque ela é muito nova, mas a experiência foi ótima, e ela me pediu para voltar”, diz.

Arte contemporânea é outro interesse de Bozzano, que se dedica a pesquisar novos artistas brasileiros. Aos 25 anos, conta, ela comprou seu primeiro quadro, da artista Marcia de Moraes. E, desde então, vem formando seu acervo pessoal, que inclui obras de Rebeca Carapiá e Carlito Carvalhosa. “Eu gosto de comprar artistas que estão começando, como se fosse um investimento, mas a verdade é que eu nunca pensei em comprar para vender”, afirma.

Fã de ópera, Helena Margarido, analista de criptomoedas da Monett, tem uma formação cultural bastante clássica. Com o pai, ouvia músicas de Bach desde os 4 anos de idade. Mas foi com sua filha Elis que ela descobriu “Naruto”, série de mangá escrita e ilustrada por Masashi Kishimoto. Margarido conta que ela mesma apresentou a versão animada dos quadrinhos à menina, à época com 5 anos, com a intenção de oferecer algum conteúdo alternativo ao mais consumido pelas crianças daquela faixa etária.

“Queria algo fora do padrão, que saísse um pouco daquele roteiro sobre princesas”, afirma. O sucesso foi tamanho que a dupla logo esgotou as temporadas disponíveis na Netflix e decidiu assinar um serviço de streaming especializado em animes, o Crunchyroll. A programação acabou virando quase um pacto familiar. “Eu assisto sozinha, às vezes, a alguns episódios, mas a Elis considera uma traição”, brinca.

Para Margarido, a beleza do mangá vem do fato de que, em geral, as histórias seguem o padrão da “Saga do Herói”, estudado pelo escritor Joseph Campbell, narrativa composta por 12 etapas que costumam se repetir nas histórias. “Naruto” tem sua origem no mangá, e é o anime favorito dela. “Acho que são histórias que trazem valores de amizade, companheirismo, e saem um pouco daquele padrão açucarado que muitas histórias infantis carregam”, diz. E é com orgulho que a executiva conta que hoje, aos 9 anos, Elis já diz que quer ser “ninja”, em vez de princesa. “Muito melhor, porque princesa ela nunca vai ser”, diz.

Por Lucinda Pinto e Mônica Scaramuzzo, do Valor Econômico, de São Paulo.

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