Onda de calor? Pesquisa revela os efeitos das mudanças climáticas nas fazendas do mundo

Estudo mostra que os impactos foram sentidos de forma mais aguda no Brasil, Índia e Quênia

Área de plantação de trigo. Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux
Área de plantação de trigo. Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux

Um levantamento contratado pela Bayer e conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC com 800 produtores do Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos revela que 71% dos agricultores ouvidos já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades.

A pesquisa também aponta que 76% deles estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para seu negócio.

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Em coletiva de imprensa realizada com veículos dos países envolvidos no levantamento, o presidente global da divisão agrícola da Bayer, o brasileiro Rodrigo Santos, explicou que apesar de já haver diversas publicações focadas nos eventos de calor, chuva ou seca extrema e outros efeitos das alterações do clima, havia necessidade de ouvir dos próprios produtores rurais sobre o que pensam e já estão vivendo em suas fazendas em decorrência do novo cenário climático.

Daí a decisão de realizar a pesquisa “Farmer Voice”.

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“Os agricultores já estão sentindo os efeitos adversos das mudanças climáticas em seus campos e, ao mesmo tempo, têm um papel central no enfrentamento desse desafio. É por isso que é tão importante fazer com que a sua voz esteja em primeiro plano”, disse Santos.

A Farmer Voice questionou os produtores sobre quais eventos climáticos eles vivenciaram nos últimos anos com mais intensidade em suas propriedades do que em anos anteriores: 70% responderam que já sofreram algum tipo de efeito de altas temperaturas e secas; 45% mencionaram muito altas temperaturas; 35% citaram longos períodos de temperaturas altas; e 33%, secas.

Outros efeitos das alterações climáticas apontados pelos entrevistados foram mudanças de um extremo a outro (31%), ventos muito fortes (27%), chuvas com grande intensidade ou inundações (24%), temperaturas muito baixas (14%) e longos períodos de baixas temperaturas (12%).

Somente 10% deles disseram que não passaram por nenhuma das situações acima.

A pesquisa revela ainda que os efeitos foram sentidos de forma mais aguda no Brasil, Índia e Quênia. O levantamento mostra que os produtores já registraram perdas econômicas nos últimos dois anos decorrentes das mudanças do clima.

Em média, pelas estimativas dos entrevistados, sua renda diminuiu 15,7% no período, sendo que um em cada seis identificou perdas de receita superiores a 25%. Também foi reportada, por 73% dos agricultores ouvidos, aumento da pressão de pragas e doenças nas lavouras.

A maioria dos produtores entrevistados, 84%, disse que já adota ou vai adotar medidas para reduzir o impacto ambiental da atividade agrícola e recuperar áreas naturais.

Questionados sobre quais práticas que reduzem emissões de gases de efeito estufa, de uma lista sugerida, eles já executam, 43% disseram que usam culturas de cobertura sobre as plantações; 37%, energias renováveis ou biocombustíveis nas operações; 33% empregam sementes inovadoras para diminuir aplicações de fertilizantes e agroquímicos; 25% usa alguma ferramenta digital que ajude a reduzir o uso de insumos agrícolas; 24% adotam o sistema do plantio direto; 22% participam de algum programa relacionado a captura de carbono.

Na outra ponta, 16% disseram que não pretendem adotar nenhuma medida a respeito.

Com a recorrência de eventos relacionados a mudanças climáticas, produtores já vislumbram mudanças na atividade agrícola. Questionados sobre quais alterações são esperadas, 40% disseram que devem começar a utilizar variedades mais resilientes a condições adversas; 39%, cultivar culturas diferentes; 38% trabalham com a perspectiva de perdas nas lavouras; 37%, com a perda de produtividade; 34% acreditam que haverá menos segurança no planejamento e mais volatilidade de preços; e 30% esperam aumento da pressão de pragas.

Apenas 3% têm expectativa de um aumento de renda proveniente da venda de créditos de carbono.

A pesquisa também buscou levantar quais medidas poderiam ajudar a aumentar a renda das fazendas. Entre três fatores apresentados que mais beneficiariam a atividade agrícola, o acesso a sementes e tecnologias desenvolvidas para enfrentar situações climáticas extremas foi colocado em primeiro lugar por 53% dos entrevistados; o acesso a defensivos melhores foi citado por 50% dos produtores; e melhores tecnologias de irrigação, por 42%.

Dentre os fatores que mais podem contribuir para ganhos de receita, a diversificação de culturas foi mencionada por 58% dos agricultores; inovação em sementes, biotecnologia e defensivos, por 57%; aumento de área plantada, 47%.

O sequestro de carbono e ganhos relacionados ao mercado de carbono receberam apenas 18% dos votos.

“Ao olhar para a pesquisa, nos demos conta de que precisaremos desenvolver mais variedades resilientes (a eventos climáticos). Se pensarmos na nossa atuação nos últimos 20 anos, nosso foco foi ajudar os produtores a produzirem mais, porque havia uma grande necessidade; mas olhando para a frente, temos de pensar em como produzir mais e ao mesmo tempo aumentar a resiliências das culturas”, disse Santos, respondendo ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) durante a coletiva de imprensa.

“Ao observar os eventos climáticos deste ano e que ainda estamos vendo em alguns países, vemos que é muito difícil prever os impactos. Podemos tentar minimizar alguns, mas os produtores terão de lidar no futuro com esses eventos; poderão minimizar seus efeitos, mas não evitá-los”, continuou.

A pesquisa buscou captar também qual é o sentimento dos produtores em relação ao futuro: 71% deles se disseram otimistas em relação ao futuro da atividade agrícola, sendo que 37% se declararam muito otimistas e 34%, “um tanto” otimistas.

Além disso, 88% afirmaram que se consideram essenciais para garantir a segurança alimentar mas não recebem o reconhecimento devido.

Entre os 800 entrevistados, 46% disseram que desejam transferir a fazenda para a próxima geração da família, 24% já têm planos concretos para isso e 19% ainda não pensaram no assunto.

Desafios econômicos ainda falam mais alto

Apesar do foco na percepção dos produtores sobre as mudanças climáticas, a Farmer Voice identificou que os desafios econômicos são a maior prioridade dos produtores nos próximos três anos.

Mais da metade (55%) deles apontou os custos de fertilizantes entre os três principais desafios do setor, seguidos pelos custos de energia (47%), volatilidade de preços e renda (37%) e o custo com a proteção de culturas (36%).

A importância dos custos dos fertilizantes é mais evidente no Quênia, na Índia e na Ucrânia, conforme a pesquisa.

A volatilidade climática ou eventos extremos aparece depois destes fatores, apontada por 35% dos entrevistados.

Na Ucrânia, 70% dos participantes indicaram os custos com fertilizantes como um dos três principais desafios, mostrando as consequências da guerra para a agricultura do país.

O Farmer Voice foi conduzido de forma independente pela Kekst CNC e os produtores foram selecionados aleatoriamente em cada mercado.

Segundo a Bayer, os entrevistados não foram informados que a pesquisa estava sendo realizada em nome da empresa até que fosse concluída.

As entrevistas ocorreram entre abril e julho de 2023. Outros 2.056 pequenos produtores rurais na Índia participaram com um questionário reduzido, entre maio e junho de 2023.

Entre eles, 97% disseram que o clima mudou nos últimos anos, 82% afirmaram ser otimistas quanto ao futuro, 42% esperam redução de produtividade nos próximos anos em virtude das mudanças climáticas e 60% informaram que o que mais beneficiaria sua propriedade seria ter acesso a tecnologias digitais e melhores defensivos agrícolas.

Com informações do Estadão Conteúdo

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