OCDE: Guerra provocará alta de preços no mundo todo e derrubada do PIB global
Entidade fez estimativas baseando-se no pressuposto de que os choques nos mercados financeiros e de commodities observados nas duas primeiras semanas do conflito persistirem por pelo menos um ano
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que a guerra da Rússia contra a Ucrânia vai fazer as famílias no mundo inteiro pagarem o preço e os negócios serão atingidos fortemente. Por suas projeções, a guerra poderá resultar numa queda de mais de 1 ponto percentual (p.p.) no Produto Interno Bruto (PIB) mundial e num aumento da inflação dos preços ao consumidor global em cerca de 2,5 p.p. no primeiro ano após o início do conflito, se as turbulências nas cotações das commodities e nos mercados financeiros persistirem.
A inflação cresce mais nos emergentes, mas os que são exportadores de commodities poderão ter margem maior de manobra para amortecer os choques de preços mais elevados.
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A entidade sediada em Paris previa até antes da guerra que a economia mundial poderia crescer 4,5% neste ano e 3,2% no ano que vem. O secretário-geral Mathias Cormann e a economista-chefe Laurence Boone destacaram que a magnitude do impacto econômico do conflito é altamente incerta, e dependerá em parte da duração da guerra e das respostas políticas, mas o que está claro é que a guerra resultará em uma baixa substancial a curto prazo no crescimento global e em pressões inflacionárias significativamente mais fortes.
A OCDE fez estimativas baseando-se no pressuposto de que os choques nos mercados financeiros e de commodities observados nas duas primeiras semanas do conflito persistem por pelo menos um ano, e incluem uma recessão profunda na Rússia, com a produção diminuindo em mais de 10% e a inflação aumentando em cerca de 15 p.p. no país.
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O impacto dos choques difere de região para região, com as economias europeias sendo coletivamente as mais afetadas, particularmente aquelas que têm uma fronteira comum com a Rússia ou a Ucrânia. Isso reflete aumentos maiores dos preços do gás na Europa do que em outras partes do mundo e a força relativa das ligações comerciais e energéticas com a Rússia antes do conflito.
Conforme a OCDE, as economias avançadas na região Ásia-Pacífico e nas Américas têm laços comerciais e de investimento mais fracos com a Rússia, e algumas são produtoras de commodities, mas o crescimento também é atingido pela demanda global mais fraca e pelo impacto dos preços mais altos sobre a renda e os gastos das famílias.
Os resultados do crescimento nas economias emergentes refletem um equilíbrio entre uma produção mais forte em algumas economias produtoras de commodities e declínios mais profundos nas principais economias importadoras das matérias-primas, e o impacto adverso de maiores prêmios de risco de investimento. Os preços mais altos de alimentos e energia também impulsionam mais a inflação nos emergentes do que nas economias avançadas.
Ainda segundo a OCDE, a política monetária reage ao aumento da inflação em todo o mundo, com taxas de juros de política aumentada em pouco mais de 1 ponto percentual em média nas principais economias avançadas e 1 ponto percentual nas principais economias de mercado emergentes.
Antes do início da guerra, a estimativa da OCDE era de que a situação macroeconômica global voltaria à normalidade ao longo de 2022-23, após a pandemia de covid-19. O crescimento global para 2023 tinha sido projetado para retornar a taxas similares às prevalecentes no período pré-pandêmico imediato.
Também a maioria das economias da OCDE deveria voltar ao pleno emprego até 2023, e a inflação deveria convergir para níveis próximos aos objetivos políticos, embora mais tarde e a partir de níveis mais altos do que o esperado anteriormente na maioria dos países.
Além disso, a expectativa era de que as políticas econômicas se normalizassem, com adaptações monetárias excepcionais sendo progressivamente removidas e medidas fiscais de emergência, tomadas em resposta à pandemia, eliminadas gradualmente.
Agora, diz a OCDE, embora a Rússia e a Ucrânia sejam relativamente pequenas em termos de produção, são grandes produtores e exportadores de alimentos, minerais e energia essenciais. A entidade lembra que a guerra já resultou em grandes choques econômicos e financeiros, particularmente nos mercados de commodities, com os preços de petróleo, gás e trigo disparando.
Nesse cenário, um apoio fiscal “bem projetado e cuidadosamente direcionado” poderia reduzir o impacto negativo no crescimento com apenas um pequeno impulso extra à inflação. A OCDE suere que, em alguns países, a margem fiscal poderia ser financiada pela “tributação de ganhos inesperados”.
A entidade sediada em Paris avalia que a margem para apoio fiscal adicional varia consideravelmente entre economias emergentes e países em desenvolvimento, com muitos enfrentando difíceis “trade-offs” entre apoiar a renda e garantir a sustentabilidade da dívida e a confiança dos investidores.
Os preços mais altos de commodities devem, no entanto, reforçar a receita fiscal nos países exportadores de commodities, proporcionando alguma margem de manobra para amortecer o choque dos preços mais altos de alimentos e energia sobre a renda familiar.
A OCDE considera que, diante de um novo choque negativo de duração e magnitude incertas, a política monetária deve permanecer focada em garantir expectativas de inflação bem ancoradas. E que a maioria dos bancos centrais deve continuar seus planos anteriores à guerra, com exceção das economias mais afetadas, “onde uma pausa pode ser necessária para avaliar plenamente as conseqüências da crise”.
No curto prazo, a OCDE considera que muitos governos precisarão amortecer o golpe dos preços mais altos da energia, diversificar as fontes de energia e aumentar a eficiência sempre que possível.
Para os alimentos, a OCDE acha que o aumento da produção nos países da entidade, a abstenção do protecionismo e o apoio multilateral à logística ajudarão os países mais afetados por uma interrupção no fornecimento da Rússia e da Ucrânia.
Para a OCDE, a guerra destaca também a importância de minimizar a dependência da Rússia em relação à importação de energia.
Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico