PEC Eleitoral pode aumentar inflação e anular efeito da queda do ICMS sobre combustíveis
Ampliação do valor do Auxílio Brasil vai estimular consumo, pressionando os preços; risco fiscal da proposta também tende a elevar o dólar
Os R$ 41,2 bilhões de gastos previstos com a proposta de emenda constitucional (PEC) Eleitoral, aprovada no Senado na semana passada, devem pressionar a inflação deste e do próximo ano. Além disso, devem anular o efeito no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da desoneração de impostos federais sobre combustíveis e a fixação de teto de 17% para a cobrança do ICMS sobre o produto. O índice acumula alta de 11,73% em 12 meses até maio.
Algumas casas que tinham revisado para baixo as previsões de inflação em 2022 após a aprovação de um teto para o ICMS para combustíveis, energia, telecomunicações e transporte coletivo começam a refazer os cálculos depois da aprovação da PEC, que prevê mais R$ 200 no Auxílio Brasil a 18 milhões de famílias, ajuda a caminhoneiros e taxistas, além de vale-gás.
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A Itaú Asset Management reduziu sua projeção para o IPCA deste ano de 9% para 7,7%, mas elevou a do próximo. Para 2023, “subimos nossa projeção de 5,3% para 5,5%, dado que uma possível compensação de menores impostos neste ano deverá suplantar a inércia mais baixa proveniente de um 2022 com menor inflação em relação às projeções anteriores”, justificou.
Segundo os analistas, a sinalização de aumento dos gastos, mesmo que de forma temporária, impacta a inflação de duas formas. Uma delas é o efeito sobre o câmbio, já que o aumento da percepção de risco fiscal tende a afastar investidores, o que valoriza o dólar.
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Na segunda-feira, a moeda americana fechou em R$ 5,3251, maior cotação desde janeiro. Esta valorização é repassada para os preços internos, principalmente de alimentos cotados em dólar, como soja e milho. Na outra ponta, há mais recursos para consumir, o que pode pressionar a demanda.
Juro maior
Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, o efeito deflacionário advindo da redução dos impostos sobre combustíveis não deve ser suficiente para compensar a inflação que virá decorrente das medidas de estímulo.
“Esses recursos vão ser direcionados para pessoas que têm renda muito baixa. Ele vai virar gasto e uma vez que ele vira gasto, ele é despejado diretamente na economia. Isso se reproduz em inflação.”
Na CM Capital, o IPCA de 2022 foi revisado de 9,3% para 8,5% após a redução do imposto sobre os combustíveis. Porém, depois da PEC Eleitoral, voltou a elevar a previsão para 9,17%. Para 2023, foi mantida em 5%.
O economista-chefe do ModalMais, Felipe Sichel, argumenta que o imposto menor já funciona como uma medida de estímulo, porque permite a realocação de custos de um determinado bem para outros.
“Você tem um impacto de baixar a inflação, como consequência do ICMS, mas de forma geral, está estimulando uma economia bastante aquecida, e isso é inflacionário.”
O ModalMais tem previsão de 7,5% para o IPCA ao fim deste ano e de 5,5% para 2023, com viés altista.
Sem contar as pressões externas como chama a atenção o economista-chefe do MB Associados, Sergio Vale, como a alta do petróleo.
“Prefiro não ajustar para baixo (projeção de IPCA) pelos riscos grandes que podemos ter no segundo semestre e em 2023. Decididamente, estamos caminhando para ter inflação acima de 5%, descolando cada vez mais da meta do Banco Central (até 4,75% em 2023)”, avalia ele.
O Banco Original subiu sua projeção de 5% para 5,5% para a inflação de 2023.
“É o Banco Central pisando no freio e a política fiscal, no acelerador”, disse Marcus Caruso, do Original.
A Itaú Asset revisou a previsão de juros para o fim de 2023 de 9,25% para 11,25% ao ano.
Por Vitor da Costa